Presidente licenciado do Progressistas, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, vem tentando minimizar o apoio que seu partido tem dado à candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva em diversos Estados. Após o Estadão revelar que o próprio Ciro escondia em sua base eleitoral, o Piauí, a imagem do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, o Progressistas desautorizou uma aliança formal com os petistas no Ceará. O gesto, no entanto, foi limitado. Na sexta-feira, 5, último dia das convenções partidárias, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anulou a intervenção e retomou a aliança da sigla com a legenda de Lula. Além disso, o partido governista continua companheiro do PT em várias outras disputas estaduais.
PT e Progressistas estão juntos no Mato Grosso, Maranhão, Espírito Santo, Pará e Pernambuco, mas como o candidato a governador da coligação não é petista, as alianças nem chegaram a ser proibidas pela direção nacional. Em caráter reservado, um integrante da Executiva Nacional do Progressistas disse que não haverá “censura” para aqueles que quiserem apoiar Lula, mas o partido não permitirá que o ex-presidente apareça na propaganda eleitoral oficial dos candidatos da sigla.
A decisão de barrar alianças com candidatos do PT a governador acontece em meio à tentativa do ministro da Casa Civil e do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), de desvincular seus aliados de Bolsonaro. No plano nacional, Nogueira e Lira são os principais articuladores políticos do governo, mas, desde o ano passado, deram aval para alianças regionais com Lula. Além disso, os candidatos apoiados pelo Progressistas a governador do Piauí, Silvio Mendes (União Brasil), e de Alagoas, Rodrigo Cunha (União Brasil), escondem o presidente nas campanhas. No caso do Estado do próprio Ciro Nogueira, a legenda chegou a tentar proibir na Justiça a associação com Bolsonaro.
Em 2018, a determinação de barrar alianças com petistas para governos estaduais e de evitar expor Lula na propaganda eleitoral não existia. Naquele ano, Ciro Nogueira foi candidato à reeleição ao Senado e usou Lula em sua propaganda eleitoral. Na época, ele estava na coligação que levou Wellington Dias (PT) a ser reeleito governador. Nacionalmente o partido havia apoiado Geraldo Alckmin (então no PSDB) para a eleição presidencial. Agora, Dias vai disputar o Senado, e o ex-secretário de Finanças Rafael Fonteles vai concorrer ap governo do Estado. Após ato político na semana passada, em Teresina, o Tribunal Superior Eleitoral mandou remover um vídeo da campanha petista em que havia pedido de voto, o que é ilegal antes de 16 de agosto, quando começa a campanha formalmente.
No dia 30 de julho, o partido do Centrão já havia aprovado em convenção o apoio a Elmano de Freitas (PT) como candidato a governador do Ceará, mas a decisão foi cancelada pela direção nacional, e posteriormente retomada pelo TSE. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE), que é aliado do PT no Estado, avaliou o veto como uma forma de dar satisfação a Bolsonaro.
O emedebista citou os resultados da pesquisa Quaest realizada em julho e disse que Bolsonaro e o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, estão menos atrativos para os partidos devido aos baixos índices de intenção de voto.
“Aqui não pode apoiar o Ciro (Gomes), outro lado é o nosso, que é o Lula, outro é o Capitão Wagner (candidato a governador pelo União Brasil), que o Bolsonaro veio aqui e disse que era capitão lá e capitão cá, mas ele (Wagner) não quer se agarrar a Bolsonaro nem a pau. Aqui Lula tem 59%, Ciro tem 11% e Bolsonaro tem 18%”, disse o emebebista ao Estadão. O ex-senador também já esperava que o veto feito pela cúpula nacional do Progressistas fosse questionado na Justiça. “Acho que eles comeram mosca”.
No Mato Grosso, o deputado Neri Geller (Progressistas-MT) apoia Lula e terá o apoio do PT para ser candidato ao Senado neste ano. Geller já foi ministro da Agricultura da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Já em Pernambuco, o deputado Eduardo da Fonte, presidente do diretório estadual do partido e próximo de Ciro Nogueira, fechou aliança com Danilo Cabral (PSB), candidato a governador apoiado por Lula. O deputado pernambucano costuma participar de reuniões com o ex-presidente quando ele vai para o Estado.
Além das alianças formais nas coligações, o Progressistas também tem acenado ao PT com apoios informais. Na Bahia, embora o partido esteja na aliança do candidato a governador pelo União Brasil, ACM Neto, prefeitos da legenda apoiam o petista Jerônimo Rodrigues.
O presidente interino do Progressistas, deputado Claudio Cajado (BA), afirmou que a decisão de não estar com nenhum petista candidato a governador foi tomada para dar “coerência” ao partido. “Se o PT estiver na coligação sem ser cabeça de chapa, a gente coliga. Só o Ceará criou essa questão (de apoiar candidato a governador do PT). Não vamos coligar estadual com o PT porque é uma incoerência, estamos coligados com o presidente da República”. (Do Estadão)