Após reunião nesta quarta-feira na sede do partido, em Brasília, os dirigentes do PL anunciaram que Valdemar Costa Neto terá “carta branca” para negociar a filiação do presidente Jair Bolsonaro. O presidente tem exigido fidelidade nos estados para fechar um acordo e se filiar.
“O Partido Liberal está pronto e alinhado para receber o presidente da República, Jair Bolsonaro, em todos os estados”, divulgou a sigla, em nota. O partido acrescentou que Valdemar “tem carta branca para conduzir e decidir sobre a sucessão presidencial e a filiação” do mandatário. No entanto, integrantes do PL reconhecem que, apesar da decisão desta quarta, os palanques estaduais de outras regiões do país, como no Nordeste, só serão de fato definidos no próximo ano, caso a caso.
Com relação a São Paulo, Valdemar antecipou à coluna Painel, da Folha, que terá de discutir o apoio do partido ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP), que quer entrar na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em 2022. A pessoas próximas o presidente do PL indicou que fará em São Paulo o que for necessário para que Bolsonaro entre no partido.
O assunto dividiu o partido nas últimas semanas, especialmente em estados do Nordeste, em que há um potencial de alianças com partidos de esquerda em 2022.
Como contrapartida, o partido pode incluir em seu estatuto uma previsão de que dirigentes estaduais têm autonomia para decidir suas candidaturas e quem irão apoiar nas eleições, segundo o deputado Fábio Abreu (PI), aliado do governador Wellington Dias (PT). Deputados ligados à esquerda também pediram alguma garantia de que Valdemar Costa Neto não irá destituir os diretórios que discordarem da Executiva Nacional.
— Acho complicado achar que o presidente Jair Bolsonaro vai aceitar coligar com o PT em nível estadual. Acho difícil, mas (a reunião) acenou para isso. Estou no compasso de espera e ainda vou avaliar direitinho — disse Fábio Abreu.
O senador Wellington Fagundes (MT) disse que “não é proibido”, mas “dificilmente” haverá apoio a adversários de Bolsonaro. De acordo com Fagundes, isso só será decidido de fato após Bolsonaro assinar a filiação. Segundo ele, pode haver um debate em casos específicos.
— A decisão é que onde o presidente Bolsonaro tiver a necessidade de um apoio do PL de forma direta, ou mesmo que seja uma coligação, de forma indireta, ele terá — afirmou.
Segundo presentes ouvidos pelo GLOBO, o tom da reunião foi “informativo” da parte de Valdemar. Não houve espaço para discutir problemas regionais, já que esses temas já vinham sendo tratados pelo telefone com o cacique do Centrão. A intenção era que o encontro sinalizasse a Bolsonaro que o partido está pacificado.
— A reunião serviu para conversar sobre todo o Brasil. Todos os estados brasileiros foram analisados e chegamos a um consenso de que o presidente Valdemar tem toda a autorização do partido para conduzir todos os entendimentos com o presidente Bolsonaro. De parte do PL, está tudo harmonizado e queremos receber o presidente Bolsonaro o mais rápido possível, até para que cada um possa organizar as campanhas nos estados — disse Fagundes.
O ex-senador Magno Malta (PL-ES), que esteve em Dubai com o presidente Bolsonaro, participou da reunião e deixou o local dizendo que a conversa deu segurança para o presidente se filiar. Em 2022, Malta tentará voltar ao Senado com o apoio de Bolsonaro.
— Houve conversas, mas não houve dificuldades, nem divergências, nem bate-boca. Há um alinhamento que está todo mundo preparado para receber o presidente.
— Eu acho que ele virá. Está com os dois pés no partido. A reunião foi crucial, foi a reunião que deveria ter ocorrido antes — disse Malta, afirmando que o encontro de hoje dá a segurança que o presidente Bolsonaro precisa.
— O partido vai receber o presidente e para poder tê-lo o acerto é a carta branca a Valdemar. A questão está muito clara: todo mundo vai fazer o seu sacrifício para poder receber o presidente da República — disse Malta. — O PL não apoiará o PT e a esquerda em lugar nenhum — reforçou o ex-senador.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL convocou os presidentes dos diretórios estaduais para conversar sobre os cenários regionais. As alianças locais com políticos do PSB, PT e outros partidos de esquerda geraram divergências em relação à entrada de Bolsonaro no partido e fizeram com que um evento de filiação previsto para o dia 22 fosse suspenso.
A nova data de filiação ainda não foi decidida, segundo Wellington Fagundes.
— O partido está dando ao presidente Valdemar carta branca para acertar com o presidente Bolsonaro todas as arestas e possibilidades que tenha em qualquer canto do Brasil. Uma reunião muito positiva. O PL saiu unido — disse o senador Jorginho Mello (PL), presidente do diretório do partido em Santa Catarina.
O senador bolsonarista acrescentou ainda que todos os estados puderam falar, que as “dificuldades” serão equacionadas pelo presidente e que “não terá coligação” com partidos que não estejam alinhados ao presidente.
— O partido unanimamente deu uma procuração para que o presidente Valdemar trate com o presidente Bolsonaro. E todos vão receber o presidente de braços abertos.
— Em todos os estados, Nordeste, Norte, Sul, Leste, o apoio do partido será para o presidente Bolsonaro e não terá nenhum governador, nenhum senador, que não esteja alinhado com o projeto do presidente Bolsonaro.
Em Pernambuco, o presidente do partido é o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira. Rumores de que Bolsonaro iria impor o ministro do Turismo Gilson Machado como candidato ao governo ou ao Senado irritaram Ferreira, que exigiu de Valdemar uma garantia de sua autonomia no estado.
Ferreira esteve presente na reunião, assim como o deputado federal André Ferreira (PSC), seu irmão, que deve se filiar ao PL. André disse a jornalistas que o apoio a Bolsonaro nos diretórios está pacificado.
Em São Paulo, a intenção de Bolsonaro de lançar como candidato o ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas gerou insatisfação do próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O partido tinha um acordo para apoiar Rodrigo Garcia, vice-governador de João Doria. A viabilidade eleitoral de Garcia, porém, tem sido questionada internamente. O Globo