Derrotado nas urnas no último dia 2, Ciro Gomes tem sofrido pressão da executiva nacional do seu partido, o PDT, para entrar em campo na reta final do segundo turno.
Como Ciro se recusa a declarar apoio explícito a Lula ou a se engajar na campanha, como fez Simone Tebet (MDB), os pedetistas estão tentando uma alternativa: convencer o correligionário a pelo menos gravar vídeos e fazer declarações públicas para reforçar a artilharia verbal contra a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Ou seja: se não pode ajudar Lula diretamente, que pelo menos Ciro parta para o ataque contra o Bolsonaro com sua peculiar verborragia. Ciro, porém, resiste. Ainda não superou a mágoa acumulada contra o ex-presidente e o PT.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e o secretário nacional da legenda, Manoel Dias, têm se empenhado na difícil missão de convencer Ciro a sair da profunda submersão em entrou após ficar em quarto lugar no primeiro turno.
Um dos argumentos dos aliados é o de que o confronto agora é entre a civilização e a barbárie —, Lula e Bolsonaro—, e que ele precisa se posicionar.
Mas Ciro é só ressentimentos com Lula por conta de uma série de motivos. O primeiro a ser lembrado em suas conversas com os correligionários é ter se sentido traído pelo PT em 2018.
Segundo ele, o partido havia firmado um compromisso de apoiá-lo para a presidência, caso Lula não pudesse concorrer à presidência.
Em setembro de 2018, o petista – que estava preso em Curitiba após ser condenado no âmbito da Lava Jato – teve a candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) . Mas o PT colocou Fernando Haddad para substituir Lula e Ciro concorreu sem o apoio dos antigos aliados.
Outro motivo pelo qual o pedetista não perdoa nem o PT e nem Lula foi a disseminação da fake news de que ele abandonou o Brasil no segundo turno ao viajar para Paris na reta final do pleito.
Na verdade, Ciro viajou entre o primeiro e o segundo turno, mas voltou para o Brasil a tempo de votar em Fernando Haddad (PT).
O ex-governador ainda se queixa do assédio do PT aos petistas para que abandonassem a sua candidatura e aderissem a Lula ainda no primeiro turno – nas palavras do ex-presidenciável, uma “ cooptação fisiológica”.
Para piorar as coisas, Ciro também culpa o PT pelo racha com os irmãos Ivo e Cid, que apoiaram o candidato de Lula no estado, Elmano de Freitas (PT), contra Roberto Cláudio (PDT). Elmano venceu a disputa já no primeiro turno.
Desde o final da apuração, quando amargou um quarto lugar, com apenas 3,6 milhões de votos ou 3,04% dos votos válidos, Ciro tem ficado recluso no Ceará.
Em 2018, ele teve o quádruplo de votos – 13,3 milhões (12,47% dos válidos).
Seu capital político desmoronou nesses quatro anos, mas a avaliação do QG petista é a de que ele ainda pode ajudar na eleição de Lula, uma vez que o confronto com |Bolsonaro deve ser resolvido por uma pequena diferença de votos.
Até agora, ele se limitou a gravar um curto pronunciamento em que afirma acompanhar a decisão do PDT – mas afirmou não acreditar que a “democracia esteja em risco nesse embate eleitoral”. É o contrário do que tem pregado o PT para convencer eleitores indecisos e moderados.
Diante de tanta mágoa e divergência, um interlocutor de Ciro acha que a única forma de convencê-lo a sair do imobilismo seria “o PT fazer mais gestos”. Quais gestos seriam esses? Aparentemente, nem o próprio Ciro sabe.
Procurados pela equipe da coluna, Lupi e Manoel Dias não se manifestaram. (O Globo)