Por Carlos Andreazza(O Globo)
André Fufuca, ministro do Esporte, está em campo. Esteve até distribuindo medalhas, como se emendas Pix, na final da Copa do Brasil. Está em campo e em todas, donde as entrevistas que tem dado — e que o cronista coleciona.
É falador. Lula não se poderá vender por surpreendido no futuro. Pôs mais um juscelino-filho — mais um bocado de personificação do orçamento secreto — para dentro. Mais um representante de Arthur Lira no ministério, encarnação de uma cultura que prospera no Congresso. Expositor generoso da lógica lirista de ocupação do poder e das chances de o Planalto constituir base estável, via lirismo, no Parlamento.
Ao GLOBO, declarou:
— Não saberia lhe precisar [quantos dos 49 votos a bancada do PP garantiria ao governo] com correção, até porque é uma questão mais pontual. Porém eu tenho como pensamento que o partido manterá o apoio que vem mantendo.
O ministério que ganhou é concreto. O apoio que assegura, um “pensamento”. Destaque à “questão mais pontual”:
— O partido manterá o apoio que vem mantendo.
Operação sui generis. O Planalto oferta mais e mais terrenos em troca do que já tinha. Tinha nada. A velha “questão mais pontual”, a da base de apoio episódica; aquela com que se comercia caso a caso, projeto a projeto, emenda por emenda.
Questionado se estaria satisfeito com o ministério que levou, disse:
— Eu acredito no potencial da pasta que a gente está à frente (sic). Acho que o Ministério do Esporte tem uma capilaridade muito forte. Tem uma entrega muito forte e, se houver apoios necessários do Executivo, a gente tem como fazer um brilhante trabalho aqui.
“Capilaridade muito forte” e “entrega muito forte”. Capilaridade é presença e alcance. A pasta tem potencial. A “entrega muito forte” — o preenchimento dessa capilaridade — dependendo dos “apoios necessários do Executivo”. Traduzo: orçamento crescente e fluente.
Fufuca é transparente. Entende tanto de políticas públicas para o esporte — expressão da baixa qualidade técnica da reforma ministerial — quanto Jorge Sampaoli sobre o que fazer com os jogadores do Flamengo num jogo de futebol. Sabe nada da pasta que ganhou. Sabe tudo do que quer — e poderia ser qualquer ministério (superfície):
– Nós temos projeto de ampliar secretarias. Ter secretaria voltada ao empreendedorismo, ter diretoria voltada a questões sociais, esporte, jogos. Temos um projeto amplo de fortalecimento e ampliação do ministério que a gente espera ter a sensibilidade do Executivo para tornar realidade. Tem essa construção. Estamos terminando de construir para passar o mais rápido possível para o presidente da República.
Ampliar secretarias. Mais cargos. Mais área de influência. Um “projeto amplo” para “ampliação do ministério”. Muita escala. Um projeto de crescimento da pasta, só possível com a “sensibilidade do Executivo”. O “fortalecimento”: grana. Na entrevista, Fufuca usa o verbo construir seis vezes. Construir é ampliar; erguer. Não bastará ter capilaridade. Tem de ocupar. Fisicamente.
Ao Estadão, cuidou do que seriam suas prioridades:
— Sem sombra de dúvida, tentar democratizar o espaço de qualidade do esporte. Temos um déficit absurdo de estrutura física de esporte no Brasil inteiro.
Democratizar: construir. “Democratizar o espaço de qualidade.” Tem de ser palpável e caprichado. As sobras do orçamento secreto já se empenham para levantar “estrutura física” — uns estádios — no Maranhão do ministro.
Como produzir esse “espaço de qualidade do esporte”?
— Primeiro, entrega de orçamento. Para ter estrutura, tem que ter orçamento. Então, a primeira coisa que a gente tem que fazer é ter o apoio do Executivo e correr atrás de orçamento no Legislativo. Isso a gente já está trabalhando para fazer.
Ora: “correr atrás de orçamento no Legislativo” — e nem precisará correr tanto assim, o ex-líder do PP na Câmara — é robustecer o ministério por meio de emendas parlamentares.
Há, porém, muita insatisfação sobre demora na liberação de emendas. Qual o plano para reverter essa dificuldade?
— Primeiro, ampliar o setor responsável por isso aqui. O setor de assessoria parlamentar que tem aqui e o setor que trata de meta é muito deficitário. Tem pouco funcionário. A primeira coisa é fortalecer isso para que a gente possa dar vazão. O ministério tem que ter entrega, tem que ter obras rápidas. Você não pode ficar aguardando uma vida para entregar uma obra.
Ampliar o setor, aumentar o corpo do ministério, para dar vazão à demanda por dinheiros e responder ao “déficit absurdo de estrutura física de esporte”. Construir. Ampliar. Fortalecer. Entregar. Estruturas físicas. Obras. Obras rápidas.
Fufuca até poderá ser ministro de Estado um dia. Hoje é lobista do lirismo — negociador (construtor) de espaços — dentro do governo.