O presidente Luiz Inácio Lula da Silva só vai decidir sobre a permanência ou não do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil-MA) no cargo quando voltar do exterior, apurou a coluna com duas fontes no Palácio do Planalto.
Lula embarca nesta quarta-feira (12h) à tarde para a Suíça onde participa de reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) amanhã. Depois vai para Borzo Enaglia, na Itália, integrar a reunião do G-7. Ele retorna no sábado.
Lula avisou a seus auxiliares que precisa ouvir as lideranças do União Brasil para selar o destino do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado nesta quarta-feira pela Polícia Federal. Nos bastidores, Lula manifestou desconforto com o indiciamento, mas lembrou que o ministro das Comunicações é uma indicação do União Brasil. Portanto, na visão do petista, a bancada precisa ser ouvida antes de qualquer decisão. O presidente, contudo, está fora de Brasília e só retorna no domingo, após compromissos oficiais no Rio, na Suíça e na Itália.
Auxiliares palacianos entendem que o melhor caminho seria o próprio partido manifestar interesse na substituição de Juscelino Filho ao menos até o fim das investigações, de modo a evitar rusgas entre o governo e o União Brasil.
Lula já não tem vida fácil no Congresso, e uma troca mal costurada politicamente tem o potencial de piorar esse cenário, avaliam fontes.
Até agora, porém, o União Brasil não deu sinais de que vai abandonar Juscelino. Recém-empossado, o presidente da legenda afirmou ao ministro que a bancada está unida a ele. O mesmo recado, segundo apuração da Coluna do Estadão, foi dado pelo líder do União na Câmara, Elmar Nascimento, que constrói sua pré-candidatura à presidência da Câmara. Juscelino Filho é deputado licenciado e tem boa interlocução entre parlamentares.
Juscelino foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, falsidade ideológica e fraude à licitação em um esquema de desvio de recursos para pavimentação de estradas. O relator do caso no Supremo Tribunal Federal é o ministro Flávio Dino.
Juscelino vinha na berlinda há bastante tempo por diversas suspeitas de corrupção, incluindo essa investigação, que revelou, por exemplo, o asfaltamento de uma estrada que dá acesso à fazenda da sua família. Lula, no entanto, optou por manter o ministro por pressão do Congresso. Só que agora ele está formalmente indiciado.
Segundo apurou a coluna, a reação dos parlamentares promete ser forte, já que Juscelino tem o apoio do seu partido, o União Brasil, e é próximo de políticos influentes, como o senador David Alcolumbre (União Brasil – AP) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Lula tem um histórico de lentidão para a troca de ministros. A ex-titular da pasta do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil – RJ) ficou semanas sob especulações até finalmente ceder espaço para o atual titular, Celso Sabino (União Brasil – PA).
O presidente também enfrenta um momento delicado de relações com o Congresso, que ameaça votar pautas solicitadas pela oposição e impor novas derrotas ao governo às vésperas das eleições municipais. Está prevista para breve a equiparação do aborto após a 22 semana ao homicídio e a proibição de delação de réu preso.