Do portal G 1 – A Justiça do Maranhão aceitou e tornou réus sete pessoas, entre bicheiros do estado e do RJ, no processo que apura o assassinato do empresário Bruno Vinícius Nazon de Moraes, na Região Litorânea de São Luís, em 2021.
Entre os acusados está um personagem conhecido entre políticos e esportistas, José Ribamar Sodré Veloso, de 72 anos. Por 50 anos, Bacará, como é conhecido, foi funcionário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público do Maranhão, Bacará é responsável por esconder na garagem de sua casa, em São Luís, o Gol branco dirigido por um policial militar do Maranhão e que foi usado no crime por matadores do Rio de Janeiro.
Segundo as investigações, a morte de Bruno aconteceu porque o empresário goiano queria instalar em São Luís dois sites de apostas de futebol, o que desagradou na ocasião bicheiros do RJ, que exploram o jogo do bicho, caça-níqueis e apostas on-line no estado nordestino.
Bacará responde ao processo em liberdade após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Procurado pelo g1, seu advogado não retornou os contatos. A CBF informou que Bacará não é, atualmente, funcionário da entidade. Na Justiça, os advogados de Bacará negam que ele tenha participado do crime. Dizem que seu cliente “é um homem de bem”, não conhecia os criminosos e que teve a casa invadida por eles.
O pedido da defesa para que ele responda o processo em liberdade teve como principal alegação que Bacará tem “uma série de comorbidades, dentre elas, é hipertenso e sofre de transtorno depressivo.”
Carro usado no crime
Na casa de Bacará, o policial do Maranhão Thiago Rodrigues da Rocha Nunes disse que esperaria por alguns amigos. De acordo com depoimentos, ele estava autorizado a entrar na residência.
Cerca de 15 minutos depois, um Jeep Renegade chega ao local, no bairro Jardim de Allah. Segundo testemunhas, de dentro do carro saíram José Gomes da Rocha Neto, o Kiko, e Alfredo dos Santos Júnior, um ex-policial militar do RJ, conhecido como Velho.
O PM do Maranhão, Kiko e Velho, segundo depoimentos, foram até a região litorânea, onde executaram Bruno de Moraes. Por volta das 15h, o Gol Branco utilizado no homicídio voltou para o endereço de Bacará.
Após o crime, Kiko e Velho foram levados para o aeroporto de Teresina e embarcaram de volta para o Rio de Janeiro.
Já o veículo ficou estacionado na casa de Bacará. Ele, segundo testemunhas, reclamou com o caseiro e pediu para que o veículo fosse retirado de lá, o que aconteceu apenas três dias depois. Não fica claro no processo quem tirou o carro do local.
Além de depoimentos, a Polícia Civil anexou ao processo, o mapa do GPS do veículo comprovando que o carro ficou estacionado no endereço que pertence a Bacará.
Os investigadores ainda cumpriram buscas na casa. No local, encontraram uma pasta com fotografias de máquinas caça-níqueis.
Quem é Bacará?
De acordo com dicionários, bacará é um jogo de cartas, de origem francesa, em que há um banqueiro que controla as apostas e vários jogadores.
O mesmo apelido identificava o maranhense José Ribamar nos corredores da CBF. O g1 apurou que, por quase cinco décadas na confederação, Bacará se tornou um dos funcionários mais queridos da entidade. Conversava com todos, de jogadores a políticos.
Durante o período na entidade chamava a atenção o seu jeito peculiar de se vestir: ternos claros e um broche da CBF pendurado em uma das lapelas.
Bacará estava na CBF desde a presidência do almirante Heleno Nunes, na década de 1970. Ele chegou a deixar a entidade por um período quando o ex-presidente Rogério Caboclo saiu, em 2021, após ser denunciado por assédio sexual e moral por sua secretária.
Foi demitido por Caboclo, mas acabou recontratado por Antonio Carlos Nunes, o coronel Nunes quando ele assumiu interinamente a presidência após o afastamento de Caboclo.
A partir de então passou a frequentar duas vezes por semana a entidade sem um local específico de trabalho. Sempre era visto na sala de reuniões dos vice-presidentes até deixar a CBF na atual gestão.
Fontes ouvidas pelo g1 lembram de sua presença nas de Copas de 1994 (Estados Unidos), 1998 (França) e 2002 (Coreia e Japão), além da Olimpíada de 2000, na Austrália.
Houve momentos que Bacará chegava ao país das competições antes da delegação e até recepcionava as equipes. Nas concentrações, segundo relatos, organizava o carteado entre os atletas, o que reforçou o apelido na entidade.
Atualmente, se divide entre a casa em São Luís e um apartamento no Leblon, na Zona Sul do Rio.