O ministro da Justiça, Flávio Dino, publicou um tuíte depois de uma entrevista do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ao jornal O Estado de S. Paulo, viralizar nas redes sociais.
“É absurdo que a extrema-direita (sic) esteja fomentando divisões regionais”, disse Dino, à suposta ideia de Zema. Inicialmente, o Estadão publicou a manchete segundo a qual Zema queria uma frente de Estados do Sul-Sudeste contra os do Norte-Nordeste. Após a repercussão negativa, o jornal mudou o título para “Zema anuncia frente para ‘protagonismo’ do Sul-Sudeste e quer direita unida contra a esquerda”.
De acordo com Dino, “precisamos do Brasil unido e forte”. “Está na Constituição, no artigo 19, que é proibido ‘criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si’”, publicou o ministro da Justiça. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães.”
A primeira versão da manchete da entrevista de Zema repercutiu de tal forma que o Estadão foi “checado” por internautas do Twitter. “O título dá a entender que será um bloco que busca prejudicar o Nordeste”, diz a checagem. “A intenção, porém, é defender os interesses do Sul e Sudeste e não criar um antagonismo com o Nordeste do Brasil.”
O que aconteceu
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada no sábado (5), Zema disse que os governadores do estados do Sul e do Sudeste montaram um consórcio para se opor politicamente aos estados do Norte e do Nordeste.
O grupo se chama Cossud (Consórcio Sul-Sudeste) e é presidido pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).
Na entrevista, Zema disse que o principal objetivo é se opor aos estados do Norte e do Nordeste no Congresso Nacional. Segundo ele, políticas que beneficiam esses estados prejudicam os membros do Cossud.
Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso.
Romeu Zema, governador de Minas Gerais
Panos quentes. Diante da enxurrada de críticas, Zema veio a público na noite de domingo (6) para dizer que a criação do consórcio “jamais será pra diminuir outras regiões”.
As críticas
O Consórcio Nordeste, que reúne os governadores da região, disse em nota que a fala de Zema insinua “um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste”. A nota é assinada pelo governador da Paraíba, João Azevedo (PSB), que preside o grupo.
Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.
Nota do Consórcio Nordeste
O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT-PI), chamou Zema de “maior inimigo da federação” em seu perfil no Twitter.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES), integrante do Cossud, também criticou Zema. No Twitter, disse que a entrevista do governador de MG reflete apenas “sua opinião pessoal”.
Até a noite de ontem (6), somente Eduardo Leite, entre os governadores que integram o Cossud, havia saído em defesa de Zema.
Em vídeo enviado ao UOL e depois divulgado em seu Twitter, o governador gaúcho disse que o Cossud não pretende fazer oposição ao Norte e ao Nordeste, como disse Zema.
A gente nunca achou até hoje que os estados do Norte e do Nordeste haviam se unido contra os demais estados do país. Pelo contrário, a união desses estados em torno da pauta que é de interesse comum deles serviu de inspiração para que a gente possa, finalmente, fazer o mesmo. Não tem nada a ver com frente de estados contra estados ou região contra região. Trata-se de nós nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante para os estados do Sul e do Sudeste.
Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.
Eduardo Ribeiro, presidente do Novo, partido de Zema, disse à Folha de S.Paulo que a fala de Zema foi descontextualizada. “A partir de uma manchete inverídica escala para um fato desses de maneira absolutamente desproporcional”, afirmou Ribeiro.