Favorito a uma das duas vagas abertas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), o desembargador maranhense Ney Bello decidiu seguir o conselho do presidente Jair Bolsonaro de que, para garantir a indicação para o STJ, precisava se “resolver” antes com o ministro piauiense Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ney Bello pediu para se encontrar com Nunes Marques em seu gabinete no final do mês passado, mas saiu da conversa sem a garantia de apoio, segundo relatos obtidos pela equipe da coluna.
Bello integra o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), onde Kassio atuava. Os dois chegaram a travar uma disputa de bastidores por essa mesma vaga de ministro do STJ em 2020 e 2021, antes de Bolsonaro decidir nomear Nunes Marques para o STF.
No auge da tensão, Nunes Marques se demonstrava convencido de que Bello fazia dossiês contra ele. Ao final, Nunes Marques foi para o STF e Ney Bello continuou esperando pela vaga no STJ, mas o embate deixou marcas. Um interlocutor desses magistrados define a relação entre os dois como “ácida”.
Na reunião do mês passado, Bello e Nunes Marques conversaram por cerca de quinze minutos. Falaram de amenidades na maior parte do tempo, mas o desembargador aproveitou a oportunidade para tratar da vaga no STJ e tentar conseguir uma promessa de apoio. Mas o ministro desconversou e fugiu do assunto.
O STJ tem no momento duas vagas abertas. Cabe a Bolsonaro nomear os dois novos ministros. Aliados do presidente dizem que ele tem ressalvas aos quatro nomes aprovados na votação do STJ que compôs uma lista quádrupla.
Um aliado próximo do presidente explicou em conversa reservada: “Os quatro candidatos têm vetos de pessoas que são importantes, que o presidente considera. São quatro bons perfis, mas todos têm vetos de alguém”, afirmou.
Bello, porém, teria a boa vontade do presidente por histórico de decisões pró-Planalto. O desembargador também conta com o apoio do influente ministro Gilmar Mendes, em cujo gabinete já trabalhou como juiz instrutor no STF.
Só restariam mesmo as arestas com Nunes Marques a serem superadas. Em maio, logo após o STJ definir a lista encaminhada ao Palácio do Planalto, Bolsonaro disse a interlocutores que “gosta muito” do Ney”, “mas ele precisa se resolver com o Kassio”.
A reunião com Nunes Marques ocorreu para que o desembargador tentasse “se resolver com o ministro”.
Aconteceu, também, antes da decisão de Ney Bello que colocou em liberdade o pastor Milton Ribeiro, investigado por participar de um esquema de corrupção e tráfico de influência no período em que comandou o Ministério da Educação (MEC).
Melhor para Ney Bello que sua decisão favorável ao ex-ministro tenha contado mais pontos na classificação de Jair Bolsonaro. Porque se depender de “resolver com Kassio”, ele ainda vai ter que se esforçar bastante. (O Globo)