A filiação de Geraldo Alckmin ao PSB está bem encaminhada, mas a negociação dos socialistas com o PT para a montagem de uma federação com os dois partidos vai de mal a pior.
Alckmin está decidido a migrar para o partido e já vem fazendo planos com os futuros correligionários. Mas algumas lideranças importantes do PSB não concordam com a junção das duas siglas e nem com a forma como o PT está conduzindo as negociações.
Entre elas estão a deputada Tábata Amaral (SP), o prefeito de Recife, João Campos (PE) e seus aliados no estado, além de políticos do partido no Rio Grande do Sul, do Espírito Santo e do Tocantins. O próprio presidente, Carlos Siqueira, anda impaciente.
Os pessebistas reclamam que os petistas querem avançar com a federação sem aceitar nenhuma das exigências que fizeram para abrigar Alckmin e viabilizar a candidatura do ex-tucano a vice de Lula.
Eles temem que o prazo final para a montagem da federação, que é março, termine sem que o PT tenha fechado compromisso formal com Alckmin.
Por enquanto, apesar das declarações e gestos públicos, nas conversas reservadas os petistas ainda dizem que a candidatura recusa “maturar”.
Siqueira saiu irritado da última reunião entre caciques dos dois partidos, ocorrida logo depois do jantar que celebrou a possibilidade da aliança com Alckmin. Segundo ele relatou aos colegas de partido, os petistas não fizeram nenhuma proposta concreta ou compromisso formal. Nem mesmo garantiram que Alckmin será o vice.
“Ficou muito claro que o PT não vai fechar a vice agora, então tem uma chance de chegar lá na frente e dizerem que não querem mais o Alckmin. Aí vamos ficar sem a vice e sem os candidatos a governos nos estados onde podemos fazer as maiores bancadas”, diz um dos membros da cúpula do PSB.
O PSB quer indicar Márcio França para disputar o governo de São Paulo em 2022, além dos cabeças de chapa em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.
Para o partido, essas candidaturas são importantes porque ajudam a angariar votos para deputados estadual e federal.
Pelos cálculos dos caciques, sozinho o PSB pode eleger em São Paulo sete deputados federais (hoje tem cinco). Com o PT, essa conta passa a depender da nominata e da correlação de forças entre os partidos na federação.
Os socialistas dizem ainda que, ao contrário de outras legendas, que precisam compor federações para ter votos suficientes para não ser eliminados na cláusula de barreira, o PSB tem hoje tamanho suficiente para seguir autônomo em 2022. Por isso é que não faria sentido formar uma federação com o PT sem contrapartidas claras.
Até porque as conversas entre Alckmin e os chefes da legenda caminham para que, se o ex-tucano não for vice de Lula, ele possa disputar o governo do estado numa chapa com Márcio França, que é hoje o pré-candidato do PSB.
No momento, porém, todos esses planos estão em suspenso. O PT não abre mão de lançar Fernando Haddad em São Paulo e não aceita ceder espaço ao partido em outros locais.
Em Pernambuco, o partido quer colocar o senador Humberto Costa para disputar o governo, enquanto o PSB faz questão de manter no poder no estado, que já comanda há quase 16 anos – mesmo sem ter ainda um candidato definido.
Sob reserva, porém, alguns caciques petistas admitem que, com Lula na liderança das pesquisas, a tendência é adiar esse tipo de decisão ao máximo para entregar aos outros partidos o mínimo possível.
Geraldo Alckmin já provou ser um político paciente. O mesmo talvez não se possa dizer dos futuros colegas de partido. O Globo