A vida da professora e música Tayla Maturo, de 24 anos, é corrida. Começando a empreender no próprio negócio, em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, ela disse não ter tempo para pesquisar sobre política durante o dia a dia. Mal consegue acompanhar o noticiário na televisão, e boa parte das informações que chegam até ela vem por meio das redes sociais. Para fazer a sua escolha de um candidato a deputado federal, nas eleições de outubro, Tayla já sabe a quem recorrer e ouvir: sua mãe, Regiane.
“Eu com certeza vou sentar e conversar com a minha mãe para ter uma noção, porque ela entende melhor sobre os candidatos”, disse a professora. Regiane, segundo Tayla, tem mais experiência e conhecimento sobre os problemas da região onde vivem e está por dentro dos projetos dos candidatos. “Na última eleição, foi ela que contextualizou para mim as informações de cada um. Disse que ia votar em determinado candidato por causa de determinados motivos”, afirmou a jovem.
Assim como Tayla, quase metade do eleitorado brasileiro (49%) considera, de alguma forma, a opinião da família na hora de decidir o voto para deputado federal. É o que aponta levantamento realizado pela Quaest Pesquisa e Consultoria em junho, a pedido do RenovaBR. Desse total, 22% disseram levar muito em conta o que pensam familiares e parentes na escolha de um nome para uma vaga no Legislativo.
Falta de informação
“As pessoas também consideram a opinião da família para o voto para o Executivo, mas, no caso do Legislativo, isso é mais acentuado justamente pela falta de informação que a gente tem, seja sobre o trabalho dos atuais deputados e senadores, seja sobre os candidatos”, afirmou a cientista política Carolina de Paula, pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em um cenário no qual oito de cada dez eleitores entrevistados afirmaram já ter o voto para presidente da República decidido, segundo levantamento do Instituto Datafolha, os candidatos à Câmara dos Deputados acabam ficando em segundo plano.
Na avaliação de analistas ouvidos pelo Estadão, a maneira como o sistema eleitoral brasileiro é desenhado e a falta de conhecimento da população sobre o papel dos parlamentares contribuem para essa menor atenção ao voto para deputado e, consequentemente, para as realizações (ou falta delas) durante o mandato de cada congressista.
Opiniões
Para além da família, outros atores também influenciam na escolha de um candidato a deputado federal. A pesquisa Quaest mostrou que 42% dos entrevistados consideram a opinião dos candidatos a presidente, 35% ouvem colegas de trabalho e 25% consultam padres, pastores ou líderes religiosos para decidir o voto para a Câmara.
E essa tendência varia conforme a ideologia. Eleitores de centro, por exemplo, costumam levar menos em conta opiniões externas na hora de se decidir por um nome. Os que se dizem de direita, por sua vez, dão mais importância para a opinião de familiares e parentes do que eleitores de esquerda, conforme a pesquisa.
Estratégia
Na outra ponta, marqueteiros estudam esse comportamento do eleitor para moldar as campanhas de candidatos a deputado federal. A mobilização, em geral, se dá em duas frentes: na internet, com ações nas redes sociais e no WhatsApp, e em eventos presenciais.
“Os militantes são orientados a criar ‘subgrupos’ de WhatsApp com amigos e parentes que possam ser espaço de debate para divulgar um determinado candidato”, disse o estrategista de marketing político Fred Perillo. Ele trabalha há 25 anos na área e, neste ano, coordena campanhas de deputados em quatro Estados – os partidos vão do PL, sigla do atual presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, ao PT, legenda do ex-presidente e também candidato ao Palácio do Planalto em outubro, Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o estrategista, as campanhas são organizadas basicamente em três fases. A primeira, que vai geralmente até o fim de agosto, é a de lançamento do candidato. Depois disso, tem a fase de “sustentação”, na qual se apresentam as propostas com mais detalhes, seguida, então, pelo pedido de voto, na reta final. “Nossos militantes vão pedir voto e recomendar o candidato para quem eles conhecem, como parentes, amigos e vizinhos”, afirmou Perillo.
É nesta etapa que o candidato será “vendido” para o grupo de apoio gestado durante a campanha, já que, segundo o estrategista, de 30% a 40% dos votos são conquistados nesse período. “A estimativa é que pelo menos metade dos eleitores chegue aos últimos dez dias antes das eleições ainda sem candidato. Desse contingente, 30% tendem a votar na recomendação de parentes e de amigos.”
Já a associação de uma candidatura a deputado federal à imagem de um presidenciável requer uma estratégia mais específica e varia de acordo com o perfil de cada eleitor. Candidatos com pautas mais ideológicas são os que, normalmente, mais se beneficiam do movimento, considerando o cenário altamente polarizado das eleições deste ano.
“O eleitor acusa os candidatos que são do mesmo partido de um candidato à Presidência da República, mas que não comungam dos mesmos ideais, de estarem sendo oportunistas, de estarem pegando carona na outra candidatura”, afirmou Perillo.
Última hora
Uma parte considerável de votos é decidida dias, às vezes horas, antes da eleição. Esse “imediatismo” no momento da definição do candidato reflete diretamente na maneira como o Congresso se forma, na avaliação da diretora executiva do RenovaBR, Irina Bullara. “As pessoas escolhem em quem vão votar na última semana ou nas últimas 48 horas. Isso significa que elas não estão acompanhando”, disse Irina.
Ela também atribuiu esse distanciamento da política a um certo desconhecimento da população sobre o assunto e à falta de tempo para se inteirar sobre os candidatos em meio às tarefas do dia a dia. “Eu não acompanho política, mas sei que, se alguém em quem confio está me indicando, então o candidato deve ser bom”, exemplificou Irina. O RenovaBR é uma escola de formação política que prepara candidatos justamente para ingressar no Poder Legislativo.
Esse cenário apontado por Irina é ainda mais presente entre jovens e mulheres, de acordo com o diretor da Inteligência da Quaest, Guilherme Russo. “A gente vota como conjunto, como família. Em vez de dividir, somamos votos”, afirmou ele.
Além da relação familiar, a proximidade com as pautas apresentadas pelos candidatos a deputado faz com que o eleitor busque propostas que dialoguem com a região onde vive. Não à toa, as opiniões de candidatos ao governo do Estado e de prefeitos também são levadas em conta pelo eleitorado. “Vai ter, obviamente, um grupo de mais jovens, por exemplo, que pode se utilizar dos influenciadores para decidir o voto, mas a maioria vai usar essa lógica mais familiar e regional”, afirmou Russo.
Esse contexto de pouco conhecimento da função dos parlamentares pode ser visto nos números. Como mostrou o Estadão, em julho, a maior parte do eleitorado não lembra em quem votou nas últimas eleições, tampouco sabe o que um deputado faz. “As pessoas se sentem cada vez menos representadas nos deputados, mas não acompanham o trabalho deles”, afirmou a pesquisadora Carolina de Paula, da UERJ.
Definição
A pesquisa Quaest trouxe percepções relevantes sobre a relação dos eleitores com o Poder Legislativo. Além da falta de memória sobre o voto para deputado em 2018 – 66% disseram não se recordar do candidato escolhido –, 55% dos entrevistados afirmaram que não sabem qual é a atuação de um congressista na Câmara dos Deputados.
A indefinição do voto também foi significativa: 85% disseram, em junho, que ainda não haviam decidido por um candidato a deputado federal. De acordo com o levantamento da Quaest, 47% declararam que vão definir o voto com um mês de antecedência, 12% afirmaram que vão escolher um candidato 15 dias antes do pleito e 36% disseram que a decisão ficará para a última semana antes do primeiro turno, em 2 de outubro. (Estadão)