O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou não ter conseguido viajar para Rio Verde(GO), nesta sexta-feira (16/6), por causa do mau tempo. O petista pretendia inaugurar a Ferrovia Norte-Sul.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Lula aparece ao lado do ex-presidente José Sarney (MDB), responsável por iniciar a obra, em 1987.
“Hoje iríamos inaugurar juntos a ferrovia. Não deu, mas espero em breve visitar Rio Verde, ao lado de Sarney, para celebrarmos esse marco para o Brasil”, diz Lula na gravação.
Segundo o Planalto, o presidente aguardou por 1h20 na Base Aérea de Brasília, mas não chegou a decolar para Rio Verde e retornou para o Palácio da Alvorada.
“Estou aqui com o presidente Sarney na Base Aérea de Brasília, porque nós íamos para a cidade de Rio Verde de Goiás, inaugurar, finalmente, a conclusão da ferrovia Norte-Sul”, afirma Lula em trecho do vídeo.
O governador do Maranhão, Carlos Brandão, disse que a comitiva não conseguiu chegar em Goiás, em razão das condições climáticas, para a entrega da Ferrovia Norte-Sul. “Um projeto que começou ainda no governo Sarney e que finalmente está concluído. Sonhos não envelhecem e é por isso que esse momento é tão esperado e será celebrado”, afirmou.
Obra demorou décadas
A inauguração do terminal em Rio Verde marca a conclusão das obras da ligação ferroviária considerada a espinha dorsal do sistema brasileiro de transporte sobre trilhos. A ferrovia conecta os portos de Itaqui, no Maranhão, ao de Santos, em São Paulo.
As obras duraram mais de 35 anos. Começaram em 1987. Agora, em 2023, a ferrovia chegou a 2.257 quilômetros (km), atravessando quatro regiões. Até 2017 a ferrovia já tinha consumido R$ 28 bilhões em valores corrigidos pela inflação e órgãos de controle e fiscalização estimavam que pelo menos um terço tinha sido superfaturado. Cinco anos antes, a PF (Polícia Federal) deflagrou operação que revelou corrupção nas obras feitas pela Valec, estatal que detinha a concessão da ferrovia.
O terminal em Rio Verde é estratégico, já que o município goiano é um dos principais polos do agronegócio no Centro-Oeste.
Mais de 30 anos de obras
A Ferrovia Norte-Sul evoluiu pouco nas primeiras décadas de sua construção e só ganhou impulso a partir de 2007, quando passou a receber investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no segundo mandato de Lula.
Nessa época, o trecho de Açailândia (MA) a Porto Nacional (TO) foi concedido para operação pela VLI Logística. Já a empresa Rumo passou a gerir o tramo centro-sul da ferrovia, entre Porto Nacional (TO) e Estrela D’Oeste (SP), em um trecho de 1.537 km. No interior de São Paulo, a ferrovia se conecta com a Malha Paulista, que vai até o litoral.
A partir de 2019, a operadora logística Rumo passou a gerir o tramo Sul do empreendimento, com 1.537 quilômetros de trilhos. Nos últimos quatro anos, a Rumo construiu três novos terminais em São Simão (GO), Rio Verde (GO) e Iturama (MG). Segundo o governo, a empresa investiu R$ 4 bilhões em obras de infraestrutura, terminais e material rodante.
Além dos terminais, outras obras de infraestrutura foram necessárias para concluir a ferrovia, como a construção de quatro pontes entre Goiás, São Paulo e Minas Gerais, centenas de quilômetros de trilhos e inúmeros pátios, como o que faz a ligação entre as Malhas Central e Paulista na cidade de Estrela D’Oeste (SP).
Apesar do modal ferroviário ter recebido investimentos ao longo das últimas décadas, que somam mais de R$ 141,9 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o segmento ainda representa cerca de 21,5% do transporte de carga no país, inferior a países continentais como Rússia (81%), Canadá (34%), Estados Unidos (27%) e Austrália (55%).
De acordo com a ANTF, em 2021 mais de 93% do minério de ferro exportado chegou aos portos brasileiros por trilhos. O modo ferroviário responde pelo transporte de mais de 49% dos granéis sólidos agrícolas exportados e, no caso do açúcar, esse índice é de quase 53%. No transporte de milho, a ferrovia escoa 58% da produção, e no complexo de soja (soja e farelo) as ferrovias transportaram mais de 46% do volume exportado.