Em uma conversa rápida na noite desta terça-feira no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro disse ao presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que as denúncias de assédio sexual feitas por servidoras do banco público são “inadmissíveis”, segundo o relato de interlocutores de Bolsonaro.
No encontro, Guimarães disse ao presidente que pretende “se defender na Justiça”. O executivo deve anunciar a saída do comando da instituição financeira nesta quarta-feira, conforme antecipou o colunista Lauro Jardim. Na noite desta terça-feira, a Caixa cancelou uma cerimônia sobre crédito rural com a presença de Guimarães que estava prevista para esta quarta.
O núcleo político da campanha do presidente da República agiu rapidamente para evitar que o caso impactasse diretamente na eleição, principalmente entre o eleitorado feminino, no qual Bolsonaro encontra resistência. Como mostrou a colunista Malu Gaspar, aliados pressionaram pela saída imediata de Guimarães do cargo para que Bolsonaro se afaste rapidamente das acusações.
Para dois ministros e um auxiliar do presidente ouvidos pela colunista Bela Megale, a situação de Guimarães é “insustentável” e sua saída necessária para “poupar” mais desgastes para Bolsonaro. A avaliação já foi levada por diversos aliados ao presidente, que defendem que ele seja demitido, caso não peça demissão por iniciativa própria.
Guimarães é próximo a Bolsonaro e uma das figuras mais frequentes nas viagens presidenciais. Nesta terça-feira, ele esteve em Maceió (AL) em cerimônia de entrega de 1.220 moradias.
O dirigente tinha na agenda desta quarta-feira uma entrevista coletiva a jornalistas nesta quarta-feira para falar sobre estratégias do banco, mas a assessoria de imprensa comunicou o cancelamento do evento na noite desta terça-feira.
Denúncia
Funcionárias da Caixa denunciaram Pedro Guimarães em depoimentos concedidos ao site Metrópoles. As entrevistas foram dadas sob condição de anonimato para preservar a identidade das envolvidas. De acordo com a reportagem publicada nesta terça-feira, o caso também é investigado, sob sigilo, pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal.
Em nota ao site, a Caixa disse que “não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo”. O MPF afirmou que não fornece informações sobre procedimentos sigilosos.
Nas entrevistas concedidas ao site, funcionárias do banco narram toques íntimos não autorizados, convites incompatíveis com a situação de trabalho e outras formas de assédio por parte de Guimarães. “Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou minha bunda. Literalmente isso”, relatou uma vítima ao Metrópoles.
Outra funcionária do banco detalhou um jantar em que Guimarães falou sobre a intenção de organizar um “um carnaval fora de época” onde “ninguém vai ser de ninguém. E vai ser com todo mundo nu’”. Outros presentes no local confirmaram as falas do executivo. As situações de assédio aconteciam, na maioria das vezes, em viagens do executivo como parte do programa Caixa Mais Brasil. (O Globo)