Um mapa que mostra os locais onde havia concentração de votos ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi usado, segundo a Polícia Federal, na reunião em que foi discutida uma operação para dificultar o deslocamento de eleitores no segundo turno. É o que mostra a investigação da PF que levou ao cumprimento de um mandado de prisão contra o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e de dez mandados de busca e apreensão contra dirigentes da corporação.
O documento estava no celular da delegada federal Marília de Alencar, então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, sob a gestão de Anderson Torres. Em depoimento, ela afirmou que a área técnica da pasta foi demandada por Torres para levantar a quantidade de agentes de cada corporação que poderiam ser usados no dia da votação.
“É relevante observar que, conforme o tópico anterior deste relatório, havia uma reunião agendada com o ministro para 11h. Sendo assim, como esta imagem foi capturada às 11h23, há fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião”, explica a PF na representação pelos mandados feita ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No arquivo periciado, há uma foto de uma folha de papel com a impressão de um painel com o título “Concentração maior ou igual a 75% – Lula”. Na página, também aparece um mapa do Brasil e uma lista de cidades, como Barreirinhas, no Maranhão. Lula tinha 78,54% enquanto Jair Bolsonaro (PL) tinha 17,48%. A cidade tem como prefeito Dr. Amílcar, do PCdoB.
“Na coluna “BOLSONARO”, há indicativo de um total de 1.485.294 votos, seguida pela coluna “LULA” com número total de 7.743.713. As colunas de percentuais apontam 15,37% na coluna “% BOLSONARO” e 80,15% na coluna “% LULA”. Há também uma coluna final de partidos”, ressalta a PF.
De acordo com as investigações, esse planejamento foi encaminhado ao então superintendente da PF na Bahia, Leandro Almada. Às vésperas do segundo turno, Torres viajou à Bahia para uma reunião com Almada na qual pediu que a corporação trabalhasse junto com a PRF nas operações de 30 de outubro.
Naquele dia, segundo dados do Ministério da Justiça, a corporação parou 324 ônibus em estradas do Nordeste, onde Lula obteve seus maiores índices de votação, enquanto no Centro-Oeste foram 152; no Sudeste, 79; no Norte, 76; e no Sul, 65. Segundo o atual diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, a atuação da polícia na ocasião foi “desproporcional” no Nordeste, com mobilização superior à empregada durante as festividades de São João, maior operação da corporação na região.
A PF apurou ainda que, às 15h26min do dia 18 de outubro, foi elaborado ou modificado um arquivo Excel encontrado na área “Documentos” do telefone de Marília com o nome “BA_ELEICOES_.xlsx”. Esse arquivo traz as colunas “QTD EQUIPES”, “BASE”, “TOTAL DE ELEITORES” e “ALCANCE NO ESTADO”, que indicariam, segundo os investigadores, o possível alcance de eleitores pelas equipes da PRF, abrangidos pelas suas bases/pontos fixos.
Diferença no número de ônibus fiscalizados
Na representação que embasou a determinação o deferimento dos mandados, a Polícia Federal chama de “autoexplicativa” a diferença no número de ônibus retidos e fiscalizados na região Nordeste para as demais regiões do país durante o segundo turno das eleições de 2022.
“Ao se analisar os dados de fiscalização e retenção de ônibus no dia da votação do Segundo Turno das Eleições de 2022, 30/10/2022, as diferenças chamam ainda mais a atenção, sendo que os números são autoexplicativos”, aponta a PF.
A PF usou dois gráficos para mostrar a que se referia ao utilizar a palavra “autoexplicativo”. Em um deles, o total de ônibus fiscalizados no dia do segundo turno das eleições na região Nordeste aparece como 324, seguindo por 152 na região Centro-Oeste, 79 na região Sudeste, 76 na região Norte e 65 na região Sul.
O total de ônibus retidos no dia 30 de outubro de 2022 também é mostrado pela PF em um gráfico onde se vê nove veículos na região Nordeste contra dois na região Norte, um na região Centro-Oeste, um na região Sudeste e nenhum na região Sul.
Ainda de acordo com a argumentação da PF ao Supremo, além dos números de ônibus retidos ou fiscalizados, também chamou a atenção dos investigadores um ofício emitido pelo Diretor-Geral da PRF no qual consta que “houve inicialmente a emissão de um único Plano de Trabalho, datado em 27 de setembro de 2022 que englobaria as operações do 1o e 2o turnos, caso houvesse”.
Mas que, depois, houve um novo plano de trabalho, chamado “2º Turno” emitido às vésperas do pleito, em 26 de outubro. Essa nova regra teria surgido após deliberação do diretor-geral da PRF, e continha a previsão de fiscalização de transporte de passageiros, “que não foi abarcada no planejamento inicial, havendo, portanto, diferença de procedimentos entre o 1o Turno e o 2o Turno das Eleições”. (Com informações de O Globo)