O avanço das voçorocas já destruiu, nos últimos dez anos, mais de 80 casas em Buriticupu, no oeste do Maranhão. A cidade de 55 mil habitantes, construída sobre um platô, está cercada por 26 crateras, muitas com dimensões superiores à que assusta os moradores de Lupércio, no interior de São Paulo. Alguns buracos chegam a ter 600 metros de extensão e até 80 de profundidade, segundo estudo da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
Muitas ruas da cidade terminam nos precipícios e algumas casas mais próximas das bordas foram abandonadas pelos moradores. “Quando acontecem chuvas fortes, a gente escuta estrondos do barranco cedendo e nosso medo é de perder a casa”, diz Valdomir dos Santos, morador do bairro Santos Dumont há dez anos.
Ele conta que muitos moradores jogam lixo e entulhos na voçoroca e não há drenagem para as águas da chuva. “Tem gente que tira areia para construção de dentro do buraco, afundando ainda mais.”
A moradora Berenice Souza, recepcionista no hotel Uchoa, disse que, nos últimos meses, as voçorocas estão atraindo turistas, “Tem gente que se hospeda e pergunta onde podem ver melhor.”
Ela está preocupada, pois vive a menos de 200 metros de uma das crateras. “Moro lá com meu esposo e dois filhos. Claro que temos medo, a gente já pensou em mudar. É um bairro mais afastado do centro e ali tem um morador que já perdeu a casa. A família conseguiu sair antes que fosse tudo abaixo”, disse.
O estudo da Uema aponta que a ocupação desordenada, a falta de infraestrutura de calçamento e a ineficiência do sistema de drenagem aceleram o processo de erosão.
Como agravantes, os autores da pesquisa apontaram o lixo acumulado nas vias públicas e danos ambientais, como a retirada de vegetação nas bordas das erosões. Também foi registrado o hábito dos moradores de se abastecerem de areia no interior desses grotões.
A prefeitura informou que destinou recursos para assistência emergencial a mais de 80 famílias, incluindo o pagamento de aluguel social àquelas que ficaram sem moradia. Disse ainda que o município investe recursos repassados pelo governo federal na construção de um núcleo de 89 casas populares para as famílias afetadas pelas voçorocas.
O geólogo e pesquisador Fernando Bezerra, da Uema, disse que as populações do entorno das crateras precisam ser removidas até que sejam adotadas medidas para conter as erosões. “São necessários investimentos importantes pelos órgãos públicos para o desvio do escoamento superficial das águas que chegam ao interior das crateras e a aplicação de projetos de engenharia tradicional e bioengenharia dos solos, bem como de drenagem urbana. Até lá, é preciso retirar a população das áreas de risco”, disse.
Segundo ele, as voçorocas são mais comuns em áreas de expansão urbana recente sobre solos frágeis, aliadas às fortes chuvas, concentradas no período de janeiro a junho.
No caso de Buriticupu, observou, a malha urbana e seus sistemas de arruamento sem drenagem, nos períodos chuvosos, contribuem para o grande volume de enxurradas que chegam ao interior das voçorocas. “Isso aumenta o risco de avançar nas residências locais”, afirmou.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento informou que foram liberados em fevereiro deste ano recursos de R$ 11,2 milhões para a reconstrução de 89 unidades habitacionais atingidas por voçorocas. A primeira parcela, de R$ 3,3 milhões, foi repassada no dia 27 de março. O processo ainda está em fase de execução.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil autorizou, ainda em março, o repasse de R$ 687 mil para assistência humanitária às famílias afetadas pelo avanço erosivo das voçorocas.
Em maio de 2023, foi realizada visita técnica a Buriticupu para orientar os gestores sobre as ações necessárias para conter as erosões. Foi solicitada verba de R$ 40, 8 milhões para obras emergenciais de drenagem e recuperação das vias. O processo está em análise nas áreas técnicas.
Procurado, o governo do Maranhão não se manifestou até a publicação desta reportagem. (Estadão)