Diante do cerco do STF (Supremo Tribunal Federal) a Jair Bolsonaro (PL), aliados do ex-presidente agora estão vendo a disputa pela sucessão do seu espólio eleitoral se afunilar.
Em público, o discurso ainda será de Bolsonaro candidato, mas reservadamente as conversas sobre um nome para as eleições de 2026 se intensificaram. Despontam o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Uma eventual prisão era esperada só para após o julgamento. A ordem de uso de tornozeleira eletrônica no ex-presidente, cumprida no último dia 18, antecipou o debate, ainda que Alexandre de Moraes, do STF, tenha descartado, por ora, prendê-lo preventivamente. Ao menos três aliados do ex-presidente com quem ele falou na última semana veem esse cenário se desenhar.
Uma das hipóteses leva em conta a preferência do ex-presidente por indicar alguém da família para a sua sucessão. Nesse cenário, há alguns meses, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) era tido como uma possibilidade em alta, mas diante da chance de uma prisão dele, caso retorne ao Brasil, sua indicação é vista como improvável.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se sai bem nas pesquisas dentre os eventuais sucessores. Porém o entorno do ex-presidente argumenta que a família não gostaria dessa possibilidade e acredita que a campanha seria muito dura para ela —colabora com isso a avaliação de que uma vitória dela ao Senado pelo Distrito Federal é tida como certa.
Por isso, ganha força entre aliados do ex-presidente a discussão em torno do senador Flávio. Pesa a seu favor o fato de que ele não está nos inquéritos pelos quais o pai é investigado no STF, tem bom trânsito no mundo político e, sobretudo, levaria o nome da família.
Até dirigentes do centrão passaram a defender seu nome como plano A, por entender que Bolsonaro terá prioridade por alguém do clã. Michelle e Eduardo ainda são vistos por esse grupo como radicais e, portanto, com dificuldades na hora do voto.
Há parlamentares que defendem que, mesmo preso, Bolsonaro seria ainda importante como cabo eleitoral e ter o nome na urna seria essencial em 2026.
O governador de São Paulo é visto como praticamente imbatível eleitoralmente por parte dos apoiadores, e considerado aliado importante pelos dois —mesmo com troca de farpas com filhos de Bolsonaro, sobretudo Eduardo.
Tarcísio é tido por aliados do centrão e do bolsonarismo como o principal nome capaz de angariar apoio do empresariado, de parcela mais ao centro da população e, com o apoio de Bolsonaro, chegar ao segundo turno em uma eventual disputa com Lula (PT).
Publicamente, o governador, que se projetou politicamente após ser ministro de Bolsonaro, tem repetido que não quer ser candidato ao Palácio do Planalto —parte dos seus aliados diz que há receios em deixar passar uma reeleição em São Paulo com boas chances de vitória.
Além do mais, temem comportamento errático de Bolsonaro, que pode apoiá-lo e depois sinalizar para outro, a exemplo do que fez com Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2024.
Há, no entanto, a avaliação de que caberá ao ex-presidente a decisão. E, por fim, se ele for o candidato mais viável, será o indicado do campo político, com o apoio de Bolsonaro.
Procurado pela Folha, Flávio negou pensar em candidatura. “Meu candidato para 2026 é Jair Messias Bolsonaro. Ele é o plano A, plano B e plano C da direita. Vamos vencer todos os obstáculos e, com ele, vamos recolocar o Brasil no caminho da prosperidade.” Já Tarcísio, por meio de sua assessoria, não quis comentar.
O ex-presidente mantém o discurso de candidato, mesmo inelegível até 2030 e a caminho de uma provável condenação pela trama golpista que pode levá-lo à prisão. Isso faz parte da sua estratégia de manter-se como principal liderança do seu campo político.
Em entrevista à Folha em março, Bolsonaro já disse que registrará candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no ano que vem, independente de onde esteja, a espelho do que fez Lula em 2018 –o petista foi impedido de concorrer e indicou no último minuto Fernando Haddad para a cabeça da chapa.
Em paralelo, Bolsonaro incentiva que outros nomes também se coloquem como pré-candidatos. Recentemente, deu aval à pré-candidatura do governador Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. Além dele, há os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Junior (PSD), do Paraná.
Dessa forma, evita que um sucessor caia no escrutínio da opinião pública desde já e que ele perca poder político num momento crucial do seu julgamento.
O ex-presidente não mudou seu calendário. Seus aliados dizem ser imprevisível o que, de fato, ele fará. Recentemente, chegou a dizer que, se for passar o bastão, dirá isso em entrevista coletiva, a todos.
Uma ala do entorno do ex-presidente ainda tem esperança de que ele faça um anúncio após acabarem os embargos do julgamento no STF da trama golpista. A expectativa é de que o julgamento ocorra em setembro e os últimos embargos seriam analisados na corte em novembro.
Outra ala acredita que ele só tratará desde assunto no ano que vem. O prazo, caso decida por indicar Tarcísio, é abril. A lei eleitoral determina desincompatibilização do cargo seis meses antes da disputa. (Folha de SP)