• Mudanças nas Forças Armadas não afetam Alcântara, afirma presidente da Agência Espacial Brasileira

    As mudanças do fim de março no Ministério da Defesa e no comando das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica – não afetarão o cronograma anteriormente estabelecido do Programa Espacial Brasileiro para o ano de 2021; nem o andamento do Programa de Desenvolvimento Integrado (PDI) para o Centro Espacial de Alcântara (CEA).

    O Comando da Aeronáutica, por exemplo, manteve a programação definida em relação à base maranhense, e vai anunciar, neste mês de abril, as primeiras empresas a assinarem contrato para lançamentos a partir do CEA, em 2022. Nove empresas se habilitaram no Chamamento Público que a Agência Espacial Brasileira (AEB) lançou em maio do ano passado, sendo quatro brasileiras. Um novo edital sai até o fim deste mês.

    Todas estas novidades foram reveladas pelo presidente da AEB, engenheiro Carlos Moura, em entrevista exclusiva à reportagem para o Jornal Pequeno, em Brasília. Ele falou, também, sobre o lançamento de nanossatélites em desenvolvimento no Brasil e do planejamento do novo Programa Espacial para os próximos 10 anos.

    JORNAL PEQUENO – A mudança recente no comando nas Forças Armadas, incluindo a Aeronáutica, afeta o cronograma de ações que a AEB traçou para este ano de 2021 no País?

    CARLOS MOURA – Nossa expectativa é de que todos os planejamentos sejam cumpridos ou, até mesmo, incrementados. Percebese uma convergência muito positiva; tanto da sociedade em geral, como dos diversos entes que compõem esse esforço nacional para dotar o País de sistemas espaciais a altura das diversas demandas públicas e privadas. Prosseguem os trabalhos de elaboração do Programa de Desenvolvimento Integrado para o Centro Espacial de Alcântara (PDI-CEA), com envolvimento cada vez mais sinérgico de entidades federais, estaduais e municipais, bem como do terceiro setor.

    Destacamos, por exemplo, o engajamento da FIEMA e de outras entidades coligadas no aporte de ações estruturantes em Alcântara. Temos certeza de que esse conceito de “desenvolvimento integrado” vem norteando o pensamento e o agir de todos aqueles que querem o bem do povo alcantarense e de todos os demais brasileiros.

    JP – O novo ministro da Defesa, Braga Netto, já se manifestou a respeito da operacionalização do Centro Espacial de Alcântara (CEA)? Houve alguma reunião nesse sentido para tratar do andamento das ações?

    CM – Ainda não nos encontramos em meio à sucessão de comandos, tanto na Defesa como nas Forças Singulares. Cabe sempre destacar que programas estratégicos para o País, como é o caso do Programa Espacial, são esforços de Estado. Isso significa que, mesmo havendo alternâncias de governo, ou de equipes dentro de um mesmo governo, as diretrizes estratégicas e as linhas de ação se atualizam somente após revisões complexas e abrangentes.

    Temos certeza de que, em breve, as novas lideranças da área de defesa estarão a postos para somar, com energias renovadas, nas articulações em prol do espaçoporto de Alcântara e de outras iniciativas do Programa Espacial.

    JP – Em maio do ano passado, a AEB lançou um Chamamento Público para empresas nacionais e estrangeiras interessadas na exploração da Base de Alcântara. Nove delas se habilitaram, entre elas quatro brasileiras. Quando a AEB pretende anunciar as primeiras empresas a assinarem contrato para lançamentos a partir do CEA em 2022?

    CM – O anúncio será feito pelo Comando da Aeronáutica, em conjunto com a Agência Espacial, ainda neste mês de abril. Em seguida, a Aeronáutica iniciará a negociação contratual com cada uma das empresas selecionadas para essa primeira fase de implantação do CEA como prestador de serviços para entidades privadas.

    JP – A Agência está trabalhando um segundo edital de Chamamento Público para a antiga área da Cyclone Space, dentro do CLA. Quando será lançado?

    CM – Agência Espacial e Aeronáutica trabalham para que o segundo Chamamento Público ocorra juntamente com a divulgação do resultado do primeiro. É importante destacar que o mercado espacial acompanha atentamente as iniciativas em Alcântara, assim como vários outros anúncios de novos centros de lançamento, mundo afora.

    A janela de oportunidades está aberta, mas não nos iludamos; há concorrentes fortes. Daí a necessidade de agirmos de forma conjugada, firme e objetiva, para que o Espaçoporto de Alcântara se consolide como a melhor opção para aqueles que desejam explorar serviços de transporte espacial de maneira segura e competitiva.

    JP – Depois do Amazonia 1, qual será o satélite que a AEB está trabalhando para lançar? Será novamente na Índia?

    CM – Temos alguns nanossatélites em desenvolvimento no Brasil, com diferentes níveis de apoio da Agência Espacial, e com perspectivas de conclusão para o fim deste ano e início do próximo. Pela ordem, SPORT (projeto do ITA com a NASA e universidades americanas, e com participação do INPE; VCUB-1, investimento da empresa Visiona; Floripasat-2, envolvendo a UFSC e a Unidade Regional do INPE em Natal; o Alfa Crux, da UnB, financiado pela FAP-DF). Tirando o SPORT, cuja responsabilidade pelo transporte espacial será da NASA, os demais ainda deverão passar por processo de seleção para escolha do lançador.

    É natural que, com os esforços em prol do CEA, seria muito interessante que já se pudesse contar com lançamentos de satélites brasileiros a partir de Alcântara.

    JP – A AEB está trabalhando o planejamento do Programa Espacial para os próximos 10 anos. Quando será lançado?

    CM – A Agência Espacial, em consonância com os diversos entes do Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (o Sindae), e com o apoio do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), vem liderando os trabalhos para o lançamento, até o fim deste ano, do planejamento do Programa Espacial para o novo decênio. Esse trabalho envolve muita coordenação de expectativas, demandas e possibilidades de adoção de missões, sempre em prol de atendimento das necessidades do cidadão brasileiro.

    É o momento de os integrantes do Sindae (governo, academia e indústria), assim como outros órgãos públicos, empreendedores, investidores, alinharem esforços para fortalecer, no Brasil, um pujante novo setor econômico de forte impacto também na abertura de oportunidades e na integração de nossa sociedade. (Do Jornal Pequeno)

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