O resultado de eleição municipal não determina o que serão as eleições gerais dois anos depois, sabemos todos. Mas é impossível analisar o cenário de 2026 ignorando o que se passou nas disputas Brasil afora deste ano.
Antes de mais nada, os dois maiores líderes políticos do país foram derrotados. Lula e Jair Bolsonaro saíram menores. Vista de hoje, virou pó a afirmação feita por Lula, em dezembro passado, sobre quem seriam os protagonistas da eleição de 2024: “Eu acho que vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições”. A previsão não se concretizou.
O presidente não foi um grande eleitor. Ao contrário, preferiu não cair de cabeça nas disputas. Evitou se expor. Num misto de medo e prudência, buscou se preservar. Já o ex-presidente sabe, depois do processo eleitoral que terminou neste domingo, que a direita não é mais propriedade dele.
Lula, que completou 79 anos no dia da eleição e recebeu de presente das urnas uma sonora derrota, tem pouco mais de um ano para decidir se disputa a reeleição. Ou se começa a preparar um candidato para apoiar. O comportamento da economia em 2025 é uma das variáveis importantes, mas não a única. Ninguém é capaz de cravar com certeza o que Lula fará. A essa altura, nem ele sabe, embora seja hoje o único político à esquerda com envergadura para um triunfo eleitoral num Brasil cada vez mais conservador.
O presidente tem alguns desafios urgentes pela frente. No front partidário, terá que pacificar o PT, que vive um início de luta interna. Precisa também tentar modernizá-lo. O partido, só para ficar num exemplo, até hoje carece de uma estratégia digital para lidar com as redes sociais. Mais grave, no entanto, é o discurso envelhecido do PT, que não se conecta mais como em décadas passadas com a periferia e com os jovens. No front do governo, Lula terá que definir se faz uma reforma ministerial que dê mais espaço ao centro e a partidos de centro-direita.
A situação de Bolsonaro é ainda mais complicada. Não está apenas está inelegível. Terá também que lidar em breve com um indiciamento pela PF no inquérito que apura a tentativa de golpe de estado. Pior: a eleição deste ano o destronou inapelavelmente do posto de comandante-em-chefe da direita brasileira.
Foi derrotado por Ronaldo Caiado com quem tentou medir forças em Goiás. Viu emergir no cenário Pablo Marçal, um sujeito ainda mais histriônico do que ele, que o desafiou e virou um personagem nacional disputando parte do eleitorado antes cativo do capitão. Como se não bastasse, deixou Tarcísio de Freitas ser o grande padrinho da vitória de Ricardo Nunes em São Paulo. Tarcísio é hoje o candidato preferido do establishment para disputar a presidência daqui a dois anos. (Lauro Jardim)