• Lula e Arthur Lira se reúnem no Palácio da Alvorada em meio a tensão

    Em reunião na manhã desta sexta (9) no Palácio da Alvorada, o presidente Lula (PT) prometeu ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que a partir de agora terá um canal direto com ele, por meio de um telefone de um dos seus auxiliares.

    Lula também combinou com Lira que será Rui Costa (Casa Civil) o ponto de comunicação institucional entre o governo e a Câmara.

    As duas medidas ocorrem em meio a um início de ano em clima de tensão com deputados e representam uma disposição de Lula de atuar mais diretamente na articulação política de seu governo.

    O contato Lula-Lira se dará por meio do telefone de Valmir Moraes da Silva, chefe da Ajudância de Ordens da Presidência.

    O centrão, comandado por Lira, vem dizendo desde o fim do ano passado que nenhuma pauta do interesse do governo será aprovada enquanto não houver a demissão de Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

    O parlamentar culpa Padilha por descumprir acordos, sendo o principal deles a liberação das verbas de emendas parlamentares negociadas com os deputados —principalmente recursos do Ministério da Saúde.

    Durante a abertura do ano legislativo, na segunda-feira (5), Lira expôs ainda mais o mal-estar. Já na chegada, o deputado acompanhou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, no acesso ao plenário da Câmara, e deixou Padilha para trás.

    Em meio a essas reclamações, o presidente da Câmara vinha tentando conversar com Lula, mas sem sucesso. Teve de esperar por duas semanas até ser chamado, na manhã desta sexta. O petista não tem telefone próprio e não usa aplicativos de mensagens.

    Segundo relatos, Lira fez uma apresentação ao presidente sobre as entregas de votações ao longo do ano de 2023, lembrando também da PEC da Transição, em 2022, e do reconhecimento imediato do resultado da eleição.

    E, na conversa, pontuou todos os acordos não cumpridos, tanto em relação a textos combinados e depois vetados, quanto emendas que estão paradas.

    Ainda na reunião, Lula questionou o presidente da Câmara sobre o tom do seu discurso na segunda (5), tendo como resposta a dificuldade de comunicação entre eles. Lira também disse que é representante dos deputados e que a maioria na Casa, mais de 300 deputados, é conservadora.

    Após a reunião com o presidente da Câmara, Lula chamou Padilha e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), ao Alvorada.

    Partiu de Lula convidou Lira para o café da manhã. Segundo auxiliares, o petista fazia questão de se encontrar com Lira antes do feriado para que a reunião não ficasse para depois do Carnaval.

    Crise

    O encontro entre os dois ocorrem em meio ao acirramento de tensões entre o Planalto e a Câmara, após o discurso de Lira na abertura do ano legislativo.

    À ocasião, em recado ao governo, o presidente da Câmara disse que o Orçamento é de todos os brasileiros, não só do Executivo, e não pode ficar engessado por “burocracia técnica” e por quem não foi eleito.

    Lira também disse que os parlamentares “não foram eleitos para serem carimbadores” das propostas do Executivo, e que o Orçamento da União deve ser construído em contribuição com o Legislativo.

    A crítica ocorreu em meio a um embate entre Executivo e Congresso em relação às emendas parlamentares.

    O governo federal vetou, tanto na Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto no Orçamento, trechos aprovados por parlamentares que ampliariam os recursos destinados pelo Congresso a suas bases eleitorais, além de acelerarem o pagamento por parte do Executivo.

    Entre eles, um calendário de pagamento das emendas impositivas (aquelas que o Executivo é obrigado a pagar ao longo do ano) e R$ 5 bilhões a mais nas emendas indicadas por comissões do Congresso.

    Na quinta-feira (9), o presidente Lula comentou as críticas de Lira. Em entrevista a uma rádio mineira, disse que “não é momento de discurso duro”, mas que o governo tem que cumprir os acordos feitos com os parlamentares, uma das reclamações do presidente da Câmara.

    “Eu devo conversar com o presidente Lira por esses dias e ver o que é que está acontecendo. Estamos chegando no Carnaval, não é momento de discurso duro. Momento de alegria, momento de a gente relaxar um pouco, dançar, gastar um pouco de energia e voltar mais calmo depois do Carnaval. É isso que eu espero, sabe, de mim, do Lira, Pacheco, da classe política”, disse.

    “O que que eu acho que o Lira pode ter razão. Se o governo fez acordo dentro do Congresso Nacional ou através do nosso ministro de Relações Institucionais [Alexandre Padilha], ou do ministro da Fazenda [Fernando Haddad], fez algum acordo, a gente tem que cumprir. Quando você não cumpre o acordo feito, o resultado é que vai ficar mais caro. Isso eu aprendi há muito tempo”, afirmou.

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