O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou nesta segunda-feira aos líderes do governo passem a cobrar os ministros de partidos do centrão os votos para os projetos que tramitarem no Congresso. O assunto foi um dos temas da reunião com núcleo de articulação política do governo, realizada após a série de derrotas em votações no Legislativo na semana passada.
A ideia é que José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e Jaques Wagner (PT-BA), líder no Senado, participem junto com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, da articulação junto com os representantes de partidos como PP, União Brasil Republicanos, PSD e MDB na Esplanada. O trio deve mapear antecipadamente quantos votos os ministros dessas legendas garantem em cada votação.
Os ministros maranhenses das Comunicações, Juscelino Filho, do Esporte, André Fufuca, e também o de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e do Turismo, Celso Sabino, são alguns que foram indicados para os cargos por partidos que integram o bloco do Centrão. A maior participação deles no diálogo com as bancadas é vista como forma de melhorar a articulação da gestão federal e fazer cobranças em votações vistas como prioritárias.
Lula também pediu que articulação não abrisse mão de acioná-lo quando for mais necessário, para que ele próprio também faça conversas com ministros da base.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, Lula quer maior enfrentamento dos partidos da base do governo contra a oposição no Congresso. A ideia é que as legendas que compõem a base ocupem cada vez mais os plenários para diminuir o peso que siglas da oposição preenchem. Na reunião, o chefe do Executivo também afirmou que quer participar mais das negociações e retomar as reuniões de articulação, se colocando à disposição para ajudar na coordenação em votações importantes para a gestão. Para isso, o presidente disse esperar ser acionado quando tiver que pedir maior engajamento dos ministros indicados por bancadas do Congresso nas conversas com os parlamentares.
Depois das derrotas da semana passada no Congresso, Lula decidiu passar a fazer semanalmente às segundas-feiras reuniões com o núcleo político do governo para discutir os temas que serão tratados que estão na pauta do Legislativo.
Na semana passada, a exemplo do que ocorrera em outras votações de interesse do Palácio do Planalto, a vontade de Lula foi contrariada com o apoio de parlamentares de partidos com assento na Esplanada dos Ministérios. No caso das “saidinhas”, 314 deputados votaram para anular o veto do presidente, e 126 para mantê-lo. Do total pela derrubada, metade foi de partidos da aliança petista. Entre os senadores, o placar foi de 52 a 11 contra o veto. Para derrubar a decisão presidencial eram necessários 257 votos na Câmara e 41 no Senado.
Em relação aos vetos feitos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro que impediram a criminalização das fake news eleitorais, o retrato foi parecido: dos 317 votos a favor da manutenção do veto que travou a criação do crime de “comunicação enganosa em massa” no contexto eleitoral, 193 (61%) vieram de partidos com ministros. No União Brasil, por exemplo, que indicou três auxiliares diretos de Lula, houve 51 votos contra o governo e apenas um alinhado.
De acordo com relatos feitos à Coluna, Lula reconheceu a dificuldade de lidar com um Congresso conservador, mas afirmou a seus auxiliares que não deve ser poupado quando houver sinal de revés na Câmara ou no Senado. Para o petista, sua entrada em campo, inclusive recorrendo a ministros que são deputados licenciados, pode ser decisiva em uma votação. Daqui para frente, quer sentir de perto o pulso do Congresso e ser claramente demandado pelos auxiliares se uma crise escalar.
O presidente ainda confessou que é preciso deixar a articulação política mais bem azeitada, e aposta nessas reuniões semanais de coordenação, às segundas-feiras, para afinar o entrosamento do time.
Lula também orientou que as críticas ao governo fossem feitas no espaço dessa reunião e pediu que não haja lavação de roupa suja de auxiliares na imprensa.
Presidente disse que nos próximos encontros quer a presença do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e da Fazenda, Fernando Haddad. Ambos estão em viagens internacionais nesta semana: Costa embarcou para China e Haddad para Roma.
De acordo com presentes, na conversa Lula pediu mais empenho, especialmente nos ministros petistas, na defesa do governo. Pediu que ocupassem mais espaços para falar das ações do governo, seja na mídia ou em eventos públicos.