Em 2015, quando a Lava-Jato ganhava tração e avançava sobre políticos e empresários poderosos, o então ex-presidente Lula se reuniu em Brasília com senadores de PT e PMDB para definir uma estratégia de reação à operação. No encontro, o petista disse que a investigação criminalizava a política, que Sergio Moro havia sequestrado o país e que só o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia conter a ação do então juiz.
Em meio à conversa, José Sarney, ex-presidente da República e ex-presidente do Senado, antigo adversário transformado em conselheiro, pediu a palavra e afirmou que o governo do PT tinha cometido um erro ao escolher o procurador-geral da República com base na lista tríplice elaborada pela categoria, o que não é uma exigência legal. Segundo Sarney, tanto o PGR quanto o diretor-geral da Polícia Federal têm de ser — acima de tudo — alguém da mais estrita confiança do mandatário, gostem ou não os integrantes do MP e da PF.
Naquela época, a então presidente Dilma Rousseff tinha nomeado para a PGR, com base na lista tríplice, Rodrigo Janot, que ainda seria reconduzido ao cargo, no qual foi acusado por petistas de traição e por líderes de diversos partidos de colaborar com a alegada criminalização da política. A história da Lava-Jato é conhecida. Lula foi preso, os protagonistas da operação caíram em descrédito, e o petista voltou à liberdade e depois ao Planalto.
Em seu terceiro mandato, Lula já disse que não seguirá a lista tríplice da PGR, exatamente como seu antecessor Jair Bolsonaro. Lula quer alguém de confiança no posto, repetindo o princípio que usou para indicar seu advogado Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal (STF). Quase uma década depois, o conselho de Sarney ainda ecoa em Brasília. (Veja)