• Como no tempo do Sarney

    Estive no supermercado e todo mundo reclamava do preço da carne. Lembrei logo do ex-presidente Lula, que anda curtindo a vida com sua nova namorada, lá no ensolarado nordeste. Lula fazia palestras onde explicava “como tinha colocado a carne na mesa do trabalhador”. Quem sabe, um dia, em um futuro bem próximo, o presidente Bolsonaro dará palestras onde explicará aos ouvintes, “como tirou a carne da mesa do trabalhador”.

    Quem viver verá. Um açougueiro, entrevistado em um programa de TV, disse que os preços estão subindo tão rápido que ele nem coloca mais o valor em cima das peças. E lembrou o tempo da hiperinflação, durante o governo José Sarney. Lá no final da década de 1980. Naquela época o Brasil viveu um período de inflação descontrolada, onde a moeda perdia o valor de um dia para o outro.

    O governo, na época, tentou tabelar os preços. E pediu a ajuda do povo para fiscalizar. Eram os autoproclamados fiscais do Sarney. Que ameaçavam fechar supermercados que não seguissem a tabela do governo. A crise do governo Sarney levou à tragédia que foi o plano Collor, que confiscou a poupança de milhares de pessoas, que, no final, receberam de volta apenas uma fração do que tinham poupado. E todo mundo sabe como foi que terminou o governo Fernando Collor.

    Dizem que a culpa pela hipervalorização da carne são as exportações para a China. Como os chineses estão comendo muita carne brasileira o preço do produto disparou. Tem muita gente mudando seus hábitos alimentares e a turma dos veganos está se lixando para isso. Há muito tempo que eles já substituíram a carne por outras fontes de proteína.

    A minoria, de alto poder aquisitivo, também não se preocupa com isso. O que me lembra o falecido jornalista Paulo Francis. Francis era cronista de um jornal carioca e geralmente escrevia sobre política internacional. No início dos anos 80 ele resolveu seguir o slogan da ditadura que dizia: “Brasil, ame-o ou deixe-o” e se mudou para Nova Iorque. Em Nova Iorque, morando em um apartamento na ilha de Manhattan, ele escreveu crônicas onde elogiava o sabor e a textura do bife texano que ele comia nos restaurantes nova-iorquinos. É o privilégio da elite, se a carne brasileira é cara, vá para Nova Iorque, curtir o Réveillon gelado de Manhattan e comer o bife made in Texas do Paulo Francis.

    Paradoxo

    Vivemos um paradoxo. O Brasil destruiu boa parte de suas florestas para criar pasto para o gado. E a carne, que deveria ser barata, virou artigo de luxo. E a coisa deve piorar. O real, que foi criado para ser moeda forte, está se desvalorizando cada vez mais. Na semana passada ele ultrapassou o patamar dos 4,25 dólares. O que lembra o que aconteceu com o cruzeiro e o cruzado nos tristes tempos do Sarney e do Collor de Melo. Se o dólar sobe, todos os produtos que dependem dele, como a gasolina, o óleo diesel e o trigo, também sobem. Se o preço do óleo diesel subir sobe tudo. Porque no Brasil tudo é transportado pelas carretas. Sem falar no preço do trigo, do qual depende aquele pãozinho que comemos no nosso café da manhã.

    Mas, o presidente da República não parece preocupado com isso. No último fim de semana ele esteve em Resende, onde inaugurou um novo equipamento para enriquecer urânio. E seu ministro da Minas e Energia anunciou que aquela obra interminável, da usina de Angra 3, só vai ficar pronta em 2026! Há alguns anos, mais precisamente em 2015, eu descrevi aqui nesta coluna uma usina nuclear de brinquedo.

    A Westinghouse da Revell. E comentei que com ela o leitor poderia montar uma usina nuclear em três dias, coisa que o governo brasileiro não conseguiu fazer em 40 anos.

    Na época a assessoria de imprensa da Eletronuclear enviou uma nota, garantindo que Angra 3 ia ficar pronta em 2018. Erraram feio! (Por Jorge Calife)

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