• ‘Para perder de Bolsonaro, a gente tem que errar muito’, diz Flávio Dino

    Colocado por seu partido como nome para 2022, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), evita se apresentar publicamente como pré-candidato para não dificultar o debate com o centro. Ele criticou a decisão do petista Fernando Haddad de anunciar que passaria a viajar o país.

    Nos últimos dias, foram expostas a fragmentação na centro-direita e na esquerda. Há como reverter?

    É uma fragmentação típica de um período em que o velho já morreu e o novo não nasceu. Acho que essa fragmentação vai continuar por mais uns anos até a gente ter um redesenho do quadro partidário. Então, tem que aglutinar o que der.

    Diante desse quadro, o Bolsonaro tem hoje o projeto mais estruturado para 2022?

    Hoje, sim. Não há dúvida. É o adversário a ser batido. A força gravitacional do Poder Executivo é muito grande e ele hoje tem um projeto mais nítido. De 2018 para cá, ele perdeu muitos setores sociais, mas conseguiu manter um núcleo mais cristalizado, fiel, o que coloca a sua candidatura numa condição muito forte.

    A gestão Bolsonaro tem muitos problemas. A atração do poder em si é maior?

    Se a popularidade se depreciar mais, essa força atrativa diminui. Ele é um candidato forte, sólido, mas acho que perde a eleição. Para perder dele, a gente tem que errar muito. É um candidato que pode ir ao segundo turno, mas perde no segundo turno porque faz um governo muito frágil.

    Quando o Haddad se apresentou como candidato, o senhor escreveu que mais importante para derrotar Bolsonaro era ter programa e alianças. A escolha do nome deveria ficar para depois?

    Se bate o martelo muito precocemente, em se tratando de um partido importante como o PT, pode criar interdições ao debate. A chave da derrota do Bolsonaro em 2022 é atrair setores que foram lulistas até 2014, depois bolsonaristas, se descolaram e estão hoje numa posição de centro. Se diz que o candidato é fulano pode criar uma interdição nesse segmento que vai decidir a eleição. Por isso, colocar o nome na frente não é uma tática eleitoral que parece ajustada.

    Os partidos de esquerda já não têm seus programas?

    O que eu quero chamar a atenção é que o programa que existe não serve. Os programas políticos que nossos partidos têm não dão conta da largueza que precisa para atrair esses segmentos. Um exemplo: o nosso discurso clássico da esquerda não abrange os novos segmentos da classe trabalhadora, os precarizados, os uberizados. Tem que modular o programa porque a realidade mudou. O programa de 2022 não pode ser o mesmo do Lula em 2002. Não é verdade que programa já tem.

    Temos quatro pré-candidatos da esquerda: o senhor, Fernadno Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e o Guilherme Boulos (PSOL). É difícil uma união?

    Como ponto de partida não vejo como problema. O problema é se virar ponto de chegada.Se a esquerda fragmentar muito corre riscos, um perigo que não pode correr. A candidatura do Bolsonaro, embora marcada para perder, é forte. Provavelmente, vai para o segundo turno. Então, temos que fazer uma mesa, um seminário, um debate, e tentar aglutinar. Se não der em um nome, em dois. Mas quatro realmente acho um excesso, um erro monumental.

    Alguém está tomando uma atitude nesse sentido?

    Tomo o tempo inteiro. O PT (em sua festa de aniversário desta semana) fez uma sinalização. A Gleisi (Hoffmann, presidente da sigla) citou o meu nome, o do Boulos. Achei o gesto importante. A esquerda com quatro candidatos não pode ser o desenho na urna. Aí, realmente, eu não participo.

    O senhor tem conversado também com o centro?

    Sim. No segundo turno em 2018, esse campo mais liberal, de centro, foi todo com Bolsonaro. Ninguém foi com Haddad. E ninguém não é excesso retórico, é literalmente. Nem o Ciro foi. Então, não pode chegar na eleição de 2022 com o ambiente tal que se o segundo turno, por hipótese, for entre Ciro e Bolsonaro, ninguém apoia o Ciro. Essa tragédia deve ser evitada. Precisa distensionar.

    Se o Lula recuperar os direitos políticos, deve concorrer?

    Da minha parte, sim. Considero que ele teria uma precedência, mesmo tendo críticas de um lado ou de outro. Ele tem uma trajetória política mais forte. E geraria uma polarização quase que automática com o Bolsonaro. Não deixaria nem espaço para outras alternativas.

    Ele não afasta essa parcela do eleitorado de centro?

    Mas ele teria condições de atrair mostrando o que foi o governo dele, um governo amplo. Hoje, de fato há essa rejeição, mas por outro lado ele saiu com 80% de aprovação e fez um governo bem amplo, com líderes empresariais, do agronegócio, com muitos partidos. Ele teria condições de recompor. O Globo

    2 respostas

    Deixe uma resposta