• Por que o União Brasil e o PP deram um mês para Fufuca e seus ministros saírem do governo Lula

    O desembarque do União Brasil e do PP do governo Lula, anunciado na última terça-feira (2), ampliou a pressão para que os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes) deixem suas pastas sob ameaça de expulsão. Mas não imediatamente. O ultimato dos partidos, que anunciaram no mês passado a formação de uma federação a ser confirmada na Justiça, deverá ser cumprido em até 30 dias. O motivo é garantir o cumprimento de acordos e liquidar emendas que ainda estão em processamento.

    De acordo com fontes ligadas ao presidente do União, Antonio Rueda, que comandará a federação, e ao do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), apesar das duras críticas ao governo do PT, as legendas pretendem aproveitar ao máximo seus feudos na Esplanada dos Ministérios antes de oficializarem o divórcio. “Resolver algumas coisas, acertar uns empenhos”, resume um integrante da cúpula da federação.

    Em 2024, a pasta do Turismo recebeu R$ 850 milhões em emendas parlamentares, enquanto a dos Esportes ganhou um aporte de R$ 1,3 bilhão – valores muito superiores ao orçamento previsto para os ministérios na Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano, em torno de R$ 3,1 milhões.

    Caso Sabino e Fufuca deixassem suas pastas ou fossem expulsos de imediato, não haveria tempo hábil para organizar a saída e empenhar o que falta.

    A ordem do dia é assegurar a arrumação da casa, destinar os recursos empenhados e manter os acordos em aberto com parlamentares, prefeitos e lideranças correligionárias.

    O movimento já vinha sendo calculado há meses, mas foi antecipado depois que o presidente Lula externou críticas a Rueda durante uma reunião ministerial e cobrou apoio dos ministros ligados ao Centrão. Até então, as legendas planejavam adotar uma definição apenas no ano que vem, às vésperas da definição das candidaturas, o que ampliaria consideravelmente o período no controle da máquina estatal.

    Ainda assim, como mostrou O GLOBO, aliados de Lula veem com ceticismo a possibilidade dos ministros filiados às siglas pedirem demissão. Sabino, deputado federal licenciado pelo União Brasil do Pará, e Fufuca, do PP do Maranhão, miram disputar o Senado Federal em seus estados em 2026 com o apoio do presidente, que deve disputar a reeleição.

    Outras duas indicações atribuídas ao União Brasil, Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), estão na cota do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), filiado a legenda. Góes está licenciado do PDT e Siqueira, por sua vez, não tem filiação.

    O presidente Lula almoçou ontem com Alcolumbre e Sabino, mas não fez nenhum anúncio oficial.

    Na semana passada, Sabino já havia se reunido com o petista e fez um último apelo a Antonio Rueda para permanecer no partido, mas teria ouvido do cacique que teria que se desfiliar do União Brasil para manter o cargo.

    Os dois partidos também mantêm indicações em diferentes estatais, mas justamente para que não seja obrigado a abrir mão delas, a nota da federação especifica que o desembarque vale para aqueles que tiverem “mandatos eletivos”.

    O PP, por exemplo, tem o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira. Nos bastidores, porém, a indicação é atribuída ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), o que deve mantê-lo no cargo.

    O momento escolhido para o anúncio também está umbilicalmente relacionado ao início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). A federação entre União e PP tem orbitado em torno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado como um dos potenciais herdeiros de Bolsonaro – o ex-presidente está inelegível até 2030.

    A ruptura também acontece como resposta de Ciro Nogueira às denúncias divulgadas pelo site ICL que apontam o suposto recebimento de propina do PCC por parte de Nogueira em um esquema desbaratado pela Polícia Federal (PF) na semana passada. De acordo com o portal, o relato foi oficializado em depoimento de uma testemunha anônima que teria ouvido a informação de Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco. (O Globo)

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