• ‘Discuti, sim’, diz Bolsonaro sobre decretação de estado de sítio e uso do artigo 142 para invocar militares

    O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou, em entrevista na noite desta quinta-feira, que debateu com os comandantes das Forças Armadas a possibilidade de decretação de estado de sítio ou de estado de defesa, além do uso do artigo 142 da Constituição para invocar uma ação militar. Bolsonaro, no entanto, alegou que “o que está dentro da Constituição você pode utilizar”, numa tentativa de rebater a acusação de que arquitetou um golpe de Estado, motivo pelo qual foi indiciado pela Polícia Federal.

    Em depoimentos à PF, os ex-chefes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro relataram uma reunião na qual Bolsonaro apresentou planos que visavam ao impedimento da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    — Os comandantes das Forças falam que “Bolsonaro discutiu conosco hipóteses de (artigo) 142, estado de sítio, estado de defesa”. E eu discuti, sim. Não foi nenhuma discussão acalorada. (…) Golpe usando a Constituição? O que está dentro da Constituição você pode utilizar — afirmou Bolsonaro ao programa “Oeste sem filtro”, da Revista Oeste.

    Bolsonaro voltou a defender também a aprovação de uma “anistia” para investigados por tentativa de golpe, sem especificar a quais casos se referia. Em outras ocasiões, ele já afirmou que seu objetivo seria o de anistiar pessoas presas pela invasão à sede dos três Poderes no 8 de Janeiro. Após o indiciamento do pai, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) defendeu uma anistia “ampla”.

    O ex-presidente argumentou que “se quiserem pacificar” o país, o presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos envolvendo tentativa de golpe, poderiam se posicionar a favor de uma anistia e “zera o jogo daqui para frente”.

    — Se tivesse uma palavra do Lula ou do Moraes sobre anistia estava tudo resolvido — afirmou.

    Ida a embaixada

    Bolsonaro também relembrou, na entrevista, o episódio em que passou duas noites na embaixada da Hungria em Brasília, no início deste ano, após ter o passaporte apreendido em meio às investigações da PF. O ex-presidente disse que “foi lá para conversar, e ponto final”.

    Mais cedo, em outra entrevista, ao portal Uol, Bolsonaro não descartou a possibilidade de buscar um novo refúgio em alguma embaixada, caso tenha prisão decretada.

    — Fui lá para conversar, ponto final. (…) Queriam me prender porque entrei na embaixada sem passaporte. Eu não sabia que precisava se passaporte para entrar em embaixada — alegou Bolsonaro à Revista Oeste.

    Na entrevista, o ex-presidente disse ainda que “mandou um zap” cumprimentando o ex-presidente Michel Temer por uma declaração na qual minimizou o plano golpista investigado pela PF. Bolsonaro também disse ter orientado deputados aliados a elogiarem o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após ele defender parlamentares bolsonaristas que foram alvos de indiciamento pela PF.

    O ex-presidente reforçou, na entrevista, que um de seus focos na eleição de 2026 é o de ampliar o número de bolsonaristas no Senado — que é responsável, entre outras atribuições, por analisar pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Bolsonaro, “os poderes estão desequilibrados” pelo fato de o governo Lula ter maioria no Senado, ao passo que na Câmara “está o Lira lá, meio que resistindo”.

    Anistia

    O ex-presidente Jair Bolsonaro seu apelo para uma anistia e negou as acusações imputadas a ele pelo relatório da Polícia Federal (PF). O documento o coloca, junto com outras 36 pessoas, como responsável por um tramar um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se manter no poder.

    Bolsonaro afirmou que apenas um perdão aos excessos que resultou na intentona golpista de 8 de janeiro pode pacificar o País, comparando o momento com a promulgação da Lei de Anistia, durante a ditadura militar, em 1979.

    “Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder? O senhor Alexandre de Moraes. A anistia, em 1979: eu não era deputado, foi anistiada gente que matou, que soltou bomba, que sequestrou, que roubou, que sequestrou avião, e ‘vamos pacificar, zera o jogo daqui para frente’. Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre de Moraes no tocante à anistia, estava tudo resolvido. Não querem pacificar? Pacifica”, afirmou o ex-presidente, que seguiu: “Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal, eu apelo. Por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado”, concluiu.

    O ex-chefe do Executivo mencionou ainda sua satisfação com a declaração do também ex-presidente Michel Temer (MDB), que minimizou, na última segunda-feira, 25, as revelações da PF sobre a suposta trama golpista, e reafirmou sua tese de que “ninguém vai dar golpe com um general da reserva e meia dúzia de oficiais”.

    Ele classificou o relatório da PF como uma “peça de ficção” e comentou as discussões ocorridas no final de seu governo. Segundo o ex-presidente, reuniões com os comandantes das Forças Armadas aconteceram após o ministro Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), multar o PL em R$ 22 milhões por questionar parte das urnas eletrônicas no segundo turno.

    “Você vê até os depoimentos dos comandantes de Força. Eles falam que o Bolsonaro discutiu conosco hipóteses de (artigo) 142, de estado de sítio, de estado de defesa. Eu discuti, sim, conversei, não foi uma discussão acalorada”, reconheceu.

    Bolsonaro afirmou que após a aplicação da multa discutiu com aliados as alternativas possíveis dentro das “quatro linhas da Constituição”. Segundo o ex-presidente, diante do risco de uma multa maior ou até da cassação do registro do partido, decidiram abandonar a ideia, reconhecendo que não havia chances de sucesso em questionar o sistema eleitoral.

    Bolsonaro ainda comparou sua situação com a de perseguidos políticos na Venezuela, Nicarágua e Bolívia. Na sua visão, querem arrumar uma maneira de o “tirar de combate”.

    “Alguns acham até que não é nem tornar inelegível por mais tempo ou uma condenação. Querem é executar. Vou acabar sendo um problema para eles trancafiado”, disparou.

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