• Lula quer dar rasteira no PCdoB e no PSOL

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quinta-feira em reunião do diretório nacional do PT que o partido lance o maior número possível de candidaturas próprias em cidades importantes nas eleições municipais de 2020. A orientação vai na contramão das negociações que a legenda vem fazendo para apoios ao PSOL e ao PCdoB, no Rio e em Porto Alegre, respectivamente.

    Ao mesmo tempo, Lula e seus aliados tentam se aproximar de Marta Suplicy, que rompeu com o PT em 2015.  São levantadas as possibilidade tanto de Marta voltar à sua antiga legenda para ser a candidata em São Paulo como de ela se filiar a outro partido para ser a vice em uma chapa encabeçada por um petista. O PT do Rio vinha dando como certo nos últimos meses o apoio a Marcelo Freixo (PSOL) no ano que vem.

    Nesta quinta-feira em seu discurso, Lula disse que o PT poderia lançar a candidatura da deputada federal Benedita da Silva. Ressalvou, porém, não ter nada contra um apoio a Freixo. De acordo com participantes, o ex-presidente quer que o PT tenha candidatas para poder defender “a sua honra, o seu legado e suas propostas”.

    — Ninguém vai defender o PT como o PT defenderia — discursou Lula, dando a tender que a eleição municipal deve servir como uma prévia de 2022.

    Lula disse que o país vive um “momento histórico excepcional” por causa dos problemas enfrentados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. Além do Rio, Lula também citou a necessidade de candidatura em Porto Alegre, onde o PT negocia apoio à Manuela D´Ávila (PCdoB). Ele lembrou que o partido já governou o Rio Grande Sul duas vezes e a própria capital gaúcha por quatro mandatos.

    O ex-presidente citou ainda a necessidade de candidatura em Salvador. O partido está no quarto mandato na Bahia. Também indagou os mineiros presentes sobre uma candidatura em Belo Horizonte.

    Alguns aliados avaliam que, ao discursar em nome das candidaturas, próprias Lula tenta, na verdade, dar mais cacife ao partido e vender mais caro eventuais apoios. Seria uma forma de garantir que os candidatos de outras siglas abram espaço, por exemplo, no horário eleitoral para o ex-presidente.

    Freixo esteve no evento em que Lula discursou na frente da sede do Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, um dia depois de ser solto. A disputa em São Paulo não foi citada. Mas, na véspera, em entrevista ao blog Nocaute, Lula disse que Marta “foi a melhor prefeita” que a cidade já teve.

    — Se ela quiser voltar ao PT, da mesma forma que ela saiu, ela pede para entrar — afirmou o ex-presidente.

    Antes do discurso de Lula na reunião desta quinta-feira, o cientista político Alberto Carlos Almeida apresentou pesquisas sobre o cenário eleitoral. Com relação à disputa em São Paulo, Almeida mostrou números indicando que Marta e o ex-prefeito Fernando Haddad seriam nomes fortes.

    De olho na disputa presidencial de 2022, Haddad tem se recusado a disputar a prefeitura. Depois de ser ministra do Turismo no governo Lula e da Cultura no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, Marta deixou o PT em 2015 dizendo não ter como “conviver com a corrupção”. Em 2016, votou a favor do impeachment de Dilma.

    O seu possível retorno desagrada dirigentes, mas teria apoio da base. Indagado se a ex-ministra poderia ser perdoada pelo que já falou sobre a sigla, Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do partido, afirmou:

    — Eu sou cristão.

    A presidente do PT, Gleisi Hoffmann,  que esteve com Marta recentemente, descarta o retorno.

    — Eu não penso que ela vá voltar para o PT. Nem da parte dela nem da parte do PT teria muita liga neste momento. Mas ela quer se conservar no campo da centro-esquerda.

    Gleisi admite, porém, a possibilidade de a ex-prefeita ser vice de um candidato petista. O certo, segunda ela, é que o partido terá candidato próprio na maior cidade do país.

    — (Marta) Poderia compor com certeza (como vice).

    Sobre as alianças, Gleisi disse que podem haver exceções dentro da proposta de Lula de priorizar nomes próprios.

    — O que o presidente quis chamar a atenção é para o PT não ficar acuado, achando que não tem condições de disputar espaço — disse.

    A presidente do PT acredita que um apoio a Marcelo Freixo no Rio é possível.

    — Nós continuamos conversando com o PSOL. O presidente (Lula), inclusive, pediu que eu marcasse com o (presidente do PSOL) Juliano (Medeiros) e  com o Freixo para discutir sobre o Rio. Podemos ter uma coligação com o PSOL. O Globo

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