UOL – A demissão do secretário-executivo do Ministério das Cidades, ex-deputado federal Hildo Rocha (MDB-MA), foi provocada em meio a uma polêmica sobre o suposto privilégio do Maranhão em repasses com verba das extintas emendas de relator, hoje sob controle dos ministérios.
Como mostrou o UOL, R$ 7,9 bilhões em verbas oriundas desse orçamento foram usadas para atender indicações políticas no ano passado. O Ministério das Cidades ficou com R$ 1,6 bilhão.
Os municípios e o estado do Maranhão receberam R$ 188 milhões em investimentos, atrás apenas de Minas Gerais, que ficou com R$ 333 milhões, mas tem uma população três vezes maior. Em seguida no ranking está São Paulo, com R$ 185 milhões, e o Pará, estado do ministro Jader Filho, com R$ 175 milhões.
Rocha nega que tenha influenciado em um envio maior de repasses para o seu estado, como têm dito congressistas de outros partidos do Centrão. “Não é porque eu sou do Maranhão que o Maranhão foi beneficiado, porque quem manda é o ministro (Jader Filho)”, disse, procurado pelo UOL.
“Não sou ordenador de despesas. Quem ordena as despesas são os secretários, eu só supervisiono a ordenação da despesa”, completou o ex-secretário, que diz ter ficado sabendo de sua demissão na última sexta-feira (12) pelo Diário Oficial.
O Ministério das Cidades disse, em nota, que “toda a celebração de novos contratos com dotação orçamentária classificada como Resultado Primário 2 (verba que os ministros podem escolher onde gastar) é realizada por meio de critérios técnicos”.
No último mês do ano, quando o prazo para gastar o orçamento de 2023 estava se exaurindo, o ministério empenhou (reservou para pagamento) R$ 706 milhões, parte substancial do R$ 1,6 bilhão garantidos à pasta das Cidades.
Desse montante de dezembro, R$ 55 milhões foram para obras no Maranhão — provocando irritação de parlamentares de outros estados, que levaram a reclamação ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Interlocutores de Lira, ouvidos pelo UOL, relataram que o presidente da Câmara ficou incomodado com a atuação de Hildo Rocha e pediu ao Palácio do Planalto providências para afastá-lo. O estado do presidente da Câmara, Alagoas, ficou com R$ 16 milhões no ano, sendo um dos que menos recebeu através dessas verbas.
Rocha disse que tem boa relação com Lira e que não foi procurado pessoalmente por ele. “Se ele tivesse se irritado comigo, teria me ligado. Mas se quem indicou foi o ministro, ele tem que ficar irritado com o ministro, não comigo.”
Liderando a verba do “RP 2 A400” enviada ao Maranhão estão os repasses para a Secretaria de Infraestrutura estadual. Foram R$ 113 milhões para pavimentação de vias urbanas, incluindo uma obra de mobilidade urbana de grande porte em São Luís.
Além da secretaria estadual, outros 31 municípios receberam, em média, R$ 2,4 milhões cada um para investimentos na mesma área.
Negando que o Maranhão tenha sido privilegiado, o ex-deputado Hildo Rocha disse também que “é preciso olhar todo o RP2”, ou seja, toda a verba do ministério de livre gasto, e não apenas o R$ 1,6 bilhão que veio das extintas emendas de relator.
Considerando os R$ 7 bilhões em investimentos, o ranking é:
- R$ 923 milhões para São Paulo
- R$ 688 milhões para Minas Gerais
- R$ 508 milhões para o Maranhão, estado de Hildo Rocha
- R$ 491 milhões para o Pará, estado de Jader Filho
Deputados da bancada do MDB ouvidos pela coluna avaliam que Rocha serviu como bode expiatório para uma insatisfação com a ausência de atendimentos a diversos expoentes do Centrão. Os correligionários estão insatisfeitos com sua demissão repentina.
Rocha era considerado uma indicação pessoal de Baleia Rossi, presidente do MDB, ao governo Lula, e deputados defendem que outro nome do partido ocupe seu lugar.
A reclamação sobre as verbas do “RP2 A400” não é o único motivo da demissão de Hildo Rocha, segundo fontes próximas a ele. Uma divergência com o próprio ministro em relação ao Minha Casa, Minha Vida também desgastou a relação entre os dois.