• Milhões para ampliação da Litorânea em São Luís pelo governo são para atender poderoso corretor

    Agência Tambor – “Se vocês não cobram, a gente pensa que está acertando, e muitas vezes a gente está errando e continua errando porque as pessoas não reclamam”. A fala é do presidente Lula, em dezembro de 2022, poucos dias antes da sua posse.

    Na cidade de São Luís do Maranhão, Lula está sendo levado ao erro. O problema passa pela ampliação da Avenida Litorânea, um erro de 237 milhões, com recursos federais.

    Foi dito para o presidente Lula que se trata de uma “obra fundamental para a mobilidade urbana” e que existiria um “clamor popular” por esta ampliação. Não é verdade.

    No último dia 18 de junho, foi realizada uma audiência pública para tratar da mobilidade urbana de São Luís, convocada pelo Ministério Público Estadual. Participaram organizações da sociedade, além de lideranças comunitárias, professores, pesquisadores e especialista no assunto.

    O evento no Ministério Público apontou graves problemas. Mas a ampliação da Avenida Litorânea não foi citada, nem de longe, como uma prioridade para a solução desses entraves. Não faria qualquer sentido.

    O professor Frederico Lago Burnett fez uma palestra na referida audiência. Ele é arquiteto, urbanista, pesquisador, autor de livros e professor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

    A afirmação de que a Litorânea é estratégica para a mobilidade de São Luís “é uma falácia”, diz Frederico. Ele registra o óbvio: “As pessoas de alta renda de São Luís moram na Litorânea ou próximos dela”. E enfatiza que “as demais classes”, que representam a imensa maioria do município, “vivem bem distantes”.

    237 milhões

    A ampliação da Avenida Litorânea só atende ao interesse de grandes construtoras, que querem avançar sobre uma área da Ilha de São Luís, ainda pouco ocupada. Querem fazer e vender condomínios próximos da praia.

    O absurdo atinge a mesma orla que tem um histórico de poluição, exatamente por conta desse tipo de condomínio. Banhar nas praias de São Luís não é algo seguro para as pessoas, por conta de uma expansão imobiliária que ignora padrões de civilidade.

    O geógrafo Luiz Eduardo Neves dos Santos, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tratou do assunto e diz que a “obra é inútil. Ela não atende ao interesse público. O pior é que esta ampliação da Avenida Litorânea certamente vai aumentar nossos problemas sociais e ambientais”.

    Luiz Eduardo, assim como Frederico Lago Burnett, participa do Movimento de Defesa da Ilha. Ele diz que “estamos falando de uma obra muito cara, que envolve 237 milhões. Para ele, “este dinheiro certamente pode ser utilizado para resolver problemas graves e verdadeiros, que existem hoje em São Luís”.

    Autor do livro O Urbano Ludovicense, Luiz Eduardo reforça que “ampliar a Avenida Litorânea não é prioridade em São Luís. A obra só atende ao interesse do mercado imobiliário e suas construtoras”.

    Negacionismo evidente

    É importante que o presidente Lula realmente conheça os graves problemas de São Luís.

    O número de casos de mortes em consequência de câncer e de doenças respiratórias cresceu em São Luís, acima da média nacional. É o que diz o DATASUS. As prioridades no município passam por sua despoluição, pois vem sendo atacado brutalmente pelo carvão mineral.

    É preciso monitorar e melhorar a qualidade do ar de São Luís, além de investir em saneamento, pois rios, mangues e praias são utilizados como esgoto.

    A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disse, há poucas semanas, num documento encaminhado para autoridades, que em São Luís está havendo “violação do direito à saúde”.

    O abastecimento de água é outra questão séria. Há 40 anos o município, que fica em uma ilha, utiliza água vinda do continente e todos os dias se observa a circulação de carros pipas em São Luís.

    O transporte público e a mobilidade urbana também são prioridades. Mas a solução do problema passa necessariamente pela contenção do lucro das empresas de construção civil. O inchaço desordenado da cidade só agravará os problemas.

    A História ensina
    “Governador ou corretor?” Este foi o título de um artigo publicado no dia 4 de outubro de 1968, no antigo jornal de José de Ribamar Bogéa.

    De autoria do deputado federal Domingos Freitas Diniz, o texto foi publicado na primeira página do impresso, tendo enorme repercussão.

    O artigo denunciou José Sarney, então governador do Maranhão, acusado de tomar medidas para beneficiar uma grande construtora de Minas Gerais.

    Pego com “a boca na butija”, o governador se aproveitou do ambiente da ditadura e processou o jornalista Bogéa e Freitas Diniz, mas ambos ficaram livres de condenação pelo STF.

    O antigo texto de Freitas Diniz – que hoje é objeto de pesquisa de historiadores – serve para alertar sobre a ampliação da Avenida Litorânea.

    Trata-se de uma bomba relógio. São 237 milhões, dinheiro do contribuinte, que estará a serviço de obra que só interessa para empresas de construção civil, expansão do mercado imobiliário e velhas oligarquias.

    Fica registrado. A história confirma. Existe político que ignora o interesse público, para atuar como corretor de imóveis.

    3 respostas

    1. Primeiramente isso não é culpa do Governo Federal e sim do governador e parlamentares que com certeza estão dando esse prioridade nessa obra. Então vão cobrar os políticos do Maranhão e não do governo federal pq quem indica obra no seu Estado são os políticos do próprio Estado.

    2. Absurdo essa indução ao erro. Lula tinha que ter responsabilidade de investigar a relevância social dessa obra e preocupação com a verdade. Será que ele é ingênuo?? Meu Deus 🙄

    3. A obra até que é necessária, assim como é preciso uma reforma completa na av. Litorânea já existente, que está horrível, com um monte de puxadinho, piso irregular, areia invadindo calçada, colocação de semáforos, etc. Mas eu duvido que ela vá sair do papel nos próximos dois anos. Primeiro porque o gov. Federal não tem dinheiro e segundo tem o licenciamento ambiental que ainda não foi concluído.

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