O União Brasil decidiu adiar a eleição que definiria o novo líder do partido na Câmara. A previsão inicial era que o nome que vai suceder Elmar Nascimento (BA) no cargo fosse definido nesta quarta-feira, mas uma briga interna na legenda, que envolveu uma quebra de braço entre a ala mais oposicionista e a que deseja ter diálogo com o governo, fez com que a definição fosse adiada.
A reunião de hoje foi marcada por bate boca entre os deputados e queixas de vários parlamentares. O presidente do partido, Antonio Rueda, foi para a Câmara participar do encontro e também os ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações), que foram indicados pelos deputados do partido para compor o governo.
Ainda não há data prevista para que a definição aconteça, mas a previsão é que ela só seja realizada em fevereiro, quando os trabalhos legislativos de 2025 começarão.
Os deputados Mendonça Filho (PE), Pedro Lucas Fernandes (MA) e Damião Feliciano (PB) são os candidatos a liderar a legenda. Mendonça é de perfil oposicionista e, se escolhido para o cargo, traria dificuldades para a articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. Já os outros dois têm perfil de ter mais diálogo com o governo.
A tentativa de os deputados escolherem o novo líder foi palco de vários embates. Em um dos momentos, o deputado Danilo Forte (CE), que ficou contrariado com a decisão de postergar a decisão, disse que hoje a legenda tem cerca de 60 deputados, mas que a partir do ano que vem poderia se reduzir para 30 ou 25 parlamentares.
Uma ala do partido reclama que o adiamento aconteceu por pressão da cúpula nacional da legenda, que teria interesse em impedir Mendonça de ser líder. Governistas do partido negam e dizem que Mendonça concordou com o adiamento.
Diante do clima de conflagração, o ministro do Turismo chegou a pedir que os deputados “se desarmem”.
– Peço a todos, Danilo Forte, que se desarmem, porque o próximo líder precisa de unidade.
Em outro momento, mas dessa vez sem citar o nome de Forte, o ministro disse ainda que a sigla pode ampliar o número de deputados federais.
Sabino também elogiou Elmar e declarou que o novo líder precisa representar todos os grupos internos do partido.
– Independente se está do lado do governo, se não está do lado do governo. O líder precisa ter a postura que o Elmar teve. O próximo líder precisa ser o líder de todos os deputados.
Em outro momento, o ministro lembrou de disputas envolvendo outros partidos e citou até um caso vivido por ele próprio, quando era do PSDB e tentou liderar a bancada, mas enfrentava a oposição do ex-governador de São Paulo João Doria.
– Para tranquilizar os deputados, principalmente os de primeiro deputado. Tivemos disputa no MDB, que depois foi trocado (o líder) três ou quatro vezes. Tivemos no PSL, tivemos no PSDB, com o governador de São Paulo entrando pesado na disputa.
Por sua vez, o deputado Leur Lomanto Júnior (BA) se queixou do clima de disputa e disse que a maioria da bancada não está feliz com a divisão. Ele citou a briga pela presidência do partido ocorrida no começo do ano, quando Luciano Bivar resistiu a deixar o comando da sigla para dar lugar a Rueda.
– Depois da turbulência, que foi a presidência do partido, com o deputado Luciano Bivar, estamos iniciando mais uma turbulência.
Leur, que foi um dos que defendeu o adiamento da eleição, também falou que a legenda é alvo de ironia pelas brigas:
– Não queremos voltar a ser piadinha dos deputados, quando éramos chamados de Desunião Brasil.
Se Mendonça é um nome considerado muito ligado à oposição, Damião Feliciano, que é um dos vice-líderes do governo, é um nome que daria um perfil mais colaborativo com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente do partido, Antonio Rueda, e o líder Elmar pediram o adiamento da escolha e a sugestão foi acatada pela bancada. Rueda trabalha para que Pedro Lucas Fernandes seja o escolhido.
Sem um consenso em quem sucederá Elmar Nascimento (BA) na liderança do União Brasil na Câmara dos Deputados, integrantes decidiram adiar a definição para fevereiro de 2025. O partido vive uma crise de identidade — se terá maior inclinação ao governo ou se poderá adotar uma linha mais oposicionista.
Aliado a isso cresce o sentimento de desunião da legenda, com parlamentares até cogitando a possibilidade de uma debandada, em um ano que a sigla já teve que lidar com uma briga pela presidência do União.
Até este momento, sem consenso, congressistas acreditam que a decisão será levada a voto, que será secreto e poderá levar a articulações e conchavos dentro do próprio União.
Segundo deputados ouvidos reservadamente pela reportagem, se a votação fosse hoje, dizem, poderia haver vitória de Damião Feliciano. Nessa leitura, ele se aproveitaria da divisão entre Pedro Lucas e Mendonça e deveria chegar ao segundo turno com mais força.
Na visão de quem apoia Pedro Lucas, o deputado é considerado de perfil pragmático e que atenderia as demandas da ala governista da legenda, mas sem deixar de dar atenção para os que fazem oposição.
Na reunião de hoje, Sabino chegou a fazer uma piada e apontar para o uniforme de uma agente da Polícia Legislativa Federal, dizendo que a sigla PLF seria de Pedro Lucas Fernandes.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, foi um dos que tentou apaziguar a situação e disse que os três deputados que tentam ser líderes tem qualidades.
— Todos os três têm seguidores, eleitores e companheiros nesse processo. Nem Jesus Cristo vai agradar todo mundo. É normal. Hoje temos um dos maiores partidos do Brasil. Temos uma parte à esquerda, uma à direita. Temos que se unir para que o dia seguinte a escolha, seja ela qual for. (O Globo)