• O alívio de muitos se o caso ‘Rei do Lixo’ não cair nas mãos de Dino; R$ 39 milhões foram em propinas no Maranhão

    As chances de o caso do “Rei do Lixo” ser redistribuído no STF para Flávio Dino são mínimas. A Polícia Federal até pediu – e a Justiça Federal de primeira instância chancelou o argumento – que os autos fossem distribuídos para o ministro, em razão da relação da investigação com emendas parlamentares, mas o inquérito acabou indo para as mãos de Kassio Nunes Marques.

    O pedido para que Dino assumisse o inquérito foi analisado, ainda na semana passada, pelo então presidente em exercício do STF, Edson Fachin, para quem a distribuição dos autos da Operação Overclean deveria se dar por sorteio – o que ocorreu e pôs o caso no gabinete de Nunes Marques.

    Se desagradou os investigadores, a decisão de Fachin foi recebida com alívio pelos envolvidos no caso, incluindo parlamentares de relevo e outras autoridades ligadas ao principal alvo da operação, o empresário baiano Marcos Moura, suspeito de coordenar um esquema de distribuição de propinas em troca de contratos sustentados com dinheiro público -inclusive de emendas. A investigação tem amedrontado políticos de vários partidos (entenda aqui).

    Fachin optou pelo sorteio com base em casos que também têm ligação com emendas e estão a cargo de outros ministros que não Dino. Há, hoje, menos 13 procedimentos do tipo nos gabinetes de seis ministros: Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin, Gilmar Mendes, Nunes Marques e o próprio Dino. Os casos correm em segredo de Justiça.

    A possibilidade de o caso seguir para Dino era temida porque, especialmente no Congresso, a leitura é de que ele tem sido rigoroso no trato do tema emendas parlamentares. Em decisões recentes, o ministro tem exigido medidas para ampliar a transparência na distribuição dos recursos. Em um dos despachos, ele chegou a citar um episódio da Overclean, no qual um vereador de Campo Formoso (BA) que, ao ser alvo da PF, jogou uma sacola de dinheiro pela janela. O vereador é primo do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que chegou a ser apontado como favorito na disputa para suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara.

    A Operação Overclean começou investigando contratos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Durante o trabalho, os investigadores monitoraram um avião que seguia de Salvador para Brasília com R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo – eles acreditam que era propina para ser distribuída para autoridades.

    Marcos Moura, conhecido como o “Rei do Lixo”, é dirigente do União Brasil, por indicação do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, de quem é aliado. (Leonardo Fuhrmann)

    Pedido da PGR
    As chances de uma mudança na distribuição do caso no STF são mínimas. Dependeriam, especialmente, de um pedido da Procuradoria-Geral da República, que ainda não se manifestou sobre o assunto. Outro caminho seria o relator sorteado – Nunes Marques, no caso – declinar da competência caso considere que o caso tem relação com algum processo sob a relatoria de outro colega.

    Não parece, porém, ser essa a disposição de Nunes Marques no momento. Pessoas próximas a ele acreditam que não dá para entregar todos os casos de corrupção no Brasil a um único ministro – Dino – por dependência. Segundo esse entendimento, o caso que o colega tem hoje em mãos trata da liberação e da distribuição de emendas, e não propriamente de suspeitas de corrupção envolvendo esse instrumento. Qualquer desvio a partir daí seria uma nova investigação, sem ligação com o caso inicial. Ao menos oficialmente, os ministros ainda não conversaram sobre o assunto.

    R$ 39 milhões em propinas no Maranhão

    A Operação Overclean apura fraudes em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de engenharia, com movimentações suspeitas que chegam a R$ 1,4 bilhão e mira desvios em contratos de empresas ligadas ao irmãos Fabio e Alex Parente e a José Marcos de Moura, o Rei do Lixo, com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, estados e municípios.

    A Overclean passou a causar temor entre políticos após a PF apreender R$ 1,5 milhão, anotações e planilhas em um avião que viajava de Salvador para Brasília.

    Documentos encontrados em um avião que transportava R$ 1,5 milhão apontado como dinheiro de propina pela Polícia Federal atrelam repasses intermediados por um operador alvo da Operação Overclean a R$ 170 milhões em supostos contratos com o município de São Paulo e os estados de Maranhão, Pará e Piauí.

    Uma planilha apreendida pela Polícia Federal (PF) revela que o esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos de emendas parlamentares liderado pelo empresário Marcos Moura, conhecido como o “Rei do Lixo”, alcançava pelo menos 12 estados, incluindo o Maranhão, e movimentava valores superiores a R$ 824,5 milhões.

    O Maranhão aparece na planilha com um montante de R$ 39,3 milhões, posicionando-se entre os estados com os maiores valores identificados no esquema.

    De acordo com a PF, junto com o dinheiro e outros documentos “havia planilha indicativa de valores, entidades, pessoas vinculadas e possíveis contratos com os Estados de São Paulo, Maranhão, Pará e Piauí, atrelados à sigla ‘CA’, a sugerir Carlos André como responsável pelos ajustes, que totalizam a importância de R$170 milhões”.

    Segundo os investigadores, Carlos André aparece em conversas por aplicativo de mensagens com Alex Parente em que “solicita a realização de depósitos de vulto em contas de terceiros, sendo que muitos desses depósitos eram efetuados pela Empresa BRA Teles Ltda. ME”.

    A BRA Teles é apontada pela PF como de fachada, cujas contas bancárias são utilizadas pelos irmãos Parente “majoritariamente” para “pagamento de propina para servidores, quando a logística não permite a entrega do valor em espécie”.

    Carlos André também aparece em conversas com outros investigados na operação em que fala de “encomendas” a serem entregues “em sua casa, isto é, pessoalmente (afastando rastros), inclusive com menção à entrega de ‘robalos’”.

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