Mesmo sem um aceno favorável do ex-presidente Jair Bolsonaro, partidos do Centrão começam a se movimentar para construir uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e cobiçam indicar um nome para vice-presidente na chapa. Siglas como o PP e o União Brasil, que anunciaram uma federação, já pressionam internamente para que o assunto saia do círculo de conversas reservadas e seja tratado publicamente.
No caso do PP, entre os nomes apontados como opções estão o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), e a senadora Tereza Cristina (MS), que chegou a ser cotada para ser vice de Bolsonaro em 2022, mas foi preterida em favor do general Braga Netto.
Já no União não há favoritos, mas a legenda avalia que, pelo seu tamanho, não é possível que a sigla seja ignorada em uma chapa presidencial.
Os acenos a Tarcísio também têm sido intensificados pelo Republicanos, MDB e PSD. Estes dois últimos principalmente pelo interesse em herdar o governo de São Paulo. Por outro lado, as movimentações dos partidos têm desagradado a aliados de Jair Bolsonaro. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por exemplo, já criticou indiretamente Tarcísio e o classificou como “direita permitida”.
Um dos escalados para tentar construir uma unidade dos partidos para 2026 é o ex-presidente Michel Temer. O emedebista já procurou todos os que mostraram interesse em disputar o Palácio do Planalto, inclusive Tarcísio, e provocou insatisfação no bolsonarismo por falar que a candidatura presidencial poderia ser construída sem a participação de Bolsonaro.
Apesar disso, o atrito não foi o suficiente para romper a relação entre Temer e Bolsonaro. Ambos chegaram a conversar recentemente, ocasião em que o emedebista influenciou o tom que Bolsonaro usou durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a trama golpista.
Bolsonaro tem insistido em dizer que é candidato mesmo inelegível e resiste a apoiar alguém. Desconfiado dos partidos e sem querer perder o controle sobre o futuro da direita e da oposição a Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente avalia insistir em se lançar candidato e, caso seja barrado, apresentar o nome de Eduardo, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Trava à família
Os partidos do Centrão buscam evitar esse cenário e dizem que Bolsonaro erra ao não apontar logo um sucessor. Para os dirigentes desses partidos, o ideal seria o ex-presidente definir quem vai apoiar até o final deste ano. Essa avaliação já foi externada pelo presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e pelo vice-presidente do partido, ACM Neto, em entrevistas ao GLOBO. Ciro Nogueira e o líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho (RJ), foram outros que já mostraram discordar da estratégia de insistir na candidatura mesmo inelegível.
Um nome ligado à centro-direita para formar a chapa, na visão desses políticos, seria importante até mesmo para ajudar na articulação política em caso de vitória eleitoral de Tarcísio.
Aliados de Bolsonaro estão incomodados com a pressão para que o governador de São Paulo seja apontado o quanto antes como alternativa presidencial. Como forma de conter esse movimento, nomes alinhados ao ex-presidente agora falam mais livremente sobre as opções, mas dando ênfase aos familiares de Bolsonaro.
Neste cenário, os nomes de Eduardo, Flávio e Michelle já são testados em pesquisas. Os próprios filhos do ex-presidente mencionam a hipótese.
— Fico feliz de saber que qualquer nome apoiado por Jair Bolsonaro é competitivo contra Lula. O povo se sensibiliza com quem é perseguido injustamente, e a cada dia Bolsonaro fica mais forte — disse Flávio ao GLOBO.
O senador, no entanto, evitou atender ao pedido dos partidos do Centrão para adiantar quem será o herdeiro do ex-presidente e diz que “a única certeza é que a direita derrotará Lula”.
Da mesma forma, Eduardo republicou durante a semana um texto em que ele é apontado como o nome favorito do entorno do presidente americano Donald Trump para concorrer contra Lula em 2026. Ele também publicou um vídeo nas redes sociais em que reclama diretamente da pressão para que Bolsonaro apoie um nome para 2026.
“Quando tira o Bolsonaro e coloca qualquer um de direita, seja eu, Michelle, Tarcísio, ou qualquer pessoa que não seja da esquerda melhor dizendo, você consegue perceber que com o apoio do Bolsonaro qualquer desses nomes segue muito bem na disputa. E aí vem a pergunta que eu queria fazer: a quem então interessa você querer acelerar para que o Bolsonaro diga quem será o sucessor dele? Será que isso é determinante para um sucesso eleitoral de quem quer que seja apoiado pelo Bolsonaro ano que vem? Se você ligar os pontos vai perceber muita coisa que está acontecendo neste momento”.
Nome agregador
Como forma de manter seu nome relevante no jogo para 2026, Bolsonaro também tem apostado em atos com apoiadores. O próximo acontece hoje e os vídeos de divulgação centram-se na figura do ex-presidente e de familiares, sem citar Tarcísio.
Ao mesmo tempo que é alvo de críticas por parte dos bolsonaristas por não se envolver de maneira enfática na defesa de Bolsonaro no caso sobre a trama golpista, o governador tem procurado demonstrar lealdade ao ex-chefe e não tem feito movimentos ostensivos para se apresentar como alternativa nacional. Procurado, Tarcísio disse via assessoria que seu candidato a presidente em 2026 é Bolsonaro.
Ainda assim, o governador tem atraído a atenção dos partidos, que nos bastidores têm reclamado que Bolsonaro erra ao insistir na candidatura própria mesmo inelegível. Na visão deles, o governador é um nome considerado agregador na direita, no centro, bem como no mercado financeiro.
— Não sendo o Bolsonaro o candidato, será um desses governadores: Tarcísio, Ratinho (Jr.), (Ronaldo) Caiado, (Romeu) Zema ou a (senadora) Tereza Cristina, mas tem que esperar o que vai acontecer — disse o coordenador da bancada ruralista no Congresso, deputado Pedro Lupion (PP-RS).
O parlamentar também declarou que o ideal seria Bolsonaro nomear logo um sucessor, mas ressaltou que é preciso esperar “o timing” do ex-presidente.
Em meio às conversas de integrantes de partidos de centro, parlamentares da base do governo avaliam que há uma tentativa de unificar forças envolvendo PP, União, MDB, PSD e Republicanos para construir uma candidatura de oposição ao PT. Na visão deles, isso tem contribuído para o clima de conflagração no Congresso, com influência sobre os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). (O Globo)