O ex-presidente Jair Bolsonaro e o comandante do PL, Valdemar Costa Neto, travam nos bastidores uma disputa pelo rumo que o partido tomará no julgamento do senador Sergio Moro (União-PR). Após o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) absolver o ex-juiz da Lava-Jato das acusações de abuso de poder político e econômico, Bolsonaro tem defendido que a sigla, autora da ação ao lado do PT, não recorra ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como um gesto simbólico ao eleitorado conservador. Valdemar, por sua vez, anunciou que a legenda vai interpor o recurso à revelia dos pedidos feitos pelo principal correligionário com o objetivo de “defender os interesses políticos” do PL.
Na última segunda-feira, o dirigente havia afirmado ao GLOBO que “sua vontade” era “retirar o recurso”. Na ocasião, Valdemar informou ainda que tentaria negociar com o escritório de advocacia que representa o partido a possibilidade de rever uma multa de R$ 1,2 milhão prevista em contrato no caso de não apresentação de recurso. Ontem, porém, o dirigente mudou de tom:
— Vamos entrar com o recurso no TSE, sim. Essa retirada não ficaria bem para o partido e teríamos que arcar com a multa. Eu entrei com a ação para defender os interesses políticos do partido e seguirei agindo desta maneira. Tenho que defender os parceiros do PL — argumentou Costa Neto.
Nas tratativas internas costuradas via interlocutores, já que os dois estão proibidos pela Justiça de manter contato, Bolsonaro vem alegando que o eleitorado de Moro é o mesmo do PL e que, por isso, não seria interessante fazer parte de uma “narrativa de perseguição” a outro conservador. O ex-presidente argumenta ainda que o PT — como já divulgou o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — vai recorrer da absolvição, o que levaria o caso ao TSE de qualquer modo. O recuo do PL, assim, seria apenas um aceno simbólico a Sergio Moro e a seus eleitores.
Para além das posições divergentes, aliados de Bolsonaro também veem com dúvidas as citações de Valdemar à multa estabelecida no acordo com o escritório. Em entrevista ao blog da jornalista Malu Gaspar, colunista do GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também é advogado, vocalizou abertamente a descrença:
— Isso, infelizmente, não para de pé. É uma justificativa que todo mundo sabe que não existe. Com advogado, você renegocia o prazo para fazer o pagamento, honra o contrato que foi feito com esses advogados, e o PL tem condições de fazer isso — disse o filho do ex-presidente.
‘Por mim, tanto faz’
Moro chegou a ser ministro da Justiça no governo Bolsonaro, mas deixou o cargo no segundo ano da gestão em meio a acusações de interferências indevidas do então presidente no trabalho da Polícia Federal (PF). Os dois só se reaproximaram no contexto da corrida presidencial de 2022, sobretudo no segundo turno, quando tentaram unir forças contra a candidatura de Lula, condenado pelo ex-juiz no âmbito da Lava-Jato.
Na disputa pelo Senado no Paraná, Bolsonaro ficou em lado oposto ao de Moro e chancelou Paulo Martins, do próprio PL, que também contava com o apoio de outro correligionário de peso, o governador Ratinho Jr. O ex-magistrado superou o principal rival por uma diferença de aproximadamente 4% dos votos.
No caso de uma eventual cassação de Moro pelo TSE, Martins é apontado como um dos possíveis postulantes à cadeira do senador na eleição suplementar que precisaria ser convocada. Os nomes da deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e até da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também foram ventilados para a disputa hipotética.
— É uma questão jurídica relevante, mas que também depende de uma decisão política da direção do PL. Por mim, tanto faz se irá recorrer: o que o partido decidir, está tudo bem — desconversou Paulo Martins ao GLOBO.