• Brandão fala de como será relação com a oposição e os critérios de indicações no governo

    Folha de SP – Reeleito no primeiro turno para o Governo do Maranhão, Carlos Brandão (PSB) diz que a chave para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantenha ou amplie sua margem de vitória no estado é não deixar a mobilização esfriar.

    O possível aumento na abstenção é o maior risco identificado pela campanha de Lula para sua vitória no segundo turno.

    No Nordeste, onde a ampla maioria do petista sobre Jair Bolsonaro (PL) compensa a desvantagem em outras regiões, essa preocupação é ainda maior.

    “Não podemos deixar a eleição esfriar”, diz Brandão, que assumiu o cargo em abril depois da renúncia de Flávio Dino (PSB), de quem era vice, para disputar o Senado. Ele foi reeleito com 51,14% dos votos no último dia 2 de outubro.

    No Maranhão, Lula teve 1,7 milhão de votos a mais do que Bolsonaro, exatamente a mesma margem que o presidente teve sobre o petista em São Paulo. “A diferença que São Paulo fez [para Bolsonaro] nós tiramos aqui no Maranhão”, diz ele, sem disfarça o orgulho.

    Brandão se elegeu com uma coligação que incluiu desde o PT de Lula até o PP, que apoia Bolsonaro.

    Ele diz que pretende governar com uma base ampla na Assembleia, que incluirá até o PL, já interessado numa composição política. “O pessoal aqui é muito governo, não quer ficar contra.”

    Da mesma forma, ele prevê que o centrão irá procurar Lula para dar a ele sustentação congressual. “O centrão sempre é governo”, diz.

    Lula teve 69% dos votos no Maranhão no primeiro turno. É possível ampliar essa fatia? Não podemos deixar a eleição esfriar. Houve a eleição no domingo (2), e na segunda-feira (3) já fizemos uma caminhada. Depois uma agenda com prefeitos e vice-prefeitos e outra com ex-prefeitos. A tendência natural, quando só há o candidato a presidente, é uma redução na mobilização. Tivemos 23% de abstenção, mas a gente tem uma preocupação de que isso não aumente no segundo turno. A diferença que São Paulo fez [para Bolsonaro] nós tiramos aqui no Maranhão. Acho que o Lula cresce um pouquinho mais. E a gente não vê movimento deles [bolsonaristas] aqui. Teve uma presença da primeira-dama e do próprio Bolsonaro, que veio num evento fechado, pequeno. Aqui é um estado muito lulista.

    O PSB não teve uma boa eleição, com redução da bancada federal e derrotas duras em Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro etc. Por que isso ocorreu? Quem cresceu foram os partidos do centrão. Aqui, os deputados atribuem muito a essa questão do orçamento secreto, os valores são exorbitantes. Isso teve muito impacto.

    Esse resultado ruim pode prejudicar o espaço do PSB num eventual governo Lula? Hoje, para governar, você tem que compor com os partidos, senão fica muito difícil. O centrão é um grupo de partidos que sempre é governo. Acredito que todos esses partidos, mesmo não tendo votado no presidente Lula, vão se sentar com ele. Não dá para governar só com a federação PT-PC do B-PV e com o PSB. É impossível, você não aprova nada no Congresso. Só não precisa escancarar como fizeram com o orçamento secreto, exageraram.

    Se Bolsonaro for reeleito, qual será o papel dos governadores do Nordeste, que em geral são alinhados à esquerda? No começo deste mandato, houve muito interesse dos governadores em dialogar com o presidente. E só bem para o fim eles desistiram, porque não havia reciprocidade. A gente não conseguiu fazer uma reunião produtiva, para discutir os problemas do país, as obras estruturantes de cada estado. Eu defendo que a gente tente mais uma vez alguma parceria [se Bolsonaro vencer], até para não dizer que não tentamos. Mas pelo perfil do presidente Bolsonaro, parece que ele não tem muito interesse. Ele faz política na live. Chega no estado, tem aquela aglomeração no aeroporto dos eleitores dele. Não tem diálogo. Mas sinto que essa nossa reunião vai ser com Lula.

