Era dezembro de 2022 quando Flávio Dino, eleito senador pelo Maranhão, ouviu um conselho de um antigo parlamentar com amplo trânsito no mundo político e no Judiciário. Já anunciado para a pasta que teve entre seus titulares seis ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) desde a redemocratização, Dino recebeu a advertência de que, se não quisesse ver arruinadas suas conhecidas pretensões de um dia disputar a Presidência da República, ficasse no máximo um ano e meio à frente do posto no Executivo e pensasse em novos voos – um mandato forte no Senado ou mesmo uma cadeira no STF, também com data de saída.
O histórico recente do titular mais longevo da Justiça, José Eduardo Cardozo, por exemplo, foi lembrado na conversa como evidência de que a vaga no primeiro escalão poderia funcionar como uma máquina de moer carreiras políticas. Ex-deputado, ex-ministro e ex-advogado-geral da União, Cardozo hoje atua na advocacia privada. Ao ouvir as ponderações, Flávio Dino não esboçou maiores reações, mas, como se sabe, acaba de ter o nome aprovado como ministro do Supremo.
VEJA ouviu reservadamente o autor do conselho ao novo integrante da Suprema Corte, que não tem dúvidas de que Dino não permanecerá os 20 anos a que tem direito no tribunal porque, mesmo com a toga, ainda manteria o projeto de um dia comandar o Palácio do Planalto. “Acredito que fique no máximo oito anos”, disse sob condição de anonimato.
Na sabatina a que foi submetido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado na quarta-feira 13, Dino fez menção às especulações de que poderia usar o tribunal como trampolim, sentimento partilhado por boa parte do PT e de políticos que trabalhavam contra a indicação do auxiliar de Lula ao posto mais alto do Judiciário. “Sei do sacrifício que faria na minha vida política” ao assumir a cadeira da ministra aposentada Rosa Weber, disse aos senadores, para, momentos mais tarde, brincar com uma virtual volta à política “se tiver saúde até os 75 anos”, data de saída obrigatória no Supremo.
Saúde de Flávio Dino
Conforme revelou VEJA, em meados do ano, em um movimento longe do conhecimento de boa parte do Planalto, Flávio Dino fez chegar ao presidente, segundo um dos mais próximos ministros de Lula, que poderia “servir” ao governo no STF porque tempos antes tivera um pico de pressão, suas taxas estavam desreguladas e, por orientação médica e pedidos da família, havia sido aconselhado a desacelerar.
Depois do susto, Dino recebeu indicações para se consultar com dois médicos que, entre outros pacientes, atendem ministros do Supremo: o endocrinologista Maurício Hirata, do Corpo Clínico dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, e a cardiologista Ludhmila Hajjar, titular do Departamento de Clínica Médica da USP. Há alguns meses Dino passou a ser acompanhado por Hajjar. (Da Veja)