Cotada para assumir o Ministério da Saúde, a cardiologista Ludhmila Hajjar perdeu a preferência na lista de nomes avaliados pelo governo para o cargo. A indicação da médica perdeu força no mesmo dia em que ela foi recebida pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Ao longo deste domingo, chegaram a Bolsonaro informações que circulam nas redes sociais sobre declarações da médica nos últimos anos, incluindo um áudio atribuído a Hajjar em que o presidente é chamado de “psicopata”.
No áudio, recebido por Bolsonaro após se encontrar com a cardiologista no Planalto, a interlocutora defende a eleição do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), para presidente, chamando-o de “corajoso”. No início da pandemia da Covid-19, Caiado determinou medidas de restrição de circulação e confrontou Bolsonaro por declarações em que o presidente minimizava o impacto do vírus.
— Nem sei o que vai acontecer com esse Brasil. Vai pegar fogo. Só sei que quero o Caiado presidente, só isso. Porque ele foi corajoso. Chega. Tem que cair esse JB. É um psicopata — disse a mulher no áudio enviado ao presidente e ao qual O GLOBO também teve acesso.
Nas redes sociais, seguidores do presidente reagiram com críticas à possibilidade de nomeação de Ludhmilla, citando um vídeo em que a médica aparece numa conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff. A cardiologista também é criticada pela militância bolsonarista por defender posicionamentos que são consenso na comunidade científica, como a inexistência de um “tratamento precoce” eficaz contra a Covid-19, além da adoção de medidas de isolamento social.
Depois que O GLOBO divulgou que a demissão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, estava definida pelo presidente Bolsonaro e que Ludhmila era uma das cotadas para o cargo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) saiu em defesa da cardiologista. “Coloquei os atributos necessários para o bom desempenho à frente da pandemia: capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas. São exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu Lira.
“Espero e torço para que, caso nomeada ministra da Saúde, consiga desempenhar bem as novas funções. Pelo bem do país e do povo brasileiro, nesta hora de enorme apreensão e gravidade. Como ministra, se confirmada, estarei à inteira disposição”, complementou o presidente da Câmara em outra publicação.
A possível demissão de Pazuello vem sendo discutida por Bolsonaro desde o início do fim de semana, em meio à pressão de parlamentares do Centrão.
Em nota divulgada neste domingo, o Ministério da Saúde disse que “até o presente momento” Pazuello segue à frente da pasta, “com sua gestão empenhada nas ações de enfrentamento à pandemia”. Através de um assessor, Pazuello afirmou, em uma rede social, que não está doente, mas que entregaria o cargo “assim que o presidente solicitar”.
“Não estou doente, não entreguei o meu cargo e o presidente não o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da saúde no combate ao coronavírus e salvando mais vidas”, escreveu o assessor, atribuindo as aspas ao próprio Pazuello.