A ausência de caciques do Senado no jantar de Luiz Inácio Lula da Silva com políticos do MDB em Brasília, na semana passada, não reflete apenas as dificuldades que o PT pode vir a enfrentar para recompor a aliança com os velhos parceiros. Mostra também que Lula vai ter que ter muito jogo de cintura para se equilibrar entre as disputas internas dos emedebistas.
Ao faltar ao evento, promovido pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE), os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-AM) alegaram que não era conveniente se reunir com Lula, para não serem acusados de parcialidade ao aprovar um relatório da CPI da Covid que vai propor o indiciamento de Jair Bolsonaro. José Sarney (MDB-AP) também não foi, porque a mulher, dona Marly, estava adoentada.
Naquela mesma noite, Calheiros e Braga se encontraram com Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, e outros aliados do MDB, no apartamento de um amigo a poucos quilômetros do jantar de Eunício.
Nesse “jantar do B”, a conversa era outra: que Lula havia escolhido o interlocutor errado para começar sua reaproximação com o MDB. E que, se o petista quiser mesmo forjar uma aliança com o partido, terá que recorrer a eles. “Eunício está querendo se fazer de importante. Mas o tempo dele passou”, me disse um dos presentes ao convescote alternativo.
A relação do ex-senador cearense com a dupla, antes muito próxima, está estremecida desde a derrota de Calheiros para Davi Alcolumbre (DEM-AP) na disputa pela presidência do Senado, em fevereiro de 2019.
Calheiros e Braga até hoje debitam a derrota na conta de Eunício, que era então o presidente do Senado. Acham que ele conduziu de forma frouxa o processo de sucessão, que acabou com a aprovação do voto aberto para a presidência e acabou elegendo Alcolumbre.
O voto aberto foi aprovado depois que a primeira votação, secreta, trouxe um voto a mais do que o número de senadores presentes. Depois disso, Flávio Bolsonaro divulgou seu voto em Alcolumbre, e Renan saiu da disputa dizendo que o Palácio do Planalto estava exercendo pressão indevida sobre o processo.
Eunício, que não se reelegeu, agora quer voltar ao Congresso, e sua estratégia tem sido colar sua imagem à de Lula. Depois do jantar, aliados de Eunício passaram a dizer que Lula acenou com a possibilidade de lhe dar um ministério caso seja eleito presidente (ele está em primeiro lugar nas pesquisas).
Também disseram que Lula sonha com Renan Calheiros na presidência do Senado. Ainda há bastante tempo até a eleição para que os dois retomem a parceria. Resta saber apenas que espaço teria Eunício nesse triângulo. O Globo