    O ex-governador Flavio Dino tinha uma ampla aliança, que agora se dividiu. É possível refazê-la no Maranhão? Nessa última eleição a gente construiu uma grande base. Saíram só PDT e Republicanos. O União Brasil ficou neutro. O PL fez um acordo com o Weverton [Rocha candidato a governador derrotado], mas não quer ser oposição. Já mandaram recado que na Assembleia vão marchar junto. O pessoal aqui é muito governo, não quer ficar contra. O deputado contra o governo não consegue levar uma ponte, um poço artesiano, apesar de ter emenda impositiva. Eles querem indicar cargos nas diretoria dos hospitais, participar de órgãos do governo no município. A questão do partido é mais para disputar a eleição, não tem essa ideologia, se é esquerda, direita. A sigla não pesa muito, não.

    O sr. vai contemplar todos esses partidos no seu secretariado? Os partidos que nos ajudaram a tendência é ocuparem espaço no governo. Qual é a nossa preocupação? É a indicação de um quadro técnico qualificado. O partido que nos ajudou, compôs a nossa base, não tem nenhum problema fazer indicação. Só que tem o crivo da qualificação técnica, o histórico dessa pessoa.

    O Maranhão segue sendo um dos estados com piores indicadores sociais do país. Por que isso acontece e onde o governo falhou? Esses índices que a gente tem são do censo de 2010. Assumimos o governo em 2015. Em 2015 e 16, tivemos a maior recessão do país. Em 2021, tivemos a pandemia. Mesmo assim, somos o estado que teve o maior salto positivo no Caged do Nordeste e o quarto do Brasil. Mais de 100 mil empregos formais gerados. No que diz respeito às escolas, fizemos mais de 1.500 obras educacionais, implantação de escolas de tempo integral. O salário de professores temos os melhores do Brasil. Na saúde, construímos 27 hospitais regionais. Criamos a Secretaria de Agricultura Familiar para gerar renda. Quando o novo censo for divulgado, essas ações vão se refletir.

    O sr. começou no PFL, depois foi para o PSDB, mudou para o Republicanos, voltou ao PSDB e agora está no PSB. O sr. é um político de esquerda? O meu Brasil é o Maranhão. Preciso defender os interesses do povo maranhense. Eu estou no centro da esquerda. O dia em que me filiei ao PSB foi o dia em que o governador Geraldo Alckmin se filiou. Nesse momento a gente tem que partir para um lado que restabeleça a democracia. O melhor caminho era me filiar ao PSB, era o partido que apresentava a melhor conjuntura. Estamos defendendo a bandeira da esquerda porque entendemos que é o melhor caminho para o Brasil. Não essa direita radical. Quando você vê que essas ideologias se sobrepõem ao partido, você tem que migrar, porque tem que estar num lugar em que você acredita.

    O sr. teme pela democracia se o presidente Bolsonaro se reeleger? Pode haver uma guinada autoritária? Durante esse período na Presidência, os gestos dele preocuparam. Enfrentamento ao Congresso, ao Supremo. A gente tem de ter os Poderes de forma harmônica e independente. É isso que é direita? Se for eu estou fora. Não vejo muita pré-disposição de mudança. Até pelo jeito, pelo temperamento. Não vejo ele como um líder de diálogo. A gente tem que desarmar o palanque. Eu me conduzi de modo diferente aqui. Nos debates, não parti para a agressão. Acabou a eleição, o palanque está desmontado. Estou aberto aqui no Palácio dos Leões [sede do governo] para receber qualquer deputado. Receber não significa que terá privilégio. É lógico que nossos apoiadores terão uma atenção diferenciada, mas os que não apoiarem não serão discriminados.


    RAIO-X

    Carlos Brandão, 64
    Graduado em veterinária pela Universidade Estadual do Maranhão, foi secretário de Articulação Política, chefe de gabinete do governador, deputado federal (2014-17) e vice-governador do Maranhão (2015-22). O governador já passou por PFL, PSDB, Republicanos e PSB

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