O colunista do UOL Chico Alves avaliou que o sucesso de Flávio Dino nas redes sociais e o prestígio com Lula trazem duas consequências imediatas ao ministro da Justiça: o desgaste de bolsonaristas e ciúmes dentro do PT.
“É bom ficarmos de olho, porque o ciúme dentro do PT deve começar a crescer. Ontem, foram muitas as manifestações nas redes sociais pedindo Dino como candidato em 2026 por causa dessa performance no Senado e de outras. Se há esse clamor nas redes sociais e o Lula está encantado, imagina a turma do PT que está na fila para se candidatar à Presidência em 2026. Deve haver um ciúme começando a brotar”, pontua Alves.
Chico destacou que o humor refinado de Dino, como exibido ontem ao ironizar o senador Marcos do Val (Podemos-ES), não apenas repercute nas redes sociais, mas é a “melhor ferramenta” para combater o discurso dos bolsonaristas.
“A melhor resposta a esse tipo de argumentação é com humor. É a melhor forma de desgastar esse personagem [Marcos do Val] e outros do bolsonarismo que estão ali esbravejando e contando mentiras”, avalia.
Lula vê em Dino ‘modelo’ a ser seguido no governo
Lula revela-se, em privado, encantado com o desempenho de Flávio Dino. Exalta duas características: a “proatividade” no Ministério da Justiça e a “combatividade” nas comissões do Congresso. O presidente se refere ao ministro como “modelo” a ser seguido na Esplanada.
O estilo e o linguajar rendem a Dino um subproduto muito valorizado no governo: engajamento nas redes sociais. Levantamentos internos mostram que ele é no momento o ministro mais bem posto nas plataformas digitais, habitat natural de Bolsonaro e seus devotos.
O desempenho de Dino nas redes é potencializado pela superexposição proporcionada pelos adversários. O ministro virou freguês de caderneta das comissões do Congresso. Foi convidado a prestar esclarecimentos quatro vezes em quatro meses. Tomou gosto. Na sua última performance, Dino foi presenteado pela oposição com a ribalta da Comissão de Segurança do Senado.
O ministro parece ter detectado o ponto fraco de bolsonaristas e assemelhados. Percebeu que os rivais, imaginando-se portadores de refinada ironia, engrossam logo que são confrontados com uma ironia mais hábil. Sempre que os rivais o tiram para dançar, Dino sai rodopiando.
Na comissão do Senado, o ministro ridicularizou o bolsonarista Macos do Val —”Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. Conhece o Capitão América? O Homem-Aranha?”—, enquadrou o ex-colega Sergio Moro —”Fui juiz e nunca fiz conluio com o Ministério Público, nunca tive sentença anulada”—, iluminou os calcanhares de vidro do primogênito Flávio Bolsonaro -“O senador falou sobre narcomilícia e é um tema que ele conhece muito de perto”— e invocou o testemunho do astronauta Marcos Pontes para reiterar ao bolsonarismo que a Terra é mesmo redonda -“De todos os brasileiros, só ele viu.”
Ao oferecer tantas oportunidades para a evolução de Dino nos salões do Congresso, a oposição esquece uma regra básica da política: quem tem calos não deve se meter em apertos. Melhor dançar sozinho. (Josias de Souza)