O humorista Tiririca, que foi deputado federal mais votado do país em 2010, como era de se esperar, fez piada com a divisão do país: vermelho na metade, verde e amarelo do outro. Para ele, o saldo é positivo, pois agora o país tem roupa para a Copa do Mundo e para o Natal. Mas, para José Sarney, ex-presidente do Brasil, a coisa é mais complicada.
Em um artigo intitulado “O Brasil dividido”, o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) lembra que Carlos Drummond de Andrade certa vez escreveu que as eleições levavam o brasileiro a viver um ‘tempo de partido, tempo de homens partidos’.
Para Sarney, os problemas do Brasil atravessam o tempo sem solução. “Estamos divididos, na pequena diferença do resultado entre os candidatos, entre pobres e ricos, Nordeste e Sudeste, os bons e os maus. Construiu-se durante toda a campanha a retórica de uns condenados à perdição e outros à salvação”, pondera.
Sarney lembra que em 2014 também analisou o cenário da eleição presidencial em um artigo, quando reconheceu que o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Toffoli, foi feliz em dizer que se criou um debate para escolher o ‘menos pior’, o que é uma injustiça criada pela mídia.
Por fim, embora ainda fervoroso defensor da democracia – foi o primeiro presidente civil após o regime militar – admite que falta muito. “A democracia não se aprofundou depois da redemocratização. Avançou um corporativismo anárquico que foi beneficiando ilhas de interesses, gerando essa divisão que aflorou nas eleições”, concluiu o ex-presidente, que atualmente mora em Brasília. (Diário Amapá)