• Em artigo, deputado diz que governo Dino ainda incomoda e fala de três tipos de mentiras

    Como mentir com estatísticas (e esconder os avanços do Maranhão)

    Por Carlos Lula, Deputado Estadual (PSB-MA)

    Há uma velha máxima, popularizada pelo escritor Darrell Huff: “Existem três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.” A frase, embora irônica, traz um alerta sério: números podem ser usados tanto para revelar verdades quanto para camuflar realidades. Tudo depende da lente, ou da má-fé, de quem os interpreta.

    Nos últimos anos, não têm faltado esforços para apagar os avanços do Maranhão. Sempre que algum indicador social permanece entre os piores do país, ele é isolado, destacado, amplificado e, sobretudo, descontextualizado. Mas, ao contrário da narrativa simplificadora de que “nada mudou”, os dados contam outra história: o Maranhão, sim, avançou, e avançou muito.

    É preciso lembrar de onde partimos. O Maranhão foi governado por décadas sob um modelo que concentrava riqueza, marginalizava o interior e deixava milhões de maranhenses sem acesso a direitos básicos. Em 2015, o estado liderava todos os rankings de miséria, desigualdade e carência de infraestrutura pública. Mudar esse cenário levaria tempo e exigiria coragem política.

    Mas houve mudança.

    Entre 2015 e 2022, o Maranhão reduziu sua taxa de pobreza em mais de cinco pontos percentuais, mesmo enfrentando uma das piores crises econômicas da história recente, agravada pela pandemia. No mesmo período, o rendimento médio domiciliar cresceu 7,8%, segundo o IBGE. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado subiu de 0,639 (2010) para 0,676 (2021), superando o crescimento médio dos estados do Norte e Nordeste.

    Os dados mais recentes reforçam essa trajetória. De acordo com a FGV (IBRE), com base na PNAD Contínua, o Maranhão reduziu em 10,5 pontos percentuais a taxa de pobreza extrema entre 2021 e 2023, passando de 22,8% para 12,2%, uma das quedas mais expressivas do país. Já a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, publicada em 2021, apontou o Maranhão como o quarto estado brasileiro que mais reduziu a pobreza entre 2019 e 2020, com queda de 5,6 pontos percentuais.

    Naquele ano, atingimos o melhor índice da série histórica: pela primeira vez desde 2012, a taxa de pobreza ficou abaixo dos 50%, alcançando 48% da população. Um resultado que reflete o esforço concreto de políticas públicas estruturantes, mesmo num contexto nacional adverso.

    Na educação, mais de 1.400 escolas foram construídas ou reformadas. O programa Escola Digna, reconhecido nacionalmente, substituiu escolas de taipa por estruturas de alvenaria, ampliou a rede de tempo integral e impulsionou os resultados no IDEB. O Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia (IEMA) levou formação técnica e oportunidades para milhares de jovens, muitos deles os primeiros de suas famílias a concluírem o ensino médio.

    Na saúde, o Maranhão entregou oito grandes hospitais regionais em sete anos, descentralizando o acesso e levando atendimento especializado a regiões historicamente esquecidas. Leitos de UTI e de hemodiálise foram ampliados. A cobertura de ambulâncias foi reforçada, as filas reduzidas e o atendimento humanizado, algo que, anos antes, pareceria impossível. Mesmo durante a pandemia, o Maranhão se destacou: registramos a menor taxa de mortalidade por COVID-19 do Brasil.

    Na segurança pública, o símbolo do caos foi superado. Antes de 2015, o nome Pedrinhas era sinônimo de tragédia, manchete internacional pelas rebeliões, decapitações e facções que comandavam os presídios. O que aconteceu desde então?

    Acabaram-se as rebeliões. Acabaram-se as decapitações. Acabaram-se as ordens de comando criminoso de dentro das prisões. Pedrinhas virou página virada. E isso não foi mágica. Foi trabalho, investimento e política pública séria. Mais de dez novos presídios foram construídos ou reformados, com aumento de vagas, mais disciplina, controle e respeito aos direitos humanos. Hoje, o Maranhão é referência nacional em gestão prisional e ressocialização.

    E tudo isso foi feito com responsabilidade fiscal, valorizando o funcionalismo público, recuperando a capacidade de investimento do Estado e ampliando o diálogo com a sociedade civil.

    O que incomoda não são apenas os resultados. É o que eles simbolizam. O Maranhão deixou de ser o laboratório de uma política patrimonialista para se tornar referência em combate à desigualdade, políticas públicas eficazes e gestão voltada para as maiorias.

    Sim, ainda há pobreza. Sim, ainda há desigualdade. Mas negar que houve avanço é mentir com estatística. É ignorar o ponto de partida, desconsiderar o contexto nacional e fingir que oito anos poderiam, sozinhos, reparar o atraso de todo um século.

    A verdade é que o governo Flávio Dino, do qual tive a honra de fazer parte, quebrou ciclos, enfrentou estruturas, desconcentrou poder e devolveu dignidade a milhões de maranhenses.

    E talvez seja exatamente isso que tanto incomoda.

    Porque, diante dos fatos e dos bons dados, nem a má-fé estatística consegue vencer.

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