• Ao lado de Lula, Trump sinaliza suspensão de tarifas e se diz incomodado com penas contra Bolsonaro


    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo (26), em reunião com brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que as tarifas comerciais aplicadas sobre o Brasil podem ser negociadas “muito rapidamente”, embora tenha desconversado quando questionado sobre quais seriam as condições para a medida.

    No sábado (25), ele havia afirmado que poderia reduzir as tarifas ao Brasil se houvesse “circunstâncias adequadas”.

    O encontro bilateral ocorreu em Kuala Lampur, na Malásia, a partir das 15h30, no horário local (4h30, em Brasília), em paralelo à Cúpula de Líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

    “Vamos discutir por um tempo e provavelmente chegaremos a uma conclusão muito rapidamente”, afirmou logo na entrada da reunião com Lula, quando jornalistas ainda estavam presentes.

    “Acho que poderemos chegar a acordos muito bons dos quais estivemos falando, e acho que acabaremos tendo uma relação muito boa”, acrescentou.

    Questionado se uma mudança nas penas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria uma das condições para as negociações com o governo brasileiro, o líder americano disse que isso não era da conta dos jornalistas.

    “Eu gosto de Bolsonaro. Ele é um bom sujeito. Nós ficamos incomodados com as penas contra ele”, afirmou.

    O mandatário brasileiro, no entanto, pediu que a imprensa fosse retirada da sala para o início de uma conversa a portas fechadas. “A imprensa vai ter boas notícias assim que acabar a reunião. Antes, são só suposições”, afirmou.

    “O Brasil tem interesse em ter uma relação extraordinária com os Estados Unidos, como temos há 201 anos. Não há nenhuma razão para desavença entre Brasil e Estados Unidos”, disse o petista.

    “Quando dois presidentes sentam na mesa, cada um coloca os seus problemas, a tendência natural é encaminhar para um acordo. Antes de vir aqui eu disse que estava muito otimista com a possibilidade para avançarmos para ter uma relação mais civilizada com os Estados Unidos e pretendemos manter.”

    Durante a negociação a portas fechadas, Trump afirmou que deve suspender as tarifas, segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que participou do encontro. “Nós vamos ter negociações, conversas, visto que a tarifa é aplicada a um país que não tem superávit nos Estados Unidos”, disse o ministro a jornalistas após o encontro.

    Ainda de acordo com Vieira, uma nova reunião entre representantes dos governos brasileiro e americano deve ocorrer na noite deste domingo na Malásia. O horário e local ainda não foram definidos.

    “Trump declarou que dará instruções à sua equipe para começar um processo de negociação bilateral, que deve se iniciar hoje ainda – já que é para tudo ser resolvido em pouco tempo”, afirmou.

    Ainda de acordo com o chanceler, o presidente americano demonstrou interesse em visitar o Brasil, e Lula também afirmou que irá “com prazer” aos EUA futuramente.

    Lula classificou a reunião, que durou cerca de 45 minutos, como “ótima” e disse que a discussão foi “franca e construtiva”.

    “Tive uma ótima reunião com o presidente Trump na tarde deste domingo, na Malásia. Discutimos de forma franca e construtiva a agenda comercial e econômica bilateral”, declarou o presidente, no X, após o encontro.

    “Acertamos que nossas equipes vão se reunir imediatamente para avançar na busca de soluções para as tarifas e as sanções contra as autoridades brasileiras”, prosseguiu.

    O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, disse que o diálogo foi “franco”.

    “O presidente Lula deixou claro que a motivação usada pelos Estados Unidos para impor a elevação de tarifas para o restante do mundo não se aplica ao Brasil por conta do superávit da balança comercial. Mostrou também que a nossa pauta comercial e a relação diplomática sempre foi muito boa”, contou.

    Apesar de se dizer “incomodado” com as penas contra Bolsonaro, o tema não entrou na pauta da reunião, segundo o governo brasileiro.

    No encontro, Trump esteve acompanhado de seus secretários de Estado, Marco Rubio, e do Tesouro, Scott Bessent, e do representante de Comércio, Jamieson Greer. Ao lado de Lula, além de Vieira e Elias Rosa, participou também o embaixador Audo Faleiro, da assessoria especial da Presidência da República.

    Lula está há alguns dias em Kuala Lumpur, onde no sábado se reuniu com o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, depois de uma viagem à Indonésia, em busca de acordos comerciais para mitigar o impacto das tarifas dos Estados Unidos.

    Trump e Lula se encontraram pela primeira vez nos corredores da última Assembleia Geral da ONU, realizada em setembro em Nova York, e iniciaram um degelo que continuou em 6 de outubro com uma ligação “amigável”, na qual o brasileiro propôs ao americano uma reunião no âmbito da Cúpula da Asean, que começou neste domingo e termina na terça-feira (28).

    O presidente americano participará das reuniões do bloco somente neste primeiro dia e seguirá na segunda-feira (27) para o Japão, para depois viajar à Coreia do Sul.

    Lula terá encontros bilaterais com o primeiro-ministro de Singapura, Lawrence Wong, e com o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh, ainda neste domingo, antes das atividades oficiais da Asean.

    À noite, participa de um jantar oferecido pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, com a presença do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o do primeiro-Ministro do Canadá, Mark Carney.

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