As eleições para prefeito no ano que vem devem impedir a formação imediata de uma federação entre PDT, PSB e Solidariedade (SD) – partidos com bancadas declinantes na Câmara dos Deputados. O caminho mais provável é o da consolidação de um bloco para atuação no Congresso, com a montagem da federação só após as eleições municipais.
É difícil encontrar representante de alguma das três agremiações que se oponha frontalmente ao acordo. Mas para os potenciais futuros federados, a ordem é não dar urgência ao tema.
Lideranças das siglas envolvidas nas conversas afirmam que ambições conflitantes em diversas localidades concorrem para impedir a consumação da federação antes de 2025.
Federação é uma forma de estruturação política que permite a soma dos desempenhos dos partidos na eleição para a Câmara para superar a chamada cláusula de barreira, norma que regula acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de TV na propaganda eleitoral.
Este é o aspecto visto como vantajoso para a formação de uma federação unindo PDT, PSB e Solidariedade, trio que costuma ser enquadrado como de centro-esquerda no espectro ideológico.
Em 2022, os três elegeram bancadas significativamente menores que em 2018, o que faz agigantar o fantasma da cláusula de barreira. O PDT caiu de 28 deputados para 17. No PSB, a queda foi ainda maior, de 32 para 14. O Solidariedade, que já era o menor dos três, recuou de 13 para 4.
O entrave é que o estabelecimento da federação também implica em apresentação de candidaturas únicas em disputas para o Executivo. Dessa forma, PDT, PSB e Solidariedade só poderão ter um candidato a prefeito por município em 2024, caso resolvam fazer a federação agora. É aí que a costura fica difícil.
“Tínhamos a esperança de fazer essa federação muito rapidamente. Mas essa coisa de eleição municipal dá problema em tudo quanto é lugar. Tem 5.570 municípios, deve estar dando problema na metade. É o caos”, disse o ex-deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade.
“Nunca vi dar tanto problema em eleição municipal. Tem município que um quer matar o outro, confusão generalizada.”
Opinião semelhante tem o deputado estadual Marcio Nakashima, presidente interino do diretório paulista do PDT. “Acredito que não faz sentido fazer a federação agora”, diz. “Não vejo por que correr com isso.”
A cidade de São Paulo, palco da disputa mais visível de 2024, é citada pelo parlamentar como caso exemplar da dificuldade para montagem imediata da federação.
Alguns dias atrás, o apresentador de TV José Luiz Datena anunciou sua filiação ao PDT com vistas à eleição para prefeito de São Paulo. Embora Datena já tenha passado por PT, DEM, PSC, União Brasil e PP e já tenha feito sucessivas promessas não cumpridas de candidatura – a última delas no ano passado, quando desistiu à última hora de disputar o Senado pelo PSC – lideranças do PDT nutrem a esperança de que em 2024 será diferente.
A possibilidade de candidatura de Datena, porém, conflita com a intenção do PSB de concorrer na capital paulista com a deputada federal Tabata Amaral, que entrou na política pelo PDT.
No PSB, a discussão parece mais avançada. Em reunião no dia 9 de março, a Executiva Nacional da sigla aprovou uma autorização para que a cúpula do partido negocie a montagem da federação.
No ano passado, aventou-se a possibilidade de o PSB se unir ao PT, mas as conversas não prosperaram. Com isso, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou uma federação com o PCdoB, tradicional aliado, e o PV.
Do lado do PDT, o tema só começou a tratado oficialmente na semana passada, numa reunião no dia 22. Ante os sinais dispersos de resistência, os pedetistas nada decidiram. A executiva apenas aprovou a abertura de uma temporada de consultas internas junto aos diretórios municipais para tentar obter uma dimensão mais exata do tamanho dos problemas. (Valor Econômico)