Ministra da articulação política do governo Lula, Gleisi Hoffmann vem mantendo contatos frequentes com o líder do PL de Jair Bolsonaro na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ).
Além das conversas por telefone e encontros em eventos políticos, Gleisi e Sóstenes tiveram uma reunião privada no final de março, dias após ela assumir a Secretaria de Relações Institucionais.
O encontro, reservado e fora da agenda oficial, que ocorreu em clima amistoso e sinaliza uma guinada na estratégia de articulação política do Palácio do Planalto, aconteceu no apartamento funcional de Gleisi em Brasília e contou com a presença do líder do PT na Câmara, deputado Lindberg Farias (RJ), que é namorado da ministra.
À coluna, Sóstenes contou que foi convidado por Gleisi para a reunião e que eles não discutiram nada sobre o projeto da anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, principal pauta do bolsonarismo.
“Não falamos nada de anistia. Ela queria as pendências de emendas impositivas da bancada de 2023”, relatou o líder do PL de Bolsonaro. “Falo sempre com ela”, emendou Sóstenes.
O líder do PL diz ser amigo pessoal de Lindbergh, apesar das divergências políticas entre os dois. A amizade, avalia Sóstenes, facilita o contato entre ele e o líder do PT na Câmara.
Sóstenes, convidado inicialmente a comparecer ao Planalto recusou o convite por temer a repercussão negativa de uma visita pública à sede do governo. O parlamentar, entretanto, aceitou a proposta de um diálogo informal na residência da ministra, o que garantiu discrição e afastou os holofotes da conversa.
Segundo o deputado, o encontro foi marcado por cordialidade e “Gleisi se colocou à disposição”. Em entrevista ao jornal O Globo, o líder do PL afirmou que dará “o benefício da dúvida” à ministra, mas advertiu que “esse prazo não durará muitos meses”.
Durante a conversa, Sóstenes cobrou o pagamento de emendas impositivas da bancada do PL, que estariam pendentes desde 2023. De acordo com relatos do parlamentar e de aliados da ministra, Gleisi se comprometeu a iniciar os repasses, que agora estão sob monitoramento da liderança do partido.
Apesar do alinhamento com a oposição, Sóstenes mantém uma relação pessoal com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado de Gleisi e também presente no encontro. Ambos foram “caras pintadas” na campanha pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992. Sóstenes presidia a União Estudantil de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, enquanto Lindbergh era o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).