Dois dias depois da revelação do áudio de uma interceptação telefônica que lhe rendeu suspeitas de vazamento de uma investigação sigilosa da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro disse na noite de ontem que vai anunciar “nos próximos dias” o ex-ministro Walter Braga Netto como vice em sua chapa. Ele destacou a atuação do general nas Forças Armadas e fez elogios a outros postulantes ao cargo, como a ex-ministra Tereza Cristina.
— Pretendo anunciar nos próximos dias o general Braga Netto como vice. Temos outros excelentes nomes como a Tereza Cristina (ex-ministra da Agricultura). O General Heleno quase foi meu vice lá atrás, entre tantos nomes de pessoas maravilhosas, fantásticas que vinham sendo trabalhados ao longo do tempo. Mas vice é só um — afirmou, em uma entrevista concedida ao programa 4 por 4 neste domingo no Youtube.
Bolsonaro destacou que Braga Netto tem 45 anos de serviço na caserna e que foi interventor por quase um ano no Rio de Janeiro, além de assumir o comando do ministério da Defesa. Ele deixou o cargo e foi nomeado assessor da Presidência. Para ser candidato, Braga Netto terá que deixar o cargo até o início de julho, para ficar livre para disputa de um cargo ao lado de Bolsonaro.
— Eu admiro muito o Braga Netto. E é uma pessoa que vai, caso a gente consiga uma reeleição, ajudar e muito o Brasil aqui nos próximos anos. Eu que agradeço o Braga Netto por ter aceitado essa missão — afirmou.
Caso do MEC
Na mesma entrevista, Bolsonaro também voltou a sair em defesa do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, dizendo que foi preso “injustamente” e que não havia indícios mínimos de corrupção, apesar da operação da PF contra Ribeiro.
Bolsonaro, no entanto, não fez nenhum comentário sobre ter sido citado como suspeito de interferência no inquérito. Em uma interceptação telefônica, Milton relatou à sua filha que havia conversado com o presidente, e que Bolsonaro havia lhe dito acreditar que seu ex-ministro seria alvo de busca e apreensão. Por isso, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal apontaram suspeitas de vazamento da investigação por parte de Bolsonaro.
— O caso do Milton agora, quem começou essa investigação foi a Controladoria-Geral da União, a CGU, a pedido do próprio Milton. O Milton achou que algo estava errado, algumas pessoas estavam ao seu lado a forma como era assediado e pediu a CGU que fizesse ali um pente fino em contratos e observar se a ação dessas pessoas — afirmou.
O presidente acrescentou que foi a partir desse relatório que a Polícia Federal abriu sua investigação:
— Até que aconteceu o dia D, né? O dia da da prisão do Milton. Deixo claro, vocês já divulgaram aí que o Ministério Público foi contra a prisão do Milton. Não tinha indícios mínimos ali de corrupção por parte dele. No meu entender, ele foi preso injustamente.
O presidente não comentou a menção feita por Millton Ribeiro em uma ligação telefônica com sua filha, no dia 9 de junho, interceptada pela PF. No telefonema com a filha, Milton Ribeiro afirmou o presidente estaria “com um pressentimento que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe?”. (O Globo)