Líder em engajamento digital entre os membros da Esplanada dos Ministérios, Flávio Dino sairá do comando da Justiça em 1º de fevereiro rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF) e deixará o governo Lula sem ter à vista um sucessor natural nas redes sociais, arena dominada pela direita nos últimos anos. Ainda que ocupe a quinta colocação no ranking do número de seguidores, o ministro teve, em 2023, mais que o dobro de interações que o segundo colocado, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, segundo levantamento inédito da consultoria Bites. Em entrevista ao GLOBO no mês passado, o próprio Pimenta externou a preocupação em não ter um nome forte dentro do governo para o embate com a oposição.
O estudo contabilizou as postagens dos ministros entre os dias 1º de janeiro e 14 de dezembro do ano passado nas redes sociais Facebook, Instagram e X (antigo Twitter). No período, Dino, que será substituído na pasta pelo ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski, teve mais de 30 milhões de interações nas três principais redes, seguido por Paulo Pimenta (13 milhões) e Geraldo Alckmin (9,7 milhões). O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio promoveu uma guinada em sua forma de se comunicar com o público mais jovem no ano passado, com posts em referência a filmes e cultura pop.
— Dino foi responsável por um quarto da tração digital da Esplanada. Os outros ministros não têm conseguido mobilizar digitalmente e bancar pautas próprias. Falta neles a combatividade observada em Dino. Com isso, eles acabam ficando a reboque das próprias ações do governo e de comemorar os atos protagonizados por Lula — pontua André Eler, diretor-adjunto da Bites.
Em dezembro, Pimenta disse ao GLOBO que seus colegas de Esplanada terão que se desdobrar para compensar a saída de Dino, até aqui o representante do governo que capitaneava embates com o bolsonarismo.
— Quando um time perde um jogador com a qualidade do Flávio Dino, cada um dos outros jogadores vai ter que jogar um pouquinho mais para poder compensar. Ele é um quadro político excepcional, experiente, qualificado e corajoso. Um porta-voz importante do governo. Essa ausência terá que ser respondida com um pouco mais de desempenho, de entrega, de cada um de nós — concluiu o ministro.
Potencial de Haddad
Na avaliação de Eler, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o nome que poderia suceder Dino como destaque do governo nas redes sociais. O ex-prefeito de São Paulo lidera em número de seguidores, com 7,3 milhões, seguido de longe por Marina Silva (5,5 milhões) e Alckmin (3,2 milhões). Para tanto, o ministro precisaria readequar sua estratégia digital este ano.
— Haddad comemorou a reforma tributária e teve postagens que repercutiram bem, mas não foi tão forte na internet — diz Eler.
O diretor-adjunto da Bites aponta que Lula tem o desafio de vencer a barreira da polarização, ao passo que o bolsonarismo se mantém forte na internet. Segundo ele, o governo mostrou fôlego para se contrapor à narrativa dos apoiadores do ex-presidente no começo do ano passado, na posse e nos ataques golpistas em 8 de janeiro, mas tanto Lula quanto os ministros não conseguiram manter o engajamento conquistado nos primeiros meses de 2023. (O Globo)