• Grupo de Sarney busca revanche no Amapá

    A eleição no Amapá pode ter sabor de revanche para o grupo político do ex-presidente José Sarney (MDB), cujos aliados sofreram uma série de derrotas impostas pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (União Brasil). A candidata do MDB ao Senado, Rayssa Furlan, despontou na pré-campanha como ameaça à reeleição do influente ex-presidente da Casa.

    Na sucessão estadual, o grupo do governador Waldez de Góes (PDT) rachou, enquanto Alcolumbre e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), até então adversários locais, uniram-se em uma frente ampla contra o candidato do bolsonarismo.

    Em 2014, o então deputado federal Davi Alcolumbre derrotou Gilvam Borges (MDB) no embate pela única vaga ao Senado, impedindo o fiel aliado de José Sarney de renovar o mandato. Em 2018, Alcolumbre amargou o terceiro lugar na corrida ao governo, ficando atrás de Waldez, que se reelegeu, e do ex-governador João Capiberibe (PSB).

    Alcolumbre retornou ao Senado disposto a se colocar como alternativa ao senador Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela Presidência da Casa. Apesar da aproximação de Renan do ministro Paulo Guedes (Economia), no esforço de diminuir a resistência do presidente Jair Bolsonaro ao seu nome, Alcolumbre apresentou-se como nova liderança, e, com o apoio do Planalto, venceu Renan, impondo a segunda derrota a um aliado histórico de Sarney.

    Três anos depois, o MDB de Sarney investe agora na candidatura ao Senado da primeira-dama de Macapá, Rayssa Furlan. Aos 35 anos, médica, mãe de quatro filhos, ex-secretária municipal de Participação Popular, a “Doutora Rayssa” (como se apresenta ao eleitor), disputa pela primeira vez um cargo eletivo, e é a novidade da eleição. Quem encabeça a chapa majoritária na disputa ao governo é o aliado de Sarney, Gilvam Borges, presidente regional do MDB.

    O marido de Rayssa, o prefeito de Macapá, Doutor Furlan (Cidadania), derrotou Josiel Alcolumbre (DEM), irmão de Davi, no pleito municipal de 2020. Naquele ano, então presidente do Senado, Alcolumbre apostou todo o capital político e as emendas milionárias que destinou ao Estado na vitória do irmão. O Amapá havia sido atingido por um apagão enérgico, que deixou às escuras as principais cidades. Com receio de que o incidente contaminasse a campanha do irmão, Alcolumbre até articulou para que o pleito fosse adiado em um mês.

    Alcolumbre lidera as pesquisas para o Senado, e indicou o irmão Josiel como primeiro suplente. Mas o desempenho de Rayssa surpreendeu. Em pouco mais de duas semanas, mesmo com a confirmação tardia da candidatura, ela aparece com cerca de dez pontos atrás do ex-presidente do Senado, e em empate técnico com Capiberibe.

    “Não é a primeira vez que a gente disputa uma eleição contra o grupo de Sarney”, disse Davi Alcolumbre ao Valor. “Vencemos em 2014, e desta vez, temos um trabalho de muito êxito, um mandato que fez pelo Amapá coisas que há 30 anos o Estado não via. Isso será reconhecido”, afirmou o presidente da CCJ.

    Fontes do MDB local estão confiantes de que Rayssa reduzirá a distância de Alcolumbre em breve, porque ela tem o apoio da máquina municipal e do marido que está bem avaliado na prefeitura. Macapá concentra mais de 60% do eleitorado do Estado.

    “Nossa candidatura se opõe ao atraso que se faz presente no Estado há décadas, e nasce do clamor por mudança”, disse Rayssa ao Valor. “Os índices de desenvolvimento humano são muito ruins e isso se deve ao descaso de quem ocupa cargos apenas pelos projetos pessoais de poder”, completou.

    Um interlocutor de Alcolumbre vê o prefeito de Macapá medindo forças com o seu grupo. Isso porque, depois de Sarney, coube a Alcolumbre recolocar o Amapá no mapa das discussões políticas. “Eles o veem como uma força a ser abatida”, avaliou a fonte. Esse mesmo interlocutor observou que, embora a máquina de Macapá se volte contra ele, o senador conta com o apoio de 15 dos 16 prefeitos do Estado, e tem ampla vantagem em Santana, segunda maior cidade.

    Na sucessão estadual, o grupo de Waldez dividiu-se: o governador indicou o candidato a vice Antônio Teles Júnior (PDT) na chapa liderada pelo ex-prefeito de Macapá Clécio Luís (Solidariedade). Em contrapartida, o principal adversário de Clécio é o vice-governador Jaime Nunes (PSD), que também é aliado de Waldez, encabeça as pesquisas, e tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Os grupos de Alcolumbre e do senador Randolfe Rodrigues, que rivalizaram na eleição para a Prefeitura de Macapá, agora se uniram em torno de Clécio para tentar evitar a vitória de Jaime Nunes. “Construímos uma frente ampla contra os candidatos do bolsonarismo, nossa divisão só iria favorecê-los”, justificou Randolfe ao Valor.

    A frente ampla contra o bolsonarismo e a favor de Clécio Luís, entretanto, conta com o próprio PL, legenda de Bolsonaro, além de PP e Republicanos, que estão com o presidente na eleição nacional; os outros partidos que apoiam o candidato do Solidariedade são PDT, União Brasil, PSDB e Cidadania. Ele tem apoios informais de PSB, PT, PCdoB e PV, Rede e PSOL, que caminham com Capiberibe na disputa ao Senado. O ex-governador aparece em terceiro lugar, atrás de Alcolumbre e Rayssa.

    Em outra frente, outro grupo de partidos que apoiam a reeleição do presidente Bolsonaro, formal ou informalmente, uniram-se na coligação de apoio a Jaime Nunes: Patriota, PTB e PSC. (Do Valor Econômico)

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    1. Enquanto isso no Maranhão, os Sarneys estão todos em paz com Carlos Tampão e Flávio Dino, o mais novo filhote da oligarquia.

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