• Bolsonaro trocou chefia do Iphan por interesses de Luciano Hang e Flávio, diz Kátia Bogéa

    Além de mostrar a tentativa de interferência indevida na Polícia Federal para proteger amigos e família, a reunião ministerial revelou ação semelhante de Jair Bolsonaro no Iphan, responsável por zelar pelo patrimônio público. A ex-presidente do instituto Kátia Bogéa diz ter sido demitida após reclamações de Luciano Hang e Flávio Bolsonaro. Ela afirma que é mentiroso o discurso do presidente, de ter pessoas técnicas para cargos, e que ele quer no órgão alguém que aceite passar por cima da lei.

    Ao Painel, Kátia diz que sua demissão ocorreu após uma obra do empresário da Havan parar no Sul do país. Bolsonaro culpou o órgão, o que a ex-presidente rebate.

    Ela afirma que a paralisação ocorreu porque a empresa contratada por Hang reportou ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) um achado arqueológico. “Ele criou esse escarcéu porque nem a mais simples das obrigações eles querem fazer. Estávamos ali para cumprir a Constituição. O que queriam é que não observássemos a lei”.

    “É a mesma coisa do Geddel [Vieira Lima], é a mesma coisa”, diz. O ex-ministro de Michel Temer tentou passar por cima do órgão para erguer um edifício em área tombada em Salvador, foi demitido e, pela pressão exercida na época, condenado por improbidade administrativa.

    Kátia afirma que antes dela ser demitida, começou uma sucessão de trocas de cargos, após a queixa de Hang. Primeiro, caiu um diretor técnico, em seguida, coordenadores em importantes superintendências, como a de Minas Gerais e do Rio, para pessoas sem formação.

    Outro episódio contribuiu, afirma ela. Flávio Bolsonaro esteve em Salvador e se reuniu com construtores locais, que fizeram reclamações.

    O alvo foi portaria baixada pelo Iphan no fim de novembro, limitando e criando regras para novas construções na Barra, o mesmo bairro de interesse de Geddel.

    Kátia Bogéa, que estava no comando do instituto desde 2016, foi exonerada no dia 11 de dezembro.

    No dia 11 de maio, o governo escolheu para o Iphan uma amiga da família, como mostrou o Painel. “E vem com esse discurso mentiroso de que teria que ter perfil técnico para ocupar cargos no governo. Tudo mentira!”. “É triste ver o Iphan invadido por gente sem formação”, completa.

    Na reunião ministerial, Bolsonaro disse que o Iphan paralisa qualquer obra do Brasil.

    “O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô! Para a obra. O que que tem que fazer? Alguém do Iphan que resolva o assunto, né? É assim que nós temos que proceder”, disse o presidente.

    Criado em 1937, o Iphan é uma autarquia federal responsável pela preservação e promoção dos bens culturais do País. Está subordinado à Secretaria Especial da Cultura e conta com 27 superintendências espalhadas pelos estados, 37 escritórios técnicos e unidades especiais. Da Folha de SP

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