• PF suspeita de fraude dentro da Codevasf para beneficiar empresa com sócio oculto

    Folha de SP – A Polícia Federal suspeita que tem origem na Codevasf um esquema de fraude em licitações com verba federal para beneficiar a Construservice, empreiteira que utiliza laranjas e tem como sócio oculto o empresário Eduardo José Barros Costa, também conhecido como “Eduardo DP” ou “Eduardo Imperador”.

    Os investigadores levantam a hipótese de que as licitações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba são apenas meios de formalizar o direcionamento da verba à empresa.

    Costa foi preso nesta quarta-feira (20) pela PF durante a operação Odoacro, que apura suposto desvio e lavagem de dinheiro a partir das disputas manipuladas na estatal.

    Na investigação, os agentes destacam revelação da Folha, publicada em maio, de que o empresário foi recebido pelo presidente da empresa pública, Marcelo Moreira, mesmo sem constar no quadro societário da empreiteira.

    A PF avalia que Costa tinha fácil acesso à cúpula da estatal. Também cita que empresas de fachada e ligadas à Costa disputaram algumas das obras entregues para a Construservice.

    Como revelou a Folha, mesmo sem constar no quadro societário da empreiteira, Costa foi recebido pelo presidente da Codevasf na sede da companhia, em 16 de dezembro de 2020.

    A Codevasf não confirma os participantes do encontro, mas integrantes da estatal dizem que o empresário preso pela PF representou a empreiteira naquela data. Via Lei de Acesso à Informação, a empresa pública também negou dados sobre a reunião e afirmou que as catracas da estatal “estão obsoletas” e não guardam adequadamente os registros de entrada e saída.

    A Polícia Federal abriu inquérito em 2021 para apurar supostas fraudes em licitações, entre outros crimes.

    A investigação ganhou fôlego após a Folha revelar o encontro de Costa e Moreira, além de mostrar que a empresa, a segunda que mais recebe verbas da companhia sob Bolsonaro, entregou obras precárias.

    Os agentes da Polícia Federal levantaram indícios de que o grupo de Costa atuava com seis empresas de fachada e seis laranjas. Também avaliam que algum servidor da Codevasf participa do suposto esquema.

    Os investigadores apontam que há um padrão nas fraudes: sempre envolvem verbas da Codevasf.

    A Polícia Federal detectou ligações entre as empresas de fachada, como nomes que constaram em mais de um quadro societário.

    Na apuração, a PF também aponta que o sócio de uma das empresas tem ao menos 12 veículos, a maioria de luxo, cadastrados em endereço da mãe e de um irmão de Costa.

    Os policiais citam aumento exponencial da difusão de relatórios de inteligência financeira envolvendo a Construservice a partir de 2020, quando a empresa passa a receber mais verbas públicas.

    Todos os contratos da empreiteira com o governo federal foram firmados após 2019, ou seja, no governo Bolsonaro.

    Desde 2019, o governo já reservou para a empreiteira ao menos R$ 160 milhões, tendo desembolsado R$ 14 milhões disso até agora.

    A PF avalia que Costa já havia utilizado uma rede de empresas de fachada para ganhar licitações com verba estadual, no Maranhão.

    O mesmo esquema teria se replicado na Codevasf, mas com novas empreiteiras.

    A PF se debruçou sobre dois convênios para pavimentações de R$ 5 milhões na cidade de São Francisco do Maranhão. Três empresas supostamente ligadas a Costa foram inabilitadas das disputas pelas obras.

    Estas empreiteiras nem sequer apresentaram histórico de funcionários registrados, segundo as apurações.

    Os investigadores ainda suspeitam que o esquema criminoso seja maior por causa do grande volume de recursos sem lastro movimentado pelas empresas.

    Um dos indícios é de que mais de R$ 12,4 milhões teriam sido repassados pela Construservice a empresas que teriam relações com o empresário.

    ​Turbinada por bilhões de reais em emendas parlamentares, a Codevasf é uma estatal federal entregue pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao controle do centrão em troca de apoio político.

    A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira 16 mandados de busca e um de prisão durante a operação. Agentes apreenderam cerca de R$ 1,3 milhão em dinheiro nas buscas, além de itens luxuosos, como relógios importados.

    A defesa de Eduardo Costa afirma que a prisão dele é ilegal e desnecessária.

    Segundo os advogados, “tudo o que há nos autos do inquérito policial em curso é fruto apenas do início da investigação e da visão unilateral da Polícia e do Ministério Público sobre os fatos” e que Costa “nunca sequer foi notificado para falar, apresentar documentos e/ou quaisquer outras manifestações defensivas”.

    “A partir de agora, [Costa] colabora com a investigação — que corre em segredo de justiça — esperando ter a oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos, com os quais demonstrará sua inocência”, completa a defesa. ​

    Em nota, a Codevasf diz que os convênios que motivaram a ação da PF não são de responsabilidade da estatal.

    “Em qualquer caso, no contexto da execução de convênios, compete às prefeituras municipais realizar os procedimentos licitatórios e as contratações necessárias ao emprego adequado de recursos orçamentários”, afirma a empresa pública.

    A estatal declarou que colabora com o trabalho da PF e submeterá à avaliação de sua auditoria interna todos os contratos firmados com a Construservice.

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