A possibilidade de o ministro Flávio Dino se tornar o relator no STF da Operação Overclean, que investiga o caso do “Rei do Lixo”, tem aterrorizado a cúpula do União Brasil.
Integrantes da sigla temem que Dino, que atua em processos ligados a emendas parlamentares, avance em relação a nomes como o do vice-presidente da sigla, ACM Neto, que já foi citado na investigação.
Sob reserva, caciques do União Brasil avaliam que a operação pode, por exemplo, prejudicar uma possível disputa de ACM Neto para o governo da Bahia nas eleições de 2026.
O ex-prefeito de Salvador perdeu a disputa ao governo baiano em 2022 para o atual governador do estado, Jeronimo Rodrigues (PT), aliado do presidente Lula.
Conforme noticiou o Metrópoles, na coluna de Mirelle Pinheiro, a Justiça Federal da Bahia pediu ao STF que Flávio Dino assuma a relatoria da Operação Overclean.
Até então, a presidência do STF havia designado como relator do caso o ministro Nunes Marques, que, embora tenha sido indicado por Jair Bolsonaro, é visto como mais pragmático que Dino.
Apesar do pedido da Justiça Federal baiana, as chances de o ministro Nunes Marques deixar a relatoria da investigação da Overclean é vista como remota dentro do Supremo.
Caso no STF
Como noticiou a coluna Fábio Serapião, no Metrópoles, a Polícia Federal enviou a Overclean para o STF após menções ao deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil-BA).
Conforme a coluna apurou, Elmar, que é um dos maiores líderes do Centrão, tem tentado se desvencilhar de possível citação na ação. Um primo do parlamentar, contudo, chegou a ser preso na operação.
Prisão e alvos
Chamada de Overclean, a operação da PF visa desarticular organização criminosa suspeita de envolvimento em fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro.
A ação mira desvios em contratos de empresas ligadas aos irmãos Fabio e Alex Parente e ao empresário José Marcos de Moura, o “Rei do Lixo”, com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, estados e municípios.
O primo de Elmar, os irmãos Parente e Marcos Moura foram detidos no dia 10 de dezembro. No entanto, eles acabaram soltos após decisão da desembargadora Daniela Maranhão, do TRF-1.
R$ 39 milhões em propinas no Maranhão
A Operação Overclean apura fraudes em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro em contratos de engenharia, com movimentações suspeitas que chegam a R$ 1,4 bilhão e mira desvios em contratos de empresas ligadas ao irmãos Fabio e Alex Parente e a José Marcos de Moura, o Rei do Lixo, com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, estados e municípios.
A Overclean passou a causar temor entre políticos após a PF apreender R$ 1,5 milhão, anotações e planilhas em um avião que viajava de Salvador para Brasília.
Documentos encontrados em um avião que transportava R$ 1,5 milhão apontado como dinheiro de propina pela Polícia Federal atrelam repasses intermediados por um operador alvo da Operação Overclean a R$ 170 milhões em supostos contratos com o município de São Paulo e os estados de Maranhão, Pará e Piauí.
Uma planilha apreendida pela Polícia Federal (PF) revela que o esquema de fraudes em licitações e desvio de recursos de emendas parlamentares liderado pelo empresário Marcos Moura, conhecido como o “Rei do Lixo”, alcançava pelo menos 12 estados, incluindo o Maranhão, e movimentava valores superiores a R$ 824,5 milhões.
O Maranhão aparece na planilha com um montante de R$ 39,3 milhões, posicionando-se entre os estados com os maiores valores identificados no esquema.
De acordo com a PF, junto com o dinheiro e outros documentos “havia planilha indicativa de valores, entidades, pessoas vinculadas e possíveis contratos com os Estados de São Paulo, Maranhão, Pará e Piauí, atrelados à sigla ‘CA’, a sugerir Carlos André como responsável pelos ajustes, que totalizam a importância de R$170 milhões”.
Segundo os investigadores, Carlos André aparece em conversas por aplicativo de mensagens com Alex Parente em que “solicita a realização de depósitos de vulto em contas de terceiros, sendo que muitos desses depósitos eram efetuados pela Empresa BRA Teles Ltda. ME”.
A BRA Teles é apontada pela PF como de fachada, cujas contas bancárias são utilizadas pelos irmãos Parente “majoritariamente” para “pagamento de propina para servidores, quando a logística não permite a entrega do valor em espécie”.
Carlos André também aparece em conversas com outros investigados na operação em que fala de “encomendas” a serem entregues “em sua casa, isto é, pessoalmente (afastando rastros), inclusive com menção à entrega de ‘robalos’”.