• Ministro mais popular nas redes até deixar o governo, Dino não tem substituto no Planalto para a batalha digital

    A saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal deixou um vácuo na comunicação do governo e no enfrentamento da oposição via redes sociais. Levantamento da consultoria Bites, feito a pedido do GLOBO, mostra que nenhum dos atuais 38 ministros conseguiu ocupar o mesmo espaço, evidenciando a falta de articulação em uma área na qual a gestão Lula tem patinado desde o início do mandato.

    A análise da consultoria aponta que o titular da Educação, Camilo Santana, foi quem chegou mais perto dos índices obtidos por Dino. A Bites elaborou um indicador de tração, que mede a capacidade de mover as discussões no mundo virtual considerando a quantidade de interações e comparando com determinados cenários. Ou seja, o quanto uma pessoa consegue criar uma “propagação em ondas” no Facebook, X (antigo Twitter), Instagram, YouTube e TikTok a partir de cada foto, mensagem ou post publicado. O titular da Educação foi responsável por 12,7% da tração nas redes sociais entre os ministros do governo nos dois primeiros meses do ano.

    Mesmo com a saída do governo anunciada, Dino foi responsável por 18,8% dessa tração no início do ano — ele só deixou o cargo em 1º de fevereiro. No ranking dos que ficaram, Camilo é seguido pelos ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos), Geraldo Alckmin (vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Paulo Pimenta (Comunicação Social). Com exceção do titular da Educação, contudo, todos os demais ficam abaixo de 10%.

    O vácuo do governo nas redes já acendeu um alerta no Palácio do Planalto, que tenta remodelar a estratégia digital diante de pesquisas que apontam a queda na popularidade de Lula. Um edital aberto no início do ano prevê R$ 197 milhões para a contratação de agências especializadas com o objetivo de tentar segmentar a comunicação do governo e cativar eleitores simpáticos ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

    Mas, além da comunicação institucional, o vácuo é também no embate com o bolsonarismo, que costuma ter o domínio do discurso no ringue virtual. Em entrevista ao GLOBO, Paulo Pimenta, responsável pela comunicação do governo, já avisou que, com a saída de Dino, os ministros precisarão “compensar” a presença nas redes.

    Realidade se impõe

    Como nenhum dos atuais ministros têm o mesmo perfil combativo de Dino, são as ações do próprio governo que acabam sendo diferenciais para o resultado nas redes.

    O desempenho de Camilo Santana neste início de ano, por exemplo, foi impulsionado pelo lançamento do programa Pé-de-Meia, anunciado no fim de janeiro e que criou uma poupança para os alunos do Ensino Médio.

    Diretor técnico da Bites, André Eler afirma que ministros que conseguem apresentar entregas são os que mais se destacam nas redes, como aconteceu com Santana:

    — Querendo ou não, o que a gente vê nessa leva mais recente é que o ministro que teve entrega foi o que conseguiu se destacar em relação aos outros. Tem um pouco da realidade se impondo às redes. (O Globo)

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