O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, diz continuar trabalhando por anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro mesmo após a condenação do ex-mandatário pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista ao jornal O GLOBO, o cacique admite chapa presidencial de 2026 sem um familiar do antigo ocupante do Planalto, desde que tenha anuência dele.
Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão, está inelegível e pode cumprir pena na cadeia. A conjunção de fatores acelera a escolha de outro candidato para 2026?
Nesse momento trabalhamos por uma anistia que contemple Bolsonaro. Nós respeitamos a decisão do Poder Judiciário, mas queremos avançar com as negociações. O que acelera é a necessidade de ver a anistia resolvida. Ao menos na Câmara, nesta semana, queremos matar o assunto; no Congresso, ao longo do próximo mês. Quanto a um nome para substituir Bolsonaro em 2026, isso só será debatido depois de esgotado o tema anistia. Bolsonaro ainda pode ser candidato. É o nosso objetivo.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), se mostra resistente à anistia “ampla e irrestrita”. Pretende tomar a frente das negociações?
Não aceitaremos uma anistia que não contemple Bolsonaro. Designei Carlos Portinho (PL-RJ) e Rogério Marinho (PL-RN) para tratar do tema no Senado e trabalharemos com as bancadas. Temos o União e o PP do nosso lado, além de uma parte do PSD. Na semana que vem, vou me sentar com o presidente do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP), para tratar deste apoio. Pretendo cobrá-lo com muita veemência e lembrar que ajudamos a eleger um correligionário dele como presidente da Câmara, além do governador de São Paulo, o Tarcísio de Freitas. Nós temos uma grande parceria. Quanto ao Supremo, o tema por lá está liquidado. É hora de outras estratégias.
Qual seria a estratégia adotada no Senado, onde o presidente da Casa está alinhado ao governo e diz que vai pautar um projeto intermediário?
Temos grandes bancadas ao nosso lado. A do PL, a do PP e União Brasil, além do Republicanos e de parte do PSD, que queremos trazer. Queremos construir uma maioria por este projeto no Senado.
A união desses partidos em torno da anistia já indica uma formação de governo, em caso de eleição de um nome da centro-direita em 2026? O apoio à anistia já indica uma divisão de espaços, nesse caso?
Eu não tenho dúvidas de que a centro-direita estará unida no ano que vem. Essas lideranças poderiam ter lugar de relevância num próximo governo. O Bolsonaro já mudou muito o pensamento dele nos últimos anos. Tudo vai depender do Bolsonaro, mas o Ciro e o Marcos Pereira são ótimos nomes, com muito prestígio. Ciro seria um ótimo vice, por exemplo. É preparado, o Bolsonaro gosta dele.
Enquanto o PL insiste em anistia e Bolsonaro não crava um nome para sucedê-lo, Lula viaja pelo Brasil e trabalha pela sucessão. A direita não estaria “dormindo no ponto”, enquanto deveria ter um projeto claro como alternativa ao ex-presidente?
Não. Bolsonaro tem uma força de transferência de votos absurda, é uma loucura. Os nomes apoiados por ele crescem nas pesquisas internas. Isso é automático e não vai mudar, mas sigo acreditando que o candidato será ele.
Eduardo está fora do país, Michelle reforça que deve se candidatar ao Senado pelo DF e Flávio pelo Rio. Hoje, vê maior chance de a chapa não ter o sobrenome Bolsonaro?
Tem chance, sim, de a chapa não ter o nome do Bolsonaro. Mas tudo dependerá dele, caso não possa ser candidato.
O senhor teve o pedido de acesso livre à casa de Bolsonaro negado e já pediu uma nova visita. Como tem sido conduzir o partido sem falar cotidianamente com o presidente?
Hoje tenho o Flávio e a Michelle como pontes para as decisões do partido. Se ele for preso, as coisas complicam, só advogados terão acesso e eu nem poderei entrar na defesa, sou administrador.
Como ficam as interlocuções do partido se for transferido?
Antes de tudo, eu espero a anistia aprovada em menos de 30 dias, justamente para ele não ser preso. É por isso que precisamos acelerar tudo nesse tempo.
O voto do ministro Luiz Fux abre um flanco para recursos judiciais? Quais são os próximos passos agora?
Para recursos, não. O tema está esgotado no Supremo, mas o voto do Fux lavou a nossa alma. Foi um show de direito. Agora ele não poderá andar mais pelas ruas, será festejado. A direita viu com muita simpatia.
No caso da prisão, o governador Tarcísio de Freitas seria o nome mais provável?
Nosso foco é pela anistia e só nisso. Nós respeitamos a decisão do Judiciário, mas estamos focados em uma anistia que englobe Bolsonaro. Só falaremos em eventual substituição de Bolsonaro depois de esgotadas as tratativas para a anistia.
O senhor fala há mais um ano que se Tarcísio for candidato à presidência será pelo PL. O que falta para a filiação?
Quem vai escolher o candidato a presidente e a vice é o Bolsonaro, na hora certa. É por isso que ele ainda não veio para o PL. Se ele for candidato à Presidência, com o aval de Bolsonaro, será pelo nosso partido. Se tenta a reeleição por São Paulo, será pelo Republicanos. Então, sem esta decisão feita, ainda não faz sentido ele vir. O Republicanos sempre foi e sempre será parceiro nosso.
Bolsonaro segue como um puxador de votos, mas pode ser obrigado a escolher um substituto. O senhor aposta em uma direita fragmentada a partir de 2026?
Temos grandes nomes na direita, como Tarcísio, que é incrível, Ratinho Jr, que é um baita governador, Romeu Zema, em Minas, além de outros. Mas, minha aposta é da direita unida em 2026, ainda no primeiro turno, e unida depois disso também, não vejo fragmentação.
Carlos Bolsonaro será candidato por qual estado?
Será candidato por Santa Catarina, está cravado. Já alugou casa por lá e contamos que ele vai renunciar ao mandato na Câmara do Rio até o final do ano.