Às vésperas do fim do prazo para mudanças de partido antes das eleições de outubro, encerrado na sexta-feira, os ministros Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), André de Paula (Pesca), André Fufuca (Esporte) e Jader Filho (Cidades) fizeram uma ofensiva para filiar pré-candidatos a prefeito em suas bases eleitorais. As negociações para atrair novos correligionários têm ocorrido em meio ao anúncio de recursos federais para obras como asfalto e creche, além de promessa de ajuda aos que forem eleitos.
Dos quatro ministros, Costa Filho foi o que se mostrou mais atuante na tarefa de engrossar as fileiras do seu partido, o Republicanos, tendo participado de ao menos 17 eventos de filiação nos últimos 40 dias. Nas cerimônias, além de posar para fotos ao lado dos novos aliados, anunciou investimentos nas cidades pernambucanas nas quais sua sigla irá concorrer. O acesso a verbas federais e a proximidade com autoridades em Brasília costumam ser usados como arma eleitoral nas campanhas.
Procurado pelo GLOBO, Costa Filho nega que haja qualquer irregularidade na liberação dos recursos públicos, parte deles proveniente de emendas que apresentou como deputado federal, cargo do qual se licenciou para assumir o ministério.
— Não entendo como conflito de interesse o trabalho realizado como deputado com minha atuação política no estado — disse ele.
‘Me cobrem’
A atuação política, contudo, envolve até mesmo a promessa de mais verba para onde seus aliados vencerem as eleições. No dia 9 de março, por exemplo, Costa Filho esteve em Itapissuma, cidade a 40 quilômetros de Recife, para participar da filiação ao Republicanos do atual presidente da Câmara Municipal, GG de Zé Antônio, até então no PTB.
De cima de um palco improvisado, Costa Filho fez uma série de promessas para o caso de Antônio conquistar a prefeitura em outubro.
— E eu já quero assumir um compromisso. Vocês ganhando a eleição, e nós vamos ganhar, nós vamos ao presidente Lula e vocês já podem contar com R$ 2 milhões de asfalto para a gente mandar no próximo ano — discursou o ministro na ocasião. — Podem anotar e me cobrem — acrescentou.
Adversário político do grupo apoiado por Costa Filho, o atual prefeito da cidade, José Tenório Bezerra Filho (PSD), reclama da vinculação da liberação de verba pública à vitória do rival.
— Isso desequilibra o jogo eleitoral. Recurso público é do povo, independentemente de quem seja o candidato. Condicionar isso à eleição de alguém é uso eleitoreiro — afirmou Bezerra Filho, que apoia um nome do PSD para sucedê-lo.
Um dia depois de participar do evento em Itapissuma, Costa Filho foi a Terezinha, no semiárido pernambucano, para anunciar a filiação do ex-vice-prefeito da cidade Arnóbio Gomes, nome apoiado pelo atual prefeito, Matheus Martins (PSB).
Ao GLOBO, Martins afirmou que a ida de seu grupo político para o Republicanos é uma “retribuição” pela ajuda que o ministro deu à cidade. Ele atribui a Costa Filho as articulações para destinar recursos para a construção de uma creche e para a pavimentação de vias.
— Ele tem ajudado o município. Então, nada mais justo do que a gente se engajar junto com ele no partido — disse o prefeito. Arnóbio Gomes, o pré-candidato, vai na mesma linha: — É uma via de mão dupla. Ele ajudou o meu prefeito. Se a gente ganhar a eleição, ele vai ajudar a gente também, e fica tudo resolvido — afirmou o novo integrante do Republicanos.
Concorrência
A ofensiva de Costa Filho para conquistar prefeituras em Pernambuco, contudo, tem esbarrado nas movimentações de André de Paula, seu colega de Esplanada dos Ministérios e conterrâneo. Foram ao menos dez eventos em março para anunciar novas filiações. Procurado, o ministro não retornou aos contatos.
Uma dessas filiações foi a de Irlando Parabólicas, prefeito de Santa Cruz da Baixa Verde, a 360 quilômetros da capital, Recife. Após ser eleito em 2020 pelo PP, Parabólicas deve concorrer à reeleição pelo PSD de André de Paula. Embora a Pesca tenha um dos menores orçamentos da Esplanada, o ministro recebeu agradecimentos do prefeito nas redes sociais pela ajuda para conseguir verba da Agricultura.
A articulação para conquistar recursos de outras pastas também ajudou André de Paula a convencer o prefeito de Gameleira, Leandro Ribeiro, a trocar o PL pelo PSD. O pré-candidato à reeleição na cidade, que fica a 95 quilômetros de Recife, também havia usado as redes sociais para agradecer a influência do ministro para conseguir verba para sua prefeitura.
Mas a articulação de ministros em busca de novos filiados não se restringiu a Pernambuco. Na quarta-feira, a dois dias do fim do prazo de filiações, Fufuca esteve no município de Caxias, a 368 quilômetros de São Luís, para anunciar a entrada no PP do pré-candidato a prefeito Gentil Neto, sobrinho do atual ocupante do cargo, Fábio Gentil (Republicanos).
Entre janeiro e março deste ano, quando a entrada do seu sobrinho no PP era discutida, o prefeito Fábio Gentil assinou três convênios com a pasta de Fufuca, que totalizam R$ 2 milhões, para investimentos no esporte municipal. Em nota, o ministro disse que as filiações representam o “reconhecimento da importância” do PP no Maranhão e que não têm relação com os repasses. Pré-candidato ao Senado, Fufuca tem feito o mesmo com outros prefeitos e lideranças políticas do Estado, anunciando a construção de espaços esportivos comunitários, quadras e reforma de estádios.
Jader Filho, que além de ministro é presidente estadual do MDB do Pará, esteve há duas semanas em Cametá, a 237 quilômetros de Belém, para anunciar uma leva de filiações à sua sigla. O prefeito da cidade, Victor Cassiano (MDB), que concorrerá à reeleição, disse que o evento oficializou a entrada de vereadores e secretários municipais na legenda.
Dez dias antes, em 12 de março, Cassiano anunciou que a cidade havia sido contemplada com R$ 24 milhões, que devem ser aplicados na construção de equipamentos escolares e de saúde, além da compra de um ônibus escolar. A articulação para que os recursos fossem direcionados à sua prefeitura, segundo ele, foi de Jader Filho.
Antes disso, o ministro esteve em Abaetetuba, a 124 quilômetros de Belém, para um ato de filiação da prefeita Francineti Carvalho, que deixou o PSDB para ingressar no MDB.
Em nota, o ministro afirmou que participou dos eventos na condição de dirigente partidário e que, apesar da menção do prefeito, não interferiu na liberação dos recursos